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6. Considerações Finais

Este trabalho se dedicou a analisar a sentença da corte interamericana, referente ao caso Araguaia, em que o Brasil foi réu pela violação de inúmeros direitos de opositores do regime militar brasileiro e de camponeses que habitavam a região, frente aos princípios estabelecidos da Justiça de Transição. Desta forma se procurou demonstrar que a sentença, é um importante marco para o país no sentido de suas políticas em relação ao seu passado ditatorial, pois determina mudanças relevantes em relação ao tratamento que é dado hoje no país as famílias daqueles que lutaram contra um período obscuro e cruel de nossa história.

No item 1. procurou-se demonstrar o surgimento do debate a cerca do tema da Justiça de transição no cenário internacional, com o crescimento do reconhecimento dos direitos humanos. Esta atenção se deu devido ao grande numero de governos autoritários que surgiram no período pós-segunda guerra. Com a transição destes países a democracia, o contencioso sobre as graves violações de direitos humanos cometidas neste período ganhou volume e a sociedade internacional teve de preocupar-se em como lidar com esta transição. Para tanto, determinou-se princípios que deveriam ser seguidos a fim de satisfazer as demandas de direitos humanos nestes países. Estes princípios estabelecem metas a serem atingidas que devem respeitar a realidade de cada Estado.

Tendo em vista a atuação positiva da Corte Interamericana neste sentido em países vizinhos e a demanda sobre o Caso Araguaia respectivo ao Brasil, se procurou apresentar no item 2. O funcionamento do Sistema Interamericano de proteção aos

direitos humanos, demonstrando o papel da Comissão e da Corte. Em seguida se faz a abordagem sobre como o tema dos direitos humanos em períodos de exceção vem sendo tratados por este tribunal.

Com isso, aprofundou-se sobre o contexto da ditadura militar brasileira. Demonstrando em que contexto se deu o golpe que levou os militares ao poder e a dura realidade que as pessoas que se opunham ao regime enfrentaram. Em um conturbado contexto político milhares de brasileiros forma mortos ao lutar por um país livre e justo. Um dos casos mais emblemáticos deste período foi o que ficou conhecido como a Guerrilha do Araguaia. Justamente sobre este episódio que trata a sentença da Corte estudada neste trabalho.

A corte interamericana de direitos humanos, ao elaborar suas sentenças, considera as responsabilidades assumidas pelos Estados signatários dos tratados de direitos humanos vigentes no continente. O principal destes é a Convenção Interamericana sobre direitos humanos. O Brasil é membro deste acordo, como também reconhece a Corte e sua jurisdição. Portanto cabe a Corte julgar o Estado em relação as violações cometidas em relação aos seus compromissos internacionais.

A Justiça de transição é uma vertente dos direitos humanos, uma vez que seus critérios visam o melhor estabelecimento de uma sociedade democrática em países que tenham passado por períodos de violência, ou terror de Estado, como o caso do Brasil durante a ditadura. Tendo em vista a matéria em que atua a Corte é natural que se atendam alguns dos princípios da Justiça transicional ao se avaliar as condições de respeito aos direitos humanos dentro do país.

Contudo, se observa que a sentença da Corte não abrange todos os níveis pretendidos pelos critérios da Justiça de Transição. Como por exemplo, as reparações simbólicas a nível de conhecimento e educação em relação a história recente do país e sobre o real significado das lutas sociais por liberdade e justiça, para as futuras gerações. Outro ponto esquecido pela Corte é o referente às reformas institucionais, que nunca foram realizadas no país. Se abordou o contexto em que eram decididas as leis na época da ditadura, e como ocorreu a transição para a democracia no Brasil. Não se pretende com a atual situação se estabelecer uma política revanchista, no sentido de realizar uma caça as bruxas, condenando indiscriminadamente todos aqueles que participaram de alguma maneira do regime militar brasileiro. Reconhece-se o valor da Anistia, e seus pontos positivos, como o retorno dos exilados para sua pátria natal. O que não se admite é que responsáveis por graves crimes contra a humanidade estejam

livres e se valham de um benefício do qual não são dignos. Isso se afirma dado o caráter de crimes imprescritíveis e inanistiáveis que é atribuído as graves violações de direitos humanos.

Muitas das reivindicações daqueles que trabalham e lutam pela afirmação dos direitos humanos no Brasil, especialmente no tocantes as vítimas da ditadura, são atendidas com a sentença da Corte. Porém cabe atentar, que a decisão, ainda que tenha caráter vinculante e se atribua a esta obrigatoriedade, ainda não foi cumprida pelo país. Cabe agora que seja feito o monitoramento das ações do Estado, para que este cumpra com suas obrigações e caminhe para a construção de um real Estado democrático de direito, onde todas as pessoas possam reconhecer neste um garantidor do direitos humanos.

Dessa maneira, conhecendo o passado, a sociedade pode se reconhecer nos princípios que nos trouxeram até aqui. E somente com o respeito aos direitos fundamentais de todo ser humanos é que se caminhará para a construção de um Estado que prime pelos direitos de todos que se encontram sob sua proteção.

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