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CAPÍTULO 4. PETROBRAS BIOCOMBUSTÍVEL: uma inovação na produção

4.2 Pesquisa agropecuária e agricultura familiar na Petrobras Biocombustível

4.2.2 Programa de apoio à Produção de Oleaginosas pela Agricultura Familiar

Nesse programa, a Petrobras Bicombustível vem trabalhando contratos de compra da produção de matérias-primas pela agricultura familiar, principalmente a estabelecida no Nordeste brasileiro. Esses contratos incluem a oferta de insumos e assistência técnica aos produtores e estão presentes desde o primeiro ano de operação das usinas de biodiesel da empresa. Inicialmente, essa ação mostrou-se ampla e efetiva no envolvimento da agricultura familiar, especialmente no período de 2009 a 2012, com resultados que apontam a participação de mais de 65 mil agricultores familiares.

As ações da Petrobras Biocombustível impactaram de forma efetiva a participação da Região Nordeste no ambiente nacional do Selo Combustível Social. Conforme discutido na terceira seção do capítulo 2, o ano de 2010, comparado a 2009, registra um aumento de 43% no número de famílias nordestinas envolvidas no Selo, um percentual construído a partir dos números registrados nos estados da Bahia e do Ceará, onde a Petrobras Biocombustível atua (MDA, 2016). Nos anos seguintes, 2012 e 2013, conforme pode ser observado no Quadro 7, ocorre retração do envolvimento dos agricultores familiares no programa e na mesma proporção essa situação é observada na diminuição das famílias participantes do selo no Nordeste, passando de 37 mil em 2012 para 25 mil em 2013 (MDA, 2016).

Quadro 7 Evolução do Programa de apoio à Produção de Oleaginosas pela Agricultura Familiar, Petrobras Biocombustível, 2009 a 2015

Ano Detalhes

2009 55.183 famílias

163 mil hectares plantados, sendo 128 mil com mamona e 35 mil com girassol. Aquisição de 32 mil toneladas de grãos por R$ 36 milhões.

2010

65.554 famílias

149 mil hectares plantados, sendo 122 mil com mamona, 17 mil de girassol e 10 mil com soja. Foram disponibilizadas mil toneladas de sementes (mamona e girassol). Adquiridas 84,5 mil toneladas de grãos a custo de R$ 80,4 milhões, em uma atividade de envolveu 600 técnicos agrícolas. Também foram assinados convênios para estruturação produtiva de solos no valor de R$ 8,5 milhões beneficiando 500 famílias produtoras de oleaginosas. Esse convênio prevê atingir 40 mil famílias e investimentos de R$ 45 milhões

1.250 famílias

Plantio de 24 mil hectares de palma no Pará para produção de 120 mil toneladas de óleo

2011 60.000 famílias

Plantio de 192 mil hectares (79% de mamona, 17% de soja e 4% de girassol). Aquisição de 62 mil toneladas de grãos.

2012 33.700 famílias

Plantio de 130 mil hectares e iniciado o processo de atualização da estratégia agrícola com o objetivo de trazer maior sustentabilidade ao negócio.

2013 17.100 famílias

Plantio de 81 mil hectares com mamona e girassol no Nordeste e soja no Sul e assinatura de convênios com o governo do Estado da Bahia para prestar assistência técnica a 8.700 agricultores familiares para fornecimento de mamona, girassol e óleo de dendê, com custo de R$ 8 mil e, também com o governo do Estado do Ceará com custo de R$ 3 mil. E ainda o plantio de 14,7 mil hectares de palma, totalizando 27,2 mil hectares no Estado do Pará

2014 6.252 famílias

Plantio de 19,3 mil com mamona e girassol distribuídos em seis estados do Semiárido. Também foi iniciado o programa de aquisição de óleos e gorduras residuais junto às cooperativas de catadores nas regiões de Salvador e Fortaleza, assim como da aquisição de óleo de víscera de peixe dos piscicultores do Ceará.

