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A trajetória da forma familiar de produção agropecuária no Brasil caracteriza-se pela permanente luta pela consolidação do espaço produtivo diante das dificuldades impostas pelo modelo de desenvolvimento experimentado pelo País. Dessa condição resultou a formação de um segmento heterogêneo, cujo universo é profundamente diferenciado, tanto do ponto de vista econômico, como sócio-cultural. Sua reprodução e fortalecimento esta condicionada à dinâmica das lutas sociais no campo, cujos desdobramentos definem, em última análise, as formas de inserção da organização familiar na estrutura da produção agrícola no Brasil.

São unidades com tamanhos variados que exploram intensamente os recursos disponíveis, combinados em diferentes sistemas de produção sob distintas formas de organização: de modelos tipo individual-familiar, passando por arranjos mais simples de cooperação, através de associações ou cooperativas de prestação de serviços, até algumas experiências de coletivização parcial ou total dos meios disponíveis, através das cooperativas de produção.

Cada sistema apresenta diferentes combinações de pontecialidades e limitações de acordo com as condições edáfo-climáticas, socioeconômicas e culturais de cada região; e com as especificidades das possíveis associações de atividades agrícolas e não-agrícolas num contexto de crescimento da pluriatividade e emergência da agregação de valor aos produtos in natura através do beneficiamento.

O papel e a importância da produção familiar dentro da atual configuração do setor agrícola brasileiro, apesar de possuir uma dimensão nacional, apresenta um recorte regional, cuja sustentabilidade econômica fundamenta-se, sobretudo, na amplitude das políticas públicas voltadas à ampliação e fortalecimento deste segmento, e nas potencialidades de cada sistema de produção associadas às possibilidades de inserção em mercados regionais pouco ou não explorados pelos complexos agroindustriais, os quais localizam-se, predominantemente, no entorno das unidades produtivas, nas pequenas e médias cidades do país.

Conquista - Barra do Choça, a crescente revitalização da organização política dos trabalhadores rurais, combinada à incipiente implementação de programas que visam estimular a inserção das pequenas propriedades na produção cafeeira e no desenvolvimento de outras atividades - a partir do apoio à organização de associações para obtenção de crédito e prestação de serviços - abrem novas possibilidades de desenvolvimento da forma familiar de produção, após um intenso processo de expropriação intensificado pela implantação da monocultura do café.

No Assentamento Cangussu, a dinâmica dos sistemas de produção aponta três tendências gerais. A progressiva elevação dos níveis dos rendimentos obtidos com a produção nos lotes e, conseqüentemente, a melhoria das condições de vida das famílias, cuja renda agrícola passa a constituir a maior parcela da renda total.

A diminuição da diversificação da produção nos lotes e a elevação do grau de eficiência dos sistemas de produção, na medida em que as famílias buscam a consolidação de uma combinação otimizada – e em alguns casos integrada - de tipos de subsistemas de cultivo e subsistemas de criatórios que assegurem a reprodução dos sistemas, a segurança alimentar e a integração positiva no mercado regional.

A crescente individualização do processo produtivo. Na medida em que evoluem os sistemas de produção nos lotes individuais, as áreas de produção coletiva, para as quais dedica-se um dia de trabalho por semana, vão gradativamente sendo colocadas em segundo plano até o abandono definitivo por parte da grande maioria das famílias. A despeito das orientações do MST e do acúmulo de experiências em práticas coletivas vivenciadas ao longo do processo da luta - que possibilita maior grau de confiança nas formas de cooperação – constata-se que a experiência de trabalho durante a trajetória de vida dos assentados, baseada na organização familiar, ainda se sobrepõe às praticas coletivas, de modo que as formas de cooperação têm sido instrumentos complementares adotados cada vez menos, apenas em situações pontuais.

O isolamento limita as possibilidades de evolução da eficiência e sustentabilidade socioeconômica dos sistemas de produção, na medida em que dificulta a integração com o mercado de forma direta, eliminando os atravessadores, e a incorporação de avanços

tecnológicos que permitiriam a agregação de valor aos produtos, como no caso da secagem e beneficiamento do café.

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