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ESCOLAS DA AIB-PB

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao desenvolvermos esse trabalho, observamos que as considerações levantadas seriam bastante relevantes pelo ineditismo da temática, na medida em que inexistem obras sobre a presença da Ação Integralista Brasileira na Paraíba. Mais do que encerrar as possibilidades de novas abordagens sobre a AIB-PB, acreditamos que a presente dissertação sirva de contorno inicial, capaz de promover, aos leitores e até mesmo a nós, condições para que sejam realizadas novas perspectivas acerca do tema.

O integralismo atuou no cenário político brasileiro durante parte significativa do governo de Getúlio Vargas. Neste período temporal (1933-1938), os seguidores do sigma desenvolveram toda uma Cultura Política própria, mobilizando milhares de pessoas por todo o Brasil, que enxergavam a AIB como sendo capaz de desenvolver soluções aos problemas do país através de uma revolução cultural. Incorporando uma mobilização constante, a Cultura

Política Integralista consistia em transformar “cidadãos soldados”, que ao menos na teoria

cumpririam, sem questionamento, todos os princípios envolvidos no projeto de criