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Esta pesquisa foi desenvolvida em quatro capítulos. No primeiro capítulo se apresenta um breve histórico do Curso de Pedagogia, a função do professor pedagogo nas escolas públicas do Paraná e o professor pedagogo diante dos processos de formação continuada de professores. No segundo capítulo, apresentam-se os fundamentos teórico- metodológicos, no terceiro capítulo a metodologia e no quarto capítulo os resultados e análises.

No primeiro capítulo foi possível verificar que os avanços que ocorreram ao longo do tempo para o Curso de Pedagogia, principalmente a partir de 2006 com a promulgação das Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, pois foi através dela que foi possível ter maior clareza sobre a função do professor pedagogo. Embora sejam inúmeras as atribuições desse profissional no âmbito escolar, além do atendimento aos imediatismos, neste estudo será dada ênfase à função de organizar os momentos de formação continuada de professores.

Para dar sustentação a esta pesquisa, o embasamento teórico-metodológico utilizado parte de Vigotsky, Bakhtin e Clot, conforme consta no capítulo dois e foi utilizada a metodologia desenvolvimental através do método da Autoconfrontação Simples e Cruzada.

A análise dos dados produzidos ocorre no capítulo quatro, no qual são detalhadas as observações realizadas durante as sessões de autoconfrontações, a partir de registros de observações e de filmagens que foram transcritas.

Durante a observação das aulas de cada professora, pôde-se observar que na aula de PA, ao explicar os conteúdos, o faz inicialmente de maneira geral ao quadro para todos os alunos e depois os atende de forma individualizada sanando suas dúvidas, os auxiliando nas carteiras. Nas aulas de PB, observa-se a sua preferência por explicar o conteúdo de fora mais geral, sem muitos atendimentos individualizados. Neste contexto, por parte de PA há uma maior proximidade com os alunos e por PB, certo distanciamento.

Ao se observarem em situação de trabalho nas imagens em sala de aula, as professoras realizaram alguns apontamentos sobre questões que poderiam ser realizadas de forma diferente. Apontam que muitas vezes exploram demais o conteúdo e que precisam dar um pouco mais de autonomia aos seus alunos, que os inúmeros atendimentos individualizados que realizam causam desgaste físico e que ao dar essa autonomia aos

alunos, poderiam estar se “poupando” um pouco mais. O processo de filmagem das aulas e das sessões de autoconfrontações possibilita o acesso aos diálogos das professoras de modo concreto, o que proporciona verificar com clareza a forma com elas se veem, como veem uma a outra, bem como, identificar situações que poderiam ter sido realizadas de outra forma. Foi através desse discurso concreto, que se pode verificar o desenvolvimento das professoras.

Neste contexto, durante as sessões de autoconfrontação, no momento em que observam, há a percepção de como a prática se realiza e apontam formas diferenciadas de realização, ou seja, manter os muitos atendimentos individualizados e o desgaste físico ou dar um pouco mais de autonomia aos alunos e se “poupar” um pouco? Sendo esta uma prática que ambas as professoras realizam há anos, elas têm dúvidas se conseguiriam agir de forma diferente.

Observou-se durante a análise das sessões de autoconfrontação simples, que tanto PA quanto PB buscaram se refugiar em suas disciplinas para expor as suas opiniões, talvez como forma de proteção e para evitar constrangimentos a sua colega professora.

Durante a realização da primeira sessão de autoconfrontação cruzada PB apresentou somente características de semelhanças entre as práticas. Na segunda sessão PA também comentou sobre as semelhanças, então P1 solicita às professoras que comente sobre algumas diferenças que observam. As diferenças destacadas são muito sutis, se referem ao tom da voz, ao fato de andar em sala de aula com o pincel na mão e se riscar, a forma de atender os alunos. Há preocupação por preservar a colega de trabalho.

No entanto, o diálogo que se estabeleceu entre as professoras, desencadeado a partir das sessões de autoconfrontação simples e cruzada, certamente trará um novo olhar à atividade que realizam diariamente, pois a Clínica da Atividade proporcionou o desenvolvimento e não será possível ser o que era antes.

