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Figura 1. Assentamentos na Região Sudoeste da Bahia Fonte: IBGE, SEI, INCRA apud. SOUZA; DINIZ, 2002, p.14

Além da conquista de assentamentos rurais, a crise do café estimulou outras formas de recorrência à garantia da produção de subsistência visando à segurança alimentar, entre as quais: a tradicional fragmentação das pequenas propriedades, que passam a ser parceladas por relações de meia, ou partilhadas entre os membros das famílias; a organização do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que luta pela permanência na terra através do fortalecimento da agricultura camponesa; e a organização do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), que reivindica a desapropriação de áreas no entorno das cidades, que possibilitem a moradia com acesso a terra para a subsistência, associada ao trabalho em outras atividades, evidenciando a emergência da pluriatividade.

Concomitantemente a esse processo de organização e recriação do campesinato na região, inicia-se a partir de 1997 a implantação de novos programas de financiamento e revigoramento das lavouras de café, e estímulo à diversificação da produção agropecuária.

Esses programas contam com a intervenção integrada de diversas instituições como a o BNB, a UESB, a EBDA e o SEBRAE, além das Prefeituras dos municípios envolvidos, as quais buscam amenizar os efeitos da prolongada crise enfrentada pela cafeicultura e diminuir gradativamente à dependência da economia regional da monocultura do café, que ainda responde por mais de 20 mil empregos diretos em Vitória da Conquista e cerca de 83% da atividade econômica e ocupação da mão-de-obra no município de Barra do Choça.

Entre as iniciativas implementadas, destaca-se os investimentos em novas tecnologias, e o desenvolvimento de pesquisas científicas, visando à redução de custos e a melhoria da qualidade e produtividade do café; além do estímulo à inserção das pequenas propriedades na produção cafeeira e no desenvolvimento de outras atividades, a partir da organização de associações para obtenção de crédito e prestação de serviços.

Muitos camponeses passaram a dividir suas terras com seus filhos, para que estes também pudessem obter crédito para instalação de suas próprias lavouras e criatórios, intensificando o processo de fragmentação das pequenas propriedades e a diversificação produtiva.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento e Expansão Econômica de Barra do Choça, o número de unidades camponesas que cultivam café passou de 17 em 1979 para 700 em 1999.A produção de banana é outra atividade em expansão, principalmente nas regiões do Gaviãozinho, Sossego e Pau Brasil, no município de Barra do Choça, cultivada à beira de córregos, ou consorciadas com as lavouras de café nas pequenas e médias propriedades. Ao mesmo tempo, verifica-se a introdução da apicultura como atividade integrada à sistemas de produção diversificados, explorados por agricultores organizados em associações, que já possuem 2 000 mil colméias, produzindo 50 toneladas de mel anualmente.

hortaliças, em áreas situadas no entorno da cidade, desenvolvida por minifundistas organizados em uma associação que já conta com 60 participantes; a expansão da pecuária de leite de pequeno porte em sistemas de produção integrados de pequenos e médios produtores; a instalação de uma unidade de beneficiamento em regime de cooperação, e de uma fábrica de produção de iogurtes.

Em 2004, o reflorestamento com eucalipto começa a ser implantado, ocupando áreas de grandes propriedades.

Em Vitória da Conquista a produção de farinha que representa uma atividade tradicional em algumas microregiões, tem experimentado uma incipiente expansão, a partir da instalação de casas de farinha em áreas até então não produtoras, incluindo os assentamentos rurais criados na região do Chapadão. Outra atividade importante no município é a produção de flores e hortaliças na localidade de Lagoa das Flores, próxima a cidade, cultivadas por agricultores pluriativos em áreas de variam de 1 a 3 ha.

A crescente revitalização da organização política dos trabalhadores rurais na região, combinada à incipiente implementação de programas de crédito e apoio à pequena produção, abre, portanto, novas possibilidades de desenvolvimento da forma familiar de produção no Planalto da Conquista, após um intenso processo de expropriação intensificado pela implantação da monocultura do café.

O Quadro 1 mostra uma síntese dos principais fatos ecológicos, técnicos e socioeconômicos ocorridos nos municípios de Vitória da Conquista e Barra do Choça, entre 1750 e 2005.

Municípios de Vitória da Conquista e Barra do Choça - Bahia

Datas Fatos ecológicos Fatos técnicos Fatos socioeconômicos 1750–

1840

Matas nativas, fauna, solos e recursos hídricos ainda preservados.

Desmatamento, expansão da pastagens.

Manejo rudimentar de gado de corte e lavouras de mantimentos.Trabalho manual. Tração animal em casas de farinha.

Chegada dos bandeirantes. Extermínio da população indígena.Formação de latifúndios.Escravos, agregados e vaqueiros. 1840- 1940

Grandes secas nas áreas de caatinga.

