• Nenhum resultado encontrado

32 3.2 PROJECTO HOSPITALAR: LUGAR, FORMA E FUNÇÃO

O projecto de um hospital acarreta diferenças significativas relativamente aos projectos mais usuais de edifícios de habitação, escritórios ou serviços. Nestes últimos casos, muitas vezes o cliente e o utilizador são o mesmo, ou mesmo quando não o são o trabalho de entendimento torna-se simples, uma vez que se fala de práticas de vida comuns a ambos. No caso dos edifícios hospitalares isto não acontece, sendo que a equipa de projecto é geralmente contratada por um corpo administrativo com a finalidade de projectar um edifício que engloba diferentes espaços e diferentes utilizadores, tais como: médicos, en- fermeiros, pacientes, visitantes, funcionários de limpeza, administradores, entre outros. Neste sentido existe a necessidade de conjugar diferentes necessidades espaciais que, por mais que sejam discutidas e se assinalem objectivos, estarão sempre sujeitas a mudanças constantes ao longo do seu período de utilização, devido a novas funcionalidades, inova- ções tecnológicas, necessidades de expansão e novos métodos de tratamento (Figueiredo, 2008). Com a evolução deste tipo de edifícios, verifica-se que o paciente foi cada vez mais ocupan- do o lugar central de todas as preocupações e atenções. É a pensar neste que se estuda a qualidade do atendimento, o desenho dos espaços, o conforto, a eficiência na apresentação de diagnósticos, etc. Assim, verifica-se nos hospitais contemporâneos que é o paciente, como cliente final, que dita como deve ser pensado o ciclo de vida destas construções (figura 3.4).

3.2.1 PLANEAMENTO DO PROJECTO HOSPITALAR

O projecto de um edifício hospitalar é bastante complexo, tendo em conta as diversas necessidades funcionais e programáticas existentes. O programa, assim como a sua or- ganização, varia muito de acordo com as especialidades médicas que incorpora, com as actividades que o edifício irá abarcar, com a localização do edifício, a comunidade onde se insere e com as características económico-financeiras que o suportam.

figura 3.4 Ciclo de vida dos edifícios hospitalares (adaptado de Figueiredo, 2008) Clie nte Projecto Constru ção Manuten ção Pacie nte UTIL IZAÇ ÃO

33

Devido à sua escala e complexidade, a inserção de um hospital na estrutura urbana da cidade provoca ainda, de uma maneira geral, impactos físico-funcionais importantes que extrapolam muitas vezes as imediações do edifício e atingem grandes áreas da cidade. As grandes unidades hospitalares dependem, por exemplo, da qualidade do fornecimento de água e de energia eléctrica, uma vez que a falha deste poderia pôr em risco a saúde dos pacientes. Mas, para além de grandes consumidores de água e energia, este edifícios exigem, cada vez mais, sistemas de comunicação confiáveis, que viabilizam a adopção de tecnologias sofisticadas de transmissão de dados e que são utilizados pelos sistemas de agendamento de consultas e de diagnóstico remotos, em tempo real (Toledo, 2002).

Desta forma, os estudos de projecto relativos a esta tipologia de edifícios, devem ter em conta um grande número de princípios que variam e se complicam de acordo com a magnitude do complexo e com as diversas funções e especialidades que irá conter. A localização de uma nova unidade hospitalar deve contemplar a análise das redes de abastecimento existentes, da qualidade dos serviços envolventes, das condições de aces- sibilidade, do uso predominante do solo na zona envolvente, das características sócio- -económicas da população, características topográficas e geológicas do terreno, clima, exposição solar, níveis de ruído, etc. (Toledo, 2002).

No que diz respeito à edificação, são necessários estudos sobre os diferentes tipos de acessos e circulações (de pacientes, funcionários e visitantes), sobre o dimensionamen- to das diversas áreas comuns e de estacionamento, sobre a orientação solar, a taxa de ocupação e outros parâmetros. Relativamente à população que trabalha e vive nas ime- diações, é importante averiguar o seu grau de satisfação em relação à presença do novo edifício ou complexo de edifícios, conseguindo-se extrair deste grupo, informações so- bre eventuais impactos ambientais, no tráfego, comércio local, entre outros (Toledo, 2002). Desde 1960 várias metodologias sobre planeamento hospitalar têm vindo a ser estudadas. Christhopher Alexander, Geofrey Broadbent, Bruce Archer, foram apenas alguns dos in- vestigadores que se dedicaram ao estudo deste processo de desenvolvimento que defende sempre, em qualquer que seja a metodologia seguida, a fragmentação dos princípios e objec- tivos de modo a facilitar a análise e enquadramento do projecto como um todo (Miquelim, 1992).

3.2.2 TIPOS DE EDIFÍCIOS DE SAÚDE

Em Portugal os edifícios de cuidados de saúde podem ser públicos ou privados. Dentro dos edifícios públicos, existe uma entidade reguladora designada por Serviço Nacional de Saúde, que defende o acesso de toda a população aos cuidados de saúde necessá- rios. Este é composto por todas as entidades públicas prestadoras de cuidados de saúde, designadamente:

• Estabelecimentos hospitalares, independentemente da sua designação; • Unidades locais de saúde;

• Centros de saúde;

• Agrupamentos de centros de saúde.

Todos os serviços e estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde, independentemente da respectiva natureza jurídica, estão sob a tutela do membro do Governo responsável pela área da Saúde e regem-se por legislação própria.

34

Por sua vez, os edifícios privados dividem-se apenas entre as duas primeiras tipologias descritas, verificando-se actualmente o forte desenvolvimento da primeira.

. TIPOLOGIA

Os edifícios hospitalares podem ser divididos, essencialmente, em duas tipologias básicas (Figueiredo, 2008):

• Tipologia Vertical - edifício único com diversos pisos (monobloco), sendo que habi- tualmente os primeiros constituem os serviços de atendimento público, ambulatório, diagnóstico e cirurgia, enquanto que os restantes pisos são constituídos pelo serviço de internamento.

• Tipologia Horizontal - geralmente constituída por mais do que um edifício, com pou- cos andares e fortemente caracterizada pela existência de pátios e relação directa com o espaço exterior.

Em relação à tipologia horizontal a sua funcionalidade terá um número máximo de camas, uma vez que a relação entre tempo e distância neste tipo de trabalho se torna fundamen- tal. Ao nível económico verifica-se que nenhuma das duas tipologias levadas ao extremo, na sua forma mais pura, se torna eficiente. No que diz respeito à tipologia horizontal o maior custo de construção está directamente associado à estrutura do edifício. Por seu lado, a tipologia vertical deve ter em conta a escolha de materiais resistentes para os aca- bamentos e aberturas, devido à possibilidade do aparecimento de fissuras. Deste modo torna-se fundamental trabalhar a forma do edifício equilibradamente, contrabalançando todos os intervenientes sem prejudicar a funcionalidade (Figueiredo, 2008).

. UTILIZADORES

Os edifícios hospitalares são palco de trabalho e tratamento dos mais diversos tipos de pessoas, podendo estes serem divididos em dois grandes grupos (Figueiredo, 2008):

• Funcionários - corpo médico (composto pelas diversas especialidades da medicina), dentistas, fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas, nutricionistas, corpo administrativo, enfermeiros, cozinheiros, pessoal que assegura a limpeza e funcionamento dos servi- ços, recepcionistas e motoristas.

• Utilizadores temporários - pacientes (homens, mulheres, idosos ou crianças), visitan- tes, acompanhantes.