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CAPÍTULO IV: Conclusões e Recomendações

4.1 Considerações finais

A filosofia, em função da praxe dialógica em comunidade, é um dos bons antídotos de que podemos lançar mão na hora de enfrentarmos os terrorismos, os fanatismos e totalitarismos que abalam este atormentado fim de século. Filosofia para crianças traz em si, pré-figurada no seu fundamento de comunidade de fundação, a promessa de um presente e futuro mais justos e mais humanos. Trata-se, enfim, de uma valiosa tentativa de fundamentar, partindo da prática filosófica como valoração do diálogo e da intersubjetividade, o respeito ao outro e à diferença. (GIMENEZ e TRAVERSO, p. 253, 1999.)

Este estudo teve o objetivo de analisar a influência da prática do pensar filosófico no desenvolvimento crítico e reflexivo das crianças, mediante um estudo de caso envolvendo os alunos da 4ª série do ensino fundamental, de uma escola pública do Distrito Federal. Buscou-se, também, identificar os conceitos e/ou temas que despertaram maior interesse entre os alunos.

Em 1969 o ensino de filosofia para crianças surge com a obra de Lipman, época em que ele era professor de Introdução à lógica e Teoria do Conhecimento.

Conversei sobre o problema com alguém que me sugeriu: bem, por que você não escreve uma história? Aquilo me pareceu muito interessante, porque crianças sempre param para ouvir histórias. Pensei: Por que não escrever uma história com crianças aprendendo a raciocinar sozinhas, sem um professor lá para instruí-las? (Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças - CBFC, 1999)

A filosofia para crianças foi introduzida no Brasil pela professora Catherine Young Silva em 1984 ao voltar dos Estados Unidos, onde fez mestrado na área de filosofia para crianças. Detém os direitos para traduzir e adaptar o material, e capacitar professores para trabalhar com o projeto. No Distrito Federal coube à UnB sua difusão com o primeiro curso de capacitação para professores e alunos dessa universidade. As primeiras experiências vieram com a implantação do projeto piloto no ano de 1998, com a participação de cinco escolas de diferentes comunidades

escolares. As informações levantadas pela pesquisa evidenciaram a possibilidade e oportunidade da prática do “educar para o pensar”, como é conhecido o ensino de filosofia para crianças. No projeto o ensino de filosofia é desenvolvido através de oficinas, abordando temas ou palavras geradoras de interesse das crianças, sobre as quais há um franco diálogo que motiva e estimula a reflexão das crianças.

De acordo com a diretora, não se pode falar em um tema de maior predileção ou favorecimento por parte dos alunos, haja vista que, qualquer assunto novo como as sadias discussões em torno de gênero, despertavam nos alunos igual interesse.

Com a implementação do projeto, pode-se concluir que houve um benefício admirável, um benefício que não se reverte em números e em índice em um ano, pois nada na área de educação se reverte em números em tão pouco tempo. Importantes benefícios foram observados à medida que as oficinas eram desenvolvidas, pois as crianças cresciam em termos de poder de argumentação. Os questionamentos passaram a ser rotina e as perguntas eram mais elaboradas. Ocorreu ainda a mudança de postura das crianças, pois as mesmas passaram a respeitar professores e alunos no sentido de ouvir o outro sem interromper.

Outro grande benefício dos alunos inseridos no projeto em relação aos outros da escola foi o cuidado com a limpeza da sala, os cuidados com o lixo, com as carteiras, o asseio do corpo e do uniforme. As observações diante das oficinas revelaram o interesse maior das crianças em torno de algumas palavras ou temas que eram escolhidos para discussão, como: direito, dever, ser criança, brincar, respeito, oportunidade, igualdade, justiça, segurança, paz, diálogo, pensar, responsabilidade.

Cabe registrar que o contato com a filosofia se reflete não somente na evolução reflexiva das crianças, como também na dos professores que inicialmente foram surpreendidos com questionamentos quanto à metodologia passível de se aplicar para ensinar filosofia às crianças. Nesse momento, foi estabelecido o primeiro obstáculo que fora superado através da modificação da prática pedagógica, no sentido de promover a oportunidade da fala do aluno frente às questões escolares. O emprego de tal prática pode ser traduzido como um ganho enorme para os docentes, pois os mesmos passaram a refletir sobre a própria prática e

modificá-la para melhor. Assim, os esforços que se vêm dispensando, nos últimos tempos, na difusão da prática filosófica entre as crianças, contribui, decisivamente, para ajudar a criança a se apropriar de conceitos e valores, a praticar um pensamento autônomo, no sentido de exercer sua subjetividade lógica, ética e estética.

Há que se ressaltar que como uma grande e importante perspectiva de filosofia para criança no Brasil, e no Distrito Federal, o projeto continua a ser desenvolvido pela UnB, em um espaço de cultura popular no Paranoá.

Hoje, nas escolas públicas do Distrito Federal, com a iniciativa da Secretaria de Educação, foi celebrado um convênio para que os alunos (alunos do ensino médio que fizeram vestibular nas faculdades conveniadas pelo governo do DF), contemplados com a bolsa universitária, num total de trezentos, recebessem capacitação pela UnB, com um curso de 16 horas. Após a capacitação deverão retornar à escola de origem, organizar e desenvolver o projeto respeitando sugestões de temas de preferência dessas crianças. Esse é um grande desafio para desenvolver a cidadania das crianças, proposta maior da educação nacional.

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