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A especificidade do funcionamento dos edifícios prestadores de serviços de saúde, faz com que estes sejam quase sempre considerados como uma excepção no mundo urbano em que se inserem, sendo muitas vezes desvalorizada a sua forte contribuição para a pe- gada ecológica da humanidade. No entanto, estes edifícios possuem um funcionamento continuo ao longo do ano, têm um grande consumo de energia eléctrica e de água, utili- zam com frequência materiais tóxicos e produzem uma grande quantidade de resíduos. Para além de tudo isto e tendo ainda em conta os cortes drásticos nos orçamentos, as alterações demográficas, o aumento da população idosa e os pacientes cada vez mais exigentes, constata-se que este grupo de edifícios do sector da saúde apresenta grandes desafios para o seu desenvolvimento futuro.

De forma a contrariar esta realidade e contribuir para uma sociedade cada vez mais sustentável, os projectos a serem desenvolvidos para este sector devem centrar-se em aspectos fundamentais como a eficiência económica do hospital, o bem-estar dos pa- cientes, a criação de um ambiente de trabalho optimizado para médicos e enfermeiros e ainda a sua compatibilidade com o meio ambiente.

Propor a construção de um edifício hospitalar requer muita atenção não apenas em re- lação aos aspectos técnicos, como também aos aspectos humanos. Deve-se compreender que o isolamento do paciente em relação ao espaço exterior proporciona-lhe uma maior angústia em relação ao seu estado de saúde. Para além disso, o hospital, por ser uma construção com grandes especificações técnicas e fluxos diferenciados, frequentemen- te gera grande confusão ao utilizador. No entanto, apesar da grande evolução que se tem verificado nesta tipologia de edifícios no que diz respeito ao conforto do ambien- te interior, ainda hoje muitos dos edifícios hospitalares não incluem essa preocupação. Contrapondo-se a esta tendência, existem muitos projectistas que têm lutado para incor- porar práticas sustentáveis de projecto nos projectos hospitalares.

A título individual, algumas empresas têm investido na importância de tornar estas instituições de saúde mais sustentáveis. No caso particular da Siemens, os seus esforços têm-se voltado para os consumos de energia. Este é um dos objectivos que mais facil- mente tem sido absorvido pela população, sendo por isso o que reúne mais esforços actualmente e onde existem mais resultados a apresentar. Contudo a espectativa de me- lhoria tem levado à obtenção de bons resultados em alguns casos como, por exemplo: no Centro Clínico de Reinkenheide, em Bremerhaven na Alemanha, onde os sistemas instalados por esta empresa em particular, conseguiram uma redução de 25% do con- sumo de energia e de mais de 4 mil toneladas nas emissões de CO2; e no Centro Médico Orbis, em Sittard na Holanda, onde as tecnologias implantadas contribuíram para que o atendimento dos pacientes alcançasse uma qualidade acima da média, mantendo os baixos custos de utilização (Siemens Industry, 2010).

Para além das empresas que produzem soluções tecnológicas alternativas, também se verifica com o estudo que foi feito e apresentado ao longo deste trabalho, que muitas instituições de saúde, iniciativas mundiais voltadas para este sector e mesmo sistemas de avaliação da construção sustentável, têm voltado as suas preocupações para estas

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questões e reunido esforços para melhorar o desempenho destes edifícios. Defende-se actualmente que com os modernos sistemas de aproveitamento de águas pluviais, trata- mento de água, consumo de energia e gestão de resíduos, já conhecidos, é possível dimi- nuir os consumos nas fases de construção e operação, nas seguintes quantidades: cerca de 40% de redução do consumo de água, 30% nos gastos com energia eléctrica; 70% de redução na produção de resíduos (Kern, Lima, Manfredini, 2011). No entanto, torna-se importante consolidar todas estas iniciativas num só documento, numa só metodologia, capaz de avaliar as opções tomadas num equilíbrio saudável entre as três grandes dimensões do desenvolvimento sustentável: ambiental, económica e social. Em Portugal não existe uma ferramenta de trabalho com capacidade de apoiar os projectistas no momento de tomada das decisões, sendo que reunir todas estas iniciativas individuais ou utilizar metodologias desenvolvidas para realidades diferentes, é desadequado e torna-se extre- mamente complexo.