Neste momento, retomo os questionamentos realizados no início desse trabalho: De que forma podemos quebrar paradigmas e buscar coletivamente a superação de concepções e práticas de formação continuada desvinculadas do contexto escolar? Porque nos processos de formação a prática docente é minimamente revisitada? Esses momentos de formação têm possibilitado aos professores refletir a sua própria prática pedagógica?

A implementação de uma Clínica da Atividade é uma proposta que vem quebrar paradigmas, justamente pelo fato de proporcionar momentos de formação continuada tendo o real da atividade professor como ponto de reflexão, pois a formação ocorre num

movimento a favor do professor, com o professor e não ao contrário. É o professor quem vai se observar e destacar pontos possíveis de realização diferenciada da sua atividade, não alguém que vem de outro contexto lhe dizer o quê e como fazer. Isso torna o processo altamente significativo. Outro elemento importante que a Clínica da Atividade propicia é a constituição de coletivos de trabalhos na escola. Ao desenvolver o processo de formação em conjunto com outro colega e com ele realizar trocas, no sentido de ser um ponto de apoio e referência e não alguém que vai lhe dizer se o seu trabalho está sendo realizado de forma adequada ou não. É a desmistificação do olhar do outro enquanto alguém que julga e aponta defeitos, tornando-se alguém com que é possível compartilhar as angústias do dia a dia e juntos buscar alternativas de realização, de reflexão sobre a prática pedagógica.

Através da realização deste trabalho, também foi possível identificar alguns dos limites presentes no trabalho do professor pedagogo, dentre os quais destaco: o excesso de atribuições, a falta de clareza da função, a organização dos momentos de formação continuada que se apresentam de forma que contemplam as reais necessidades dos professores e com roteiros pré-estabelecidos, a rotatividade de professores, a rotina de atendimentos a alunos, pais e professores, o olhar do especialista externo, dentre outros. Esses são alguns dos fatores que nos limitam no dia a dia e nos causam desgastes físicos e emocionais que nos impede, muitas vezes, de desenvolver um trabalho com excelência.

Para tanto, entendo que a Clínica da Atividade Docente é um divisor de águas nos processos de formação continuada e o professor que se permite vivenciar essa experiência jamais será o mesmo e digo isso baseada em minha própria experiência e no desenvolvimento que tive o prazer de observar em PA e PB – sujeitos dessa pesquisa. Posso afirmar que a minha visão mudou, aquela visão de especialista externo se desfez no ar, me considero hoje uma professora pedagoga diferente, muito melhor do que aquela que iniciou esse trabalho, com um olhar de não julgamento à prática docente e disponibilidade para ser melhor a cada dia.

Nesse contexto, posso afirmar que para além dos resultados obtidos, comprovados através dessa pesquisa, na prática pedagógica de PA e PB, que o ganho maior foi dessa professora pedagoga que se constituiu e continuará se constituindo diariamente como pesquisadora. Foi muito gratificante realizar esse trabalho e, sinceramente, vou em meu dia a dia praticar e continuar desenvolvendo práticas pedagógicas baseadas na Clínica da Atividade, pois esse movimento não pode parar nunca mais.

A percepção é a de que ao participar de uma Clínica da Atividade, o professor tem a possibilidade de ver a si mesmo e a sua prática pedagógica a partir de uma imagem refletida no espelho. O processo é o de se “enxergar” com os seus próprios olhos e não mais com os olhos dos outros, os quais lhes dizem e/ou sinalizam o quê e como fazer e isso permite vislumbrar o horizonte diante de si, com suas infinitas possibilidades de superação dos limites que nos sufocam diariamente.

Apresento a Clínica da Atividade Docente como possibilidade exitosa de formação continuada, por estar baseada em um processo reflexivo que proporciona a busca por possibilidades não realizadas, considera o professor como especialista na atividade que desenvolve, com especial preocupação com a sua saúde.

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