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CAPÍTULO 1. ENERGIAS RENOVÁVEIS: O Estado Empreendedor e as Capacidades

1.4 Considerações finais

Os estudos e considerações sobre a produção e uso de energias renováveis têm seus resultados no indicativo de perspectivas limitadas na superação ou até mitigação da participação do enraizado modelo fóssil presente nas atividades econômicas. Os obstáculos para as tecnologias verdes ou renováveis no fornecimento de energia mostram-se em múltiplos campos, tanto naqueles relacionados à dependência de caminho da tecnologia fóssil dominante que se retroalimenta, quanto no longo e incerto caminho a ser percorrido pelas

32 Programa Minha Casa, Minha Vida; Programa de Integração da Bacia do Rio São Francisco; Projeto da Usina

Hidrelétrica de Belo Monte; Programa de Revitalização da Industria Naval; Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel; Plano Brasil Maior; Programa Bolsa Família e Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego.

tecnologias renováveis. Da mesma forma, as observações e apontamentos de estudos sobre o clima, poluição, contaminação e muitos outros aspectos ligados à relação sociedade e meio ambiente colocam em evidência a necessidade de mudança. No mesmo caminho, os indicativos da realidade social em determinadas regiões expõem os resultados de modelos políticos, sociais e econômicos insuficientes do ponto de vista inclusivo.

Esse complexo emaranhado tem na participação do Estado um elemento de destaque. Tanto assim que a formulação e execução de políticas públicas para incentivo à produção e uso das energias renováveis são colocadas como um instrumento fundamental para o desenvolvimento dessas tecnologias e de seus mercados no mundo. A preocupação com o papel do Estado e sua capacidade de relação com a iniciativa privada para induzir a criação de novos produtos, processos e mercados, e de formular e executar políticas públicas estratégicas para a sociedade está na construção dos argumentos que evidenciam o Estado Empreendedor e as Capacidades Estatais.

Na construção dos argumentos das duas abordagens, há referências, de um lado, ao neoliberalismo e à ideia de que quanto menor a participação do Estado melhor será o desempenho dos mercados e dos indicadores socioeconômicos e, de outro, a fé utópica de que o Estado é a solução para a promoção do desenvolvimento. Da mesma forma, para ambas abordagens, o papel do Estado não se restringe às atividades típicas da iniciativa pública, como educação e saúde, ou à correção das falhas de mercado. A visão ampliada, coloca o Estado como um ator importante na construção de novos mercados pautados em novas tecnologias e no desenvolvimento socioeconômico sustentável em nível local, regional e nacional, assim como no âmbito dos acordos e pactos internacionais.

Além da discussão sobre questões recentes da economia mundial e das teorias do desenvolvimento, é possível apontar os precedentes ou a base de discussão. Para o Estado Empreendedor, aquele capaz de manter investimentos em C&T, assumir riscos e abrir espaço para a atuação da inciativa privada, a escola evolucionária fornece a visão da inovação em produtos e processos conformando novos mercados, induzindo a concorrência e provocando o desenvolvimento econômico, num processo marcado pelo avanço da tecnologia em suas várias formas – rotinas, máquinas, conhecimentos e outros – e, pautado pela ação de vários atores e instituições – organizações de pesquisa, governos, universidades, empresas, e outros – que formam os sistemas de inovação.

As Capacidades Estatais e suas múltiplas dimensões compõem um conjunto de instrumentos e instituições que dotam o Estado para implementar políticas públicas em várias áreas estratégicas. Nesse conjunto estão as dimensões contidas na estrutura burocrática estatal

e nos canais de conexão com a sociedade, não só para mediar a interação com a iniciativa privada, mas também, para legitimar políticas públicas junto à sociedade e seus vários segmentos. A capacidade de ação do Estado distinta em cada país, construída ao longo do tempo e a partir de referências do ambiente institucional e cultural, abre espaço para a chamada capacidade comparada ao analisar as Capacidades Estatais dos países em determinadas áreas estratégicas, como as políticas de inovação e de infraestrutura energética. Essas políticas podem produzir resultados que de fato promovam o desenvolvimento de setores estratégicos alinhados a determinados objetivos inseridos em um contexto socialmente legítimo – Estado Desenvolvimentista; porém, também pode beneficiar determinados segmentos sociais limitando o retorno à sociedade – Estado Predador, conforme apresenta o Quadro 1.

Quadro 1 Relação entre o Estado Empreendedor e as Capacidades Estatais

 Construções teóricas sobre o desenvolvimento e o papel do Estado com a visão de que tanto o mercado quanto o Estado são instrumentos imperfeitos na promoção do desenvolvimento.  Ênfase na interação entre iniciativa pública e privada com resultados compartilhados no

atendimento de interesses distintos em conexão com a sociedade

Estado Empreendedor Capacidades Estatais Precedentes - Economia Evolucionária

- Inovação em produtos e processos

- Desenvolvimento tecnológico - Sistemas de inovação

- Desenvolvimento (sustentabilidade) - Conexão com a sociedade

- Legitimidade e ação positiva

Estado

Iniciativa Pública

- Ambiente: risco e incerteza do desenvolvimento tecnológico - Assume riscos e oferece oportunidade para a inovação - Investimento de longo prazo em C&T e P&D

- Múltiplas dimensões (administrativa, fiscal, coercitiva, relacional, entre outras) - Habilidade de implementar formas variadas de políticas públicas

- Capacidades em segmentos estratégicos - Desenvolvimentista – Predador

Empresas

Iniciativa Privada

- Pouco dispostas a correr os riscos do processo de inovação - Inovam em produtos e processos organizacionais e operacionais - Compartilham custos e benefícios (Ecossistema de inovação simbiótico)

- Importantes na execução da política pública

- Interesses próprios associados aos objetivos das políticas instituídas

- Estratégias para adaptação aos estímulos colocados pelo Estado

Fonte: Elaboração própria

Nas duas discussões, o papel do Estado é destacado. De um lado, como empreendedor ao assumir riscos e manter investimentos em C&T e P&D de longo prazo e oferecer oportunidades às empresas, assim como para instrumentalizar ou fomentar sistemas de inovação simbióticos. De outro, ao ser capaz de formatar e implementar políticas públicas com objetivos estratégicos e promover o desenvolvimento econômico com inclusão social.

Assim, para empreender, o Estado precisa ser capaz de fazer variadas formas de política e, ao mesmo tempo, estar conectado com a sociedade. Essa conexão forma-se por canais distintos voltados à interação com a iniciativa privada e a inovação em produtos e processos, viabilizando novos mercados, quando as empresas acessam as oportunidades, participando e desenvolvendo suas atividades alinhadas aos instrumentos e objetivos das políticas públicas conectadas às demandas da sociedade.

Nesse sentido, o próximo capítulo explora o contexto internacional e nacional de inserção da produção brasileira de biodiesel e discute a formatação e os resultados do PNPB, uma política pública voltada à implantação de uma energia renovável complementar ao uso do petróleo e que se propõe a enfrentar os riscos e desafios inerentes à criação de um novo mercado, construção de novas tecnologias e promoção do desenvolvimento, portanto, mobilizadora de Capacidades Estatais em um ambiente permeado pelo empreendedorismo do Estado. No capítulo seguinte, o olhar sobre as estratégias e os desdobramentos das ações da Petrobras no contexto do PNPB, procura identificar a movimentação da empresa e os efeitos sobre a produção de biodiesel no Brasil.

CAPÍTULO 2. BIOCOMBUSTÍVEIS: a produção e uso de biodiesel no