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Considerações finais

Teste 1 Concentrações Neonatas

8. Considerações finais

O desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de doenças contribui grandemente para a qualidade de vida do ser humano. Doenças que anteriormente eram impossíveis de serem tratadas atualmente caminham para um tratamento eficaz e muitas vezes apresentam cura.

Os avanços na medicina e consequentemente da indústria farmacêutica não caminham na mesma velocidade que os estudos dos impactos destas substâncias no ambiente. Para um fármaco ser registrado e lançado no mercado, precisa apresentar estudos de toxicidade referentes a intoxicação humana sendo a ecotoxicidade desconsiderada, porém estas substâncias podem causar efeitos irreversíveis na biota e neste sentido, a contribuição dos fármacos para a qualidade de vida do ser humano torna-se discrepante, uma vez que a qualidade ambiental também é sinônimo de qualidade de vida humana.

Estudos ecotoxicológicos contribuem para o conhecimento dos efeitos destas drogas na biota aquática, e são essenciais para o desenvolvimento de Leis e Diretrizes que visam a proteção dos organismos, além de estabelecer limites para o descarte de efluentes que contenham estas substâncias

Mediante os resultados obtidos neste trabalho, dipirona sódica e paracetamol podem causar efeitos agudos, de embriotoxicidade e ecotoxicidade crônica com efeitos na dinâmica populacional. Além disso, observamos que fatores como fotoperíodo e temperatura podem influenciar na ecotoxicidade aguda destes fármacos. Deste modo, propõe-se uma implantação diferenciada de limites para o descarte destas substâncias em ambientes temperados e tropicais, uma vez temperaturas maiores podem potencializar os efeitos de alguns fármacos.

As concentrações que causaram efeitos aos organismos foram inferiores às concentrações destes fármacos medidas em matrizes ambientais. Entretanto, de acordo com a classificação da Diretiva Européia são substancias nocivas ao ambiente. Os estudos relacionados a presença deste fármacos em ecossistemas aquátcos, efluentes, sedimento, principalmente no que se refere a dipirona sódia, são bastante escassos, para uma melhor análise de risco ambiental para estas substâncias mais estudos sao necessários.

Algas e bactérias apresentam maior sensibilidade a algumas substâncias em relação à Cladoceras e peixes, sendo portanto, possível a interferência destes dois fármacos no ciclo de vida destes produtores primários nas concentrações que já foram encontradas no ambiente, causando assim um desequilíbrio que poderá refletir nas demais espécies. Além disso, fármacos, quando inseridos nos ecossistemas aquáticos, podem sofrer transformações ou interagir com as demais substâncias apresentando sua ecotoxicidade potencializada por sinergismo.

Dipirona sódica e paracetamol estão entre os dez fármacos mais consumidos pela população pelo seu menor preço e fácil aquisição, uma vez que é permitida sua comercialização sem receita médica. É importante ressaltar que o paracetamol é um remédio para dor e febre menos eficaz do que os outros que existem no mercado. Sua

capacidade de baixar febres elevadas (acima de 39,5 graus) é menor do que a da dipirona sódica e dificilmente este fármaco mantém a temperatura corporal baixa por mais de quatro horas*. Diante disso, a população utiliza o paracetamol mais vezes. podendo então este fármaco, chegar em maiores quantidades nos ecossistemas aquáticos.

Outro fator que aumenta a concentração dos fármacos em geral no ambiente é o descarte inadequado. Grande parte da população desconhece as formas correta de descarte destas substâncias como também desconhece a periculosidade das mesmas para o ambiente. De acordo com pesquisas realizadas por UEDA et al., (2009) apenas 28,4% dos entrevistados já se ativeram às questões ambientais relacionadas aos fármacos, e os demais nunca pensaram a respeito.

Além do descarte em lixo comum ou vaso sanitário, existe o hábito da população, principalmente em localidades que não dispõem de sistema de coleta de lixo e no interior, de atear fogo, especialmente ao lixo de banheiro, onde normalmente são descartados os medicamentos e/ou seus frascos. Esta queima descontrolada provoca a formação de substâncias tóxicas, algumas persistentes (CARVALHO, 2009).

Diante desta realidade a ocorrência de fármacos no ambiente aquático tende a aumentar, questão preocupante, uma vez que o saneamento básico é inexistente em muitas regiões e o sistema de tratamento de esgoto convencional, o mais utilizado no Brasil, não é eficaz na remoção completa destas substâncias.

Diante destes fatos é de extrema importância a adoção de medidas mitigadoras, como por exemplo, o desenvolvimento de programas referentes a coleta de remédios vencidos, conscientização da população quanto a problemática ambiental e o descarte adequado destas substâncias.

Alguns países já adotaram medidas referentes a este problema. De acordo com SORENSEN et al. (1998), cerca de 70 a 80% das drogas administradas em fazendas são lançadas ao meio ambiente. Preocupados com este fato, a Suécia proibiu o uso de antibióticos como promotores de crescimento em animais, restringindo as vendas às prescrições veterinárias (RODRIGUES, 2009).

Nos EUA, trinta e seis estados permitem alguma forma de reutilização ou revenda de medicamentos e 17 permitem ambas as práticas (DAUGHTON, 2003). Além disso, o órgão que regula alimentos e medicamentos deste país, “Food and Drug Administration” (FDA), juntamente com “White House Office of National Drug Control Policy” (ONDCP), desenvolveu em 2011 um guia para o descarte correto de medicamentos que fica disponível para população na internet.