Início da ocupação e do desmatamento da área do atual município de Barra do Choça. Intensificação das queimadas. Expansão das pastagens e das lavouras de subsistência. Policultura com predomínio de mandioca.

Melhoria sanitária e diversificação das espécies de gado.

Pecuária extensiva de pequeno porte, criatório de aves soltas. Produção artesanal de farinha, cachaça e derivados do leite.

Entroncamento de vias de ligação sertão - litoral.

Desenvolvimento do comercio e da produção de derivados de leite e artigos de couro. Emerge a cidade de Vitória da

Conquista.

Migração caatinga – mata. Multiplicação de posseiros, meeiros, arrendatários e pequenos proprietários. 1940-

1970

Avanço das pastagens sobre parcelas das áreas de lavoura e matas

nativas.Intensificação da do desmatamento da área do atual município de Barra do Choça.

Surgimento de rebanhos leiteiros nas proximidades dos centros urbanos.

Nova expansão da pecuária. Advento de leis trabalhistas. Expulsão dos moradores. Êxodo rural e desemprego. Abertura de grandes rodovias. Urbanização e emergência do comércio. 1970- 1987 Redução da policultura. Continuação da Retirada da vegetação nativa que ainda restava, inclusive em áreas de nascentes.

Contaminação de rios e solos por uso de agroquímicos. Produção em série de monocultura:produtivismo. Pacote tecnológico: agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes), maquinaria agrícola, trabalho assalariado, ocupação sazonal.

Expansão do café. Remoção da pequena produção. Concentração fundiária. Conflitos de terra. Aglomeração e predomínio de mão-de-obra temporária. Crescimento da produção agrícola e do comércio. 1987– 1997 Substituição de algumas lavouras de café por pastagens. Continuação da contaminação de rios e solos por uso de agroquímicos.

Redução da freqüência dos tratos culturais: limpa, adubação e pulverização química.Sistemas de irrigação em grande propriedades cafeeiras. Superprodução mundial e queda no consumo.Redução de preços e subsídios.Crise café.Desemprego.Ocupações de terra. Surgimento do MST e dos Assentamentos. 1997- 2005 Implantação de sistemas agroecologicos em pequenas propriedades e assentamentos. Reflorestamento com eucalipto. Implantação de sistemas computadorizados de irrigação de cafeeiros em grandes propriedades Construção de unidades de beneficiamento de leite e de casas de farinha

Expansão dos movimentos sociais e dos assentamentos. Crédito, Associativismo e diversificação produtiva. Fragmentação das pequenas propriedades e inserção na atividade cafeeira.

Quadro 1. Síntese dos fatos ecológicos, técnicos e socioeconômicos 1750 - 2005

Fonte: Pesquisa de campo, 2006; compilação de textos e documentos históricos relacionados nas referências

O Quadro 2 apresenta as principais categorias de produtores e seus sistemas de produção. Grandes empresas capitalistas mantêm plantações de café com modernos sistemas de irrigação computadorizados, além de criarem gado bovino de corte. Encontram-se também fazendeiros absenteístas, típícos da velha tradição do gado de corte em sistemas extensivos de pastoreio. Têm-se os produtores patronais, concentrados no cultivo de café irrigado, e na criação de gado de corte. Observam-se empresas familiares, produzindo café e criando gado de leite extensivamente. Produtores familiares e assentados, no plantio de café (parte orgânico) consorciado com o cultivo de feijão, milho e banana, além de mandioca e pequenos criatórios de gado de leite. Minifundistas cultivando flores e hortaliças, no entorno das cidades. Assentados em via de endividamento e os demais agricultores familiares minifundistas semi-proletarizados, produtores pluriativos que praticam sistemas de subsistência. Plantam mandioca, feijão, milho e trabalham temporariamente em outras atividades, agrícolas e não-agrícolas, fora da unidade familiar.

Municípios de Vitória da Conquista e Barra do Choça - Bahia

Categorias de Produtores Tipos de Sistemas de Produção Empresas – capitalistas - café irrigado

- gado de corte extensivo Fazendeiros absenteístas (proprietários) - gado de corte extensivo Produtores Patronais - café ( parte irrigado)

- gado de corte extensivo Empresas Familiares - café

- gado de leite extensivo - feijão

- banana

Produtores Familiares (incluindo Assentados) - café (parte orgânico) + feijão + milho + banana

- lavouras de subsistência ( policultura) - gado de leite pequeno porte

- criação de galinhas e/ ou suínos - Mel

Produtores Familiares Minifundistas - Flores - Hortas Produtores Familiares (incluindo Assentados) em

situação de semi-proletarização

- mandioca

- milho+feijão (subsistência) - criação de galinhas

- trabalhador em atividades agrícolas e não agrícolas fora da unidade familiar

Quadro 2. Categorias de produtores e tipos de sistemas de produção – 2005

5 O ASSENTAMENTO CANGUSSU: DA OCUPAÇÃO DA TERRA AO DESAFIO DA

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