2015

Atualização de sua estratégia agrícola, na busca por maior competitividade no mercado de biodiesel. A atuação no Semiárido por meio de cooperativas de agricultores familiares, representado 80% da quantidade necessária para o cumprimento das exigências do PNPB. No Pará, o projeto atingiu 42 mil hectares de palma e passa por revisão adiando a instalação das extratoras de óleo e da planta industrial.

Fonte: elaborado a partir de PBIO (2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015)

Os registros dos anos seguintes demonstram as dificuldades enfrentadas pela Petrobras Biocombustível com as estratégias de aquisição de matérias-primas da agricultura familiar. Nesse momento, a revisão das ações, a busca por novos parceiros e novas formas de envolvimento da agricultura familiar são percebidas nos convênios firmados com governos estaduais e cooperativas, assim como a participação de matérias-primas para além da mamona e girassol, fomentadas nos anos anteriores, como a soja, o óleo residual e a gordura animal.

Dessa forma, o número de famílias envolvidas nas atividades da empresa cai para 17 mil em 2013, com reflexos para a participação nordestina no Selo Combustível Social que ficou em apenas 4,7 mil famílias em 2014, conforme MDA (2016).

Os desdobramentos da atuação da Petrobras Biocombustível no Semiárido são abordados em estudos como o realizado por Bezerra et al. (2015) sobre a produção de mamona na Região do Cariri no Estado do Ceará. Os autores relatam a queda na produção devido à desistência de parte dos produtores da região como resultado da falta de interesse dos produtores nos biocombustíveis, da ineficiência da assistência técnica, da falta de informação e de recursos financeiros, assim como da seca intensa dos últimos anos que impactou os níveis de produtividade, afastando o interesse do produtor e da Petrobras Biocombustível na manutenção dos incentivos.

Na região de Montes Claros, município de Minas Gerais que abriga uma usina da Petrobras Biocombustível, Watanabe et al. (2012) destacam dois arranjos de produção, um com a soja e outro com a mamona. A produção de soja tem a participação da agricultura familiar com origem na Região Sul do Brasil e organizada em cooperativa que faz o contrato com a Petrobras para o fornecimento da matéria-prima alinhado ao Selo Combustível Social. Já para a mamona, as dificuldades dos produtores para acesso ao crédito e tecnologias, assim como na sua organização e no enfrentamento das condições de solo e clima tem deixado pouco espaço para o sucesso das ações de apoio a produção colocadas pela Petrobras.

Em Zonin et al. (2014) é trabalhada a estratégia da Petrobras Biocombustível de promover, no curto prazo, os programas de apoio à soja e à canola, principalmente na Região Sul, onde a empresa, em parceria com a BSBios, opera duas usinas e incorpora a realidade que coloca a soja como principal matéria-prima quando considerados aspectos econômicos, tecnológicos e sociais. De fato, essa condição tem sido absorvida pela Petrobras Biocombustível, uma vez que na produção de seu biodiesel, a soja se destaca como principal matéria-prima, sendo as outras oleaginosas demandantes de conhecimentos e tecnologias de produção, a exemplo do pinhão-manso e outras como a mamona, comercializadas em outros mercados e utilizadas pela empresa para alinhar-se ao Selo Combustível Social, uma vez que comercializa o óleo de mamona no mercado da ricinoquímica, conforme apontam Kato (2012) e Bezerra (2015)113.

Os resultados das estratégias e ações inseridas das Redes de Pesquisa em Oleaginosas da Petrobras Biocombustível e do Programa de apoio à Produção de Oleaginosas pela

113 Essa estratégia não é exclusiva da Petrobras Biocombustível, as demais empresas produtoras de biodiesel

Agricultura familiar, aqui apresentados, tiveram desdobramentos sobre a atuação da Petrobras Biocombustível no contexto da produção brasileira de biodiesel. A próxima seção procura analisar a participação da empresa no PNPB, retratando as condições de inserção no ambiente nacional e os impactos na produção de biodiesel das regiões e estados em que atua.