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Como resposta à questão de investigação colocada inicialmente neste trabalho, afirmou- se o seguinte.

Percebeu-se a contribuição da gestão 2017-2019 da AMBP para o desenvolvimento local, principalmente através de suas ações na área da saúde, educação e infraestrutura do Bairro Pessegueiro.

Além disso, segundo informações dos entrevistados e a observação do pesquisador, foram encontrados mínimos elementos de Gestão Social e, consequentemente, de racionalidade comunicativa na gestão 2017-2019 da AMBP, por causa da realidade de sua organização e processo decisório.

Foi verificado que a gestão analisada, devido a sua organização centralizada no papel da presidência e tomada de decisões de forma verticalizada, esteve mais próxima da Gestão Estratégica do que da Gestão Social. Além disso, foram verificados limites da gestão estudada, que eram comuns entre as organizações sociais.

Com isso, afirmou-se que a AMBP possuiu um ambiente no qual poderiam ser apresentados elementos de Gestão Social. Por exemplo, a partir da realidade existente na organização da associação, baseada na presidência e na diretoria; da ocorrência de coparticipação entre seus membros em alguns momentos e eventos; e da formação gradual sobre participação cidadã, pode ser alcançada uma gestão participativa, dialógica, democrática e intersubjetiva, através de sujeitos ativos que se pautam pelo entendimento e consenso.

Para isso, o trabalho ofereceu alguns passos que podem ser levados em conta pela gestão atual da AMBP, caso seja seu objetivo e interesse, para ajudar a concretizar elementos de Gestão Social e de racionalidade comunicativa a fim de que a associação fortaleça a participação de seus membros no processo gestionário e o incremento do desenvolvimento local.

Este trabalho deu visibilidade ao Pessegueiro e a sua associação no meio acadêmico e auxiliou a concretização de futuras pesquisas, projetos de extensão universitária e possíveis parcerias e políticas públicas em favor do desenvolvimento local. Por exemplo, as questões ambientais do bairro, principalmente o uso da água, o cuidado com o esgoto e o saneamento básico, e a vinculação econômica, emocional e simbólica dos moradores com o meio rural podem ser pesquisadas futuramente e trazerem resultados acadêmicos e contribuições à comunidade local. Ademais, a pesquisa realizada trouxe à luz, em uma perspectiva

interdisciplinar, elementos teóricos e práticos sobre desenvolvimento, Gestão Social, racionalidade comunicativa habermasiana e metodologias participativas que contribuíram com a comunidade acadêmica, de maneira específica, com projetos de pesquisa interdisciplinares e de desenvolvimento local e rural.

Limites foram encontrados durante o estudo realizado, expostos a seguir. Um deles foi a ausência de entrevista com a presidente 2017-2019 da AMBP, que poderia trazer respostas às perguntas colocadas no trabalho e colaborar com o alcance dos objetivos propostos. Tentou-se também acesso a documentos oficiais da gestão 2017-2019 da associação, o que não foi possível. Informações desse tipo poderiam ajudar na análise de dados. Outra limitação foi a impossibilidade de participação em reuniões da associação no período em que ocorreu a coleta de dados, de agosto de 2019 a fevereiro de 2020, pelo fato de não ter acontecido reuniões da associação nesse período. Porém, o pesquisador pôde observar reuniões e ações da associação em outros momentos em sua ação no projeto de extensão “Águas do Pessegueiro” e como presbítero no bairro, o que ajudou a reforçar a análise de dados e sanar um pouco essa lacuna. Além disso, na finalização da pesquisa, no primeiro semestre de 2020, seria oportuno o retorno do pesquisador ao campo para novas entrevistas, observações, correções e refinamento dos dados obtidos, processo que foi feito ao longo de toda a pesquisa. Porém, nesse período, houve a pandemia do COVID-19, que impossibilitou esse retorno. Felizmente, a coleta de dados foi concluída no planejamento estabelecido antes da pandemia e, assim, foi possível realizar a análise definitiva dos dados no período de isolamento social.

Futuramente, os eixos teóricos deste trabalho, a temática do desenvolvimento, o campo da Gestão Social e a Filosofia habermasiana, podem ser retomados e aprofundados em outros trabalhos. Além disso, de modo específico, esses referenciais podem ser aplicados em outros grupos sociais, rurais e urbanos, principalmente através da função do pesquisador como padre, a qual lhe confere um campo de trabalho marcado por grupos pastorais, comunitários e conselhos. Ademais, elementos de Gestão Social e de racionalidade comunicativa podem ser ensinados aos moradores do Bairro Pessegueiro e aos membros da AMBP, de maneira participativa, semelhante à aplicada nas oficinas deste trabalho, para oferecer uma proposta diferente para sua organização e processos decisórios e fortalecer a efetivação do desenvolvimento local através de seus sujeitos e organizações. Como a Gestão Social é um processo complexo e recente no Brasil, a possível aplicação de seus elementos na associação pode contribuir tanto para a AMBP quanto para esse campo do conhecimento. Quiçá, seja a AMBP um organismo local que busca ser uma conexão cooperada, solidária e negociada, baseada na cidadania, liberdade, igualdade, solidariedade e na racionalidade comunicativa,

concretizados através da relação interpessoal que busca, a partir da linguagem, o entendimento e o consenso.

Por fim, considerou-se que esta pesquisa foi relevante para o pesquisador, que realizou em 3 anos, aproximadamente, uma verdadeira travessia, que não se encerrou neste texto. No PPG DTecS, no Núcleo Travessia, no Bairro Pessegueiro, na AMBP, entre os moradores do bairro e na solidão da sua escrivaninha, tentando entender como o desenvolvimento acontecia na prática, o que seria Gestão Social, o complexo pensamento e escrita de Habermas, o pesquisador saiu de sua zona de conforto, saiu da sacristia do seu cotidiano, na qual possuía um sentimento forte de segurança e conforto. Passou pela zona do medo, sentiu falta de autoconfiança, deu desculpas para não agir, foi amparado pelos amigos e até interrompeu sua travessia, que, felizmente, foi uma breve pausa. Mas, na continuidade do caminho, passou a uma zona de aprendizagem, lidou com desafios e problemas, adquiriu novas habilidades e estendeu sua zona de conforto, encontrando seu lugar na travessia. Fez uma travessia de crescimento. Viveu sonhos, conquistou objetivos, encontrou propósitos e vislumbrou novas metas. Uma etapa da travessia, por que não, Travessia, chegou ao final. Porém, ela não foi uma conclusão... Que bom, que, nesta Travessia, aprendeu-se o valor do diferente e dos processos participativos na busca do conhecimento! Aprendeu-se que o rural é um mundo importante, ainda a ser conhecido e valorizado por muitos. Que outros passos sejam dados e a Travessia continue!