É importante reter que “sustentabilidade é uma abordagem de base e não um nível de activida-

des” (Kern, Lima, Manfredini, 2011). Neste sentido, embora seja fácil para uma instituição optar por algumas iniciativas, mais compatíveis com o ambiente, essa abordagem revela-se muitas vezes restrita e limitada em termos de sucesso a longo prazo. Assim, uma abordagem mais equilibrada e com um efeito real durante todo o ciclo de vida do edifício, vai de encontro à definição de como a sustentabilidade deverá ser parte integrante da cultura organizacional e infra-estrutural de uma instituição.

Um dos aspectos fundamentais e positivo, é que acredita-se que o sector da saúde pode desempenhar um papel de liderança na resolução destes problemas. Devido ao seu po- der de compra em massa, pelo valor qualitativo incalculável que tem para a humanidade, e ao seu interesse na prevenção de doenças, este pode ajudar a mudar toda a economia com a utilização de produtos e práticas sustentáveis nas fases de projecto, construção, utilização, manutenção e reabilitação (Kern, Lima, Manfredini, 2011).

Fazendo-se uma última análise conclusiva de todo o estudo elaborado neste trabalho, verifica-se que:

• Capítulo 1 - O tema seleccionado é pertinente e de importante relevância para a actu- alidade. Sendo fundamental o desenvolvimento do mesmo e a obtenção de resultados cada vez mais precisos, facilmente consultáveis e de rápida transmissão;

• Capítulo 2 - O sector da construção e mais especificamente dos edifícios de saúde caminham num sentido de emergente mudança devido às crescentes preocupações com o impacte negativo no ambiente que as práticas convencionais têm provocado. O conceito de Desenvolvimento Sustentável, torna-se cada vez mais presente sendo que se caminha numa tentativa precisa de transformação prática deste;

• Capítulo 3 - A complexidade funcional e organizativa deste tipo de edifícios é bastante complexa e de forte impacte no acto de projectar. No entanto, a evolução histórica dos mesmos assim como do significado e importância dos cuidados de saúde, revelam o investimento e os resultados que se têm vindo a obter nesta área ao longo dos tempos; • Capítulo 4 - É importante sistematizar ideias e aspectos a considerar num projecto e

processo de construção sustentáveis. Os esforços a este nível têm surgido em forma de iniciativas de apoio e sistemas de avaliação que pretendem valorizar e implementar a

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importância da abordagem sustentável deste tipo de edifícios. No entanto estas ain- da não são coerentes e encontram-se ainda muito em fase de pesquisa e teste, sendo que em Portugal essas ainda não existem deirectamente vocacionadas para projectos hospitalares;

• Capítulo 5 - Apesar de tudo, existem já casos que apresentam melhorias significativas de projecto, através da implementação de práticas sustentáveis no processo de con- cepção e construção do edifício. Com o estudo específico de quatro casos particulares e a verificação da existência de outros que poderão vir a ser aprofundados para uma melhor afinação da lista final de parâmetros mais ou menos considerados, conseguiu- -se avaliar e conhecer na prática a eficácia da implementação de práticas sustentáveis de projecto exactas nestes ambientes de características tão específicas.

• Capítulo 6 - Após o estudo e análise da realidade actual apresentou-se uma lista de pa- râmetros e indicadores, enquadrados em cada uma das dimensões designadas como pilares da construção sustentável, que se defende capaz de reunir as orientações ge- rais para a selecção de práticas sustentáveis de projecto que devem ser tidas em conta, aquando da intervenção de uma equipa de projecto nesta tipologia de edifícios. Assim resumiu-se as práticas e aspectos estudados em orientações gerais que se pretende que sirvam de apoio ao acto de desenvolvimento de projectos nesta área e apreciação dos já existentes. Esta lista final obtida servirá de base para o desenvolvimento futuro de um manual consistente de práticas sustentáveis de projecto, bem como para o desen- volvimento de uma metodologia capaz de as avaliar.

Posto isto, é possível apontar resumidamente, três pontos fundamentais que devem ser consi- derados no desenvolvimento de Edifícios Hospitalares mais sustentáveis (Kern, Lima, Manfredini, 2011): 1. Melhorar a saúde ambiental e a segurança do paciente;

2. Reduzir o uso de recursos naturais e produção de resíduos de saúde;

3. Institucionalizar a sustentabilidade e a segurança para todos, em todas as áreas da organização e respectivas actividades.