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CACHORRO DO MATO (Cerdocyon thous)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa presente levantou os conhecimentos, saberes locais, formas de apropriação dos recursos naturais de alguns moradores do povoado Ribeira, que fica no entorno do PARNASI. A partir das análises dos dados e dos discursos, o trabalho correlacionou-os, dialogando com os conhecimentos científicos, em busca de um saber mais complexo. Tal proposta foi motivada pela tentativa evidenciar que os saberes ambientais são comumente desconsiderados na conservação e na busca de uma participação da comunidade local nesse processo.

Com a execução do trabalho, pôde-se perceber que o maior conhecimento sobre as plantas e os animais assim como a conservação deles estão relacionados ao aspecto utilitário que oferecem aos moradores e não ao valor ecológico de cada um. Alguns desses conhecimentos se aproximam do conhecimento científico, outros não. Não coube ao trabalho afirmar que a medida que de distanciassem do científico os conhecimentos estariam invalidados, mas de mostrar que alguns deles podem ser utilizados na busca da melhora da conservação ambiental.

Sendo assim, existem alguns conhecimentos e saberes sobre atividades relacionadas ao meio natural que são transmitidas tradicionalmente de geração à geração e há outros que não são tradicionais e sim fruto de aprendizagens por meio da mídia ou por meio da intervenção de alguns atores sociais externos à comunidade. De qualquer modo, esses conhecimentos e saberes resultam da construção socioeconômica e cultural de cada indivíduo e por isso as falas sobre a conservação refletem diretamente o ―lugar‖ ocupado por cada um.

Por sua vez, a perspectiva utilitarista confronta-se com limites éticos e morais, pois subestima o valor dos serviços ambientais. Manter ecossistemas intocados, espaços protegidos, é visto por aqueles com visão utilitarista como uma renuncia ao desenvolvimento econômico e ao usufruto das riquezas naturais, a renúncia do ser humano à felicidade e ao conforto material. É imprescindível que a gestão da UC desenvolva estratégias para que tal concepção seja desconstruída e que sejam reconstruídos socialmente os valores ecológicos da biota da localidade.

Assim, o melhor conhecimento dos impactos provenientes da criação do PARNASI sobre a vida cotidiana dos moradores, podem fornecer subsídios para políticas de conservação mais inclusiva e mais eficiente e que promova uma

sustentabilidade a qual tenha preocupação em resolver tantos os problemas ambientais quanto as desigualdades sociais.

Verificou-se que a instalação do Parque gerou conflitos socioambientais, frente aos quais, os moradores demonstram ter medo de alguma punição dos órgãos de gestão e fiscalização ambientais. Por isso, os conflitos socioambientais são velados no povoado. Se não aparecem claramente na fala dos moradores, podem ser percebidos na indiferença que demonstram em relação ao PARNASI como indiferente em suas vidas.

O estudo nos permite inferir que o fato dos saberes ambientais dos moradores, tradicionais ou não, estarem ausentes nas dinâmicas de implementação e gestão do PANASI contribuiu para sua inviabilização. Isso ocorreu e ocorre, primeiro porque houve uma participação parcial e pontual da comunidade durante o processo de implementação. Segundo porque os saberes ambientais sustentáveis não fazem parte da agenda de gestão do Parque. Terceiro, em razão da falta de conhecimento dessa realidade por parte dos órgãos públicos. Dessa forma, não tem sido possível a elaboração de políticas para sanar os problemas produzidos pelos saberes ambientais não sustentáveis.

Uma tentativa de amenizar os problemas existentes na gestão do PARNASI seria promover educação ambiental para tentar ecologizar os conhecimentos e saberes não sustentáveis das comunidades locais. Para tanto, há uma necessidade de superação paradigmática, buscando um paradigma ambiental que se atenha a bio-sociodiversidade existente nas unidades de conservação.

A política ambientalista prega e tenta impor uma concepção de desenvolvimento sustentável para a proteção da natureza através de unidades de conservação sem levar em consideração quais são as concepções das comunidades do seu entorno. A pesar de o desenvolvimento sustentável ter sido definido como um processo que garanta as necessidades da população atual sem comprometer as das gerações futuras, essa noção não tem levado em consideração os processos ambientais e os valores humanos envolvidos. Assim, é imprescindível uma visão sistêmica e interdisciplinar do meio ambiente onde sejam trabalhados aspectos biológicos, físicos, sociológicos etc.

Os estudos etnobiológicos podem contribuir para o resgate da visão de mundo dos moradores, desempenhando importante papel na construção de uma prática ambiental que enfatize a conservação e o manejo sustentável. Assim, o ser humano ecologizado deixaria de ser uma presença devastadora, para tornar-se uma presença

benigna e estabelecer uma relação dialética diante do mundo natural. Ele pode tornar-se um gestor consciente da evolução da terra e de sua própria evolução.

Podemos, assim, entender que há a necessidade da construção de um novo modo de ver a relação entre comunidades (tradicionais ou não) e parques que poderíamos chamar de etnobiologia da conservação. Hoje, já é aceito por grande parte dos cientistas que a presenças dessas populações tradicionais dentro dos parques, não necessariamente leva à sua destruição, mas pode contribuir significativamente para o êxito dessas unidades de conservação. Para que essa contribuição seja devidamente incorporada, é preciso mudar os paradigmas da ciência da conservação do mundo natural, que é importada de países de ecossistemas e culturas distintas daqueles que temos em nosso país.

Portanto, há uma necessidade de se resolver essa problemática a partir da construção de um novo paradigma ambiental. Para tal efeito, é preciso que seja feita a construção de um novo saber que proporcione a associação entre o conhecimento científico e aquele originado e mantido pela população para que um não se sobreponha ao outro. A ideia de preservação da natureza deve ser renovada e perceber que o homem é parte da natureza e que ela também necessita do indivíduo para que seja mantida uma relação harmoniosa mesmo havendo práticas de preservação.

O novo conservacionismo, podendo ser chamado de etnoconservação precisa aliar os conhecimentos local e científico promover um maior envolvimento das populações que devem ser treinadas para construírem seus próprios estudos. Deve haver formas nas quais os habitantes do entorno do Parque também possam praticar a teoria e, através disso, possuem poder deliberativo suficiente para que participem de todas as decisões tomadas já que também se trata de suas vidas. Dessa forma, ao se sentirem atores no processo de conservação, a comunidade pode construir um futuro mais sustentável.

REFÊNCIAS

ACSERALD, Henri. Conflitos Ambientais no Brasil. ACSERALD, Henri (Org.). Rio de Janeiro: Relume Dumará: Fundação Heinrich Boll, 2004.

ARRUDA, R. S. V. ―Populações tradicionais‖ e proteção de recursos naturais em unidade de conservação. In Etnoconservação: Novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. 2ª ed. São Paulo: HUCITEC, 2000.

BANCO DE BIOMASSA. Centro Nacional de Referência em Biomassa. Disponível em:http://cenbio.iee.usp.br/saibamais/bancobiomassa/vegetaislenhosos/reflorestamento/ plantaspioneiras.htm#perobadocampo. Acesso em: 13/04/2013