O Brasil apresenta o programa “Farmácia Solidária”, que já existe há 10 anos Santa Catarina e tem por objetivos a orientação sobre o destino correto dos

medicamentos, arrecadação e doação dos mesmos. Voluntários recolhem sobras de medicamentos nas residências e empresas, montam pequenas farmácias e os remédios são distribuídos, gratuitamente para população (CARVALHO, 2009).

Além disso, em 2005 no Brasil, entrou em vigor o Decreto n.º 5.348 estabelecido pela Anvisa, que regulamenta a atividade de fracionamento de medicamentos (venda de remédios em doses unitárias ) pelas farmácias. Após um ano este mesmo órgão estabeleceu na RDC n°80/06 que permite a venda de fracionados também pelas drogarias, função exercida somente pelas farmácias anteriormente. Esta iniciativa, evita o desperdício de remédios.

Segundo SILVA (2005) uma forma de conscientização sobre o descarte de medicamentos de maneira adequada poderia ser realizada através da inserção de um tópico na bula de remédios. A bula deveria ser não somente um instrumento informativo de natureza farmacológico, mas sim conter uma alerta para a contaminação destes compostos no ambiente e informações sobre o destino adequado quanto aos medicamentos vencidos, já que pesquisas realizadas pelo autor demonstram que 63% da população estudada apresenta o hábito de ler a bula.

Ações como as descritas acima contribuem para a redução do perigo da automedicação, racionalização do uso como também evita o desperdício de remédios e o descarte inadequado, porém, como destaca CARVALHO (2009), são iniciativas de educação ambiental, tímidas e pontuais, que apresentam baixa adesão por parte dos usuários. Diante disto, o mesmo autor, destaca a necessidade de campanhas massivas de orientação e coleta de medicamentos fora de validade, inseridas em políticas públicas de saúde e em parcerias entre o Estado, entidades de classe, associações comerciais, e a indústria farmacêutica.

Um aspecto problemático e tão importante quanto às questões mitigadoras relacionadas acima é a definição de estabelecimentos responsáveis pelo recolhimento e destino final de medicamentos vencidos. Estabelecimentos comerciais como farmácias, drogarias e centros de saúde não são obrigados por lei a recolher esses produtos, mesmo se ainda estiverem dentro do prazo de validade (RODRIGUES, 2009).

Além disso, de acordo com estudo realizado por RODRIGUES (2009), .normalmente ocorrem negociações entre as farmácia e distribuidoras e/ou laboratórios que produzem os medicamentos. Uma das farmácias entrevistadas pelo autor informou que compras em grandes quantidades forçam os laboratórios a oferecerem descontos para as farmácias cobrirem o risco de perdas com remédios vencidos, porém se a farmácia exigir que o laboratório receba os remédios vencidos, os mesmos ofertam menos descontos, o que acaba sendo menos interessante para as

farmácias, pois o custo do gerenciamento destes medicamentos é inferior ao benefício recebido com os descontos. Deste modo, muitas farmácias ainda não aderiram ou estimulam esta prática de recolhimento de remédios vencidos.

Estes fatos só reforçam a necessidade de estudos ecotoxicológicos e principalmente a inserção destes estudos no protocolo de registro dos fármacos, como também, a conscientização e divulgação massiva dos problemas associados aos fármacos e o meio ambiente.

9. Conclusões

- D. similis mantida a 25°C apresentou-se mais resistente nos ensaios ecotoxicológicos agudos com dipirona sódica do que D.similis a 20°C.

- D. similis mantida a 25°C apresentou-se mais sensível nos ensaios ecotoxicológicos agudos com paracetamol do que D. similis a 20°C.

- A água de diluição (água natural e água destilada reconstituídas) influenciou na ecotoxicidade aguda do paracetamol, mas não influenciou na ecotoxicidade aguda de dipirona sódica.

- O fotoperíodo não infuenciou na ecotoxicidade aguda de dipirona sódica e paracetamol para C. dubia e C. silvestrii.

- Dipirona sódica e paracetamol induziram malformações nos embriões de D. similis a 20°C.

- Dipirona sódica e paracetamol não apresentaram potencial teratogênico para D. similis a 20°C nos ensaios crônicos individuais.

- A temperatura não teve influência nos ensaios crônicos individuais com dipirona sódica e paracetamol para D. similis a 20 e a 25°C.

- Como critérios de aceitabilidade da reprodução no controle em testes crônicos populacionais com D. similis a 20 e 25°C ficam estabelecidos os valores de 137 (±94) e 143 (±84) neonatas, respectivamente.

- Os períodos de duração dos ensaios populacionais para D. similis 20 e 25°C são de 14 e 10 dias, respectivamente.

- Como critério de aceitabilidade da repodução no controle em testes crônicos populacionais com C. dubia fica estabelecido como aceitável o valor de 80 (±30) neonatas.

- A temperatura não influenciou nos ensaios crônicos populacionais com dipirona sódica e paracetamol para D. similis a 20 e a 25°C.

- Dipirona sódica e paracetamol podem ser classificados como substâncias "nocivas" ao ambiente de acordo com a Directiva Européia 93/67/EEC, baseando-se nos valores de CE(I)50 obtidos nos ensaios agudos com D. similis, C.dubia e C.silvestrii.

- Dipirona sódica e paracetamol podem ser classificados como substâncias "não tóxicas" ao ambiente de acordo com a Directiva Européia 93/67/EEC, baseando-se no valor de CL(I)50 obtidos nos ensaios agudos com D. rerio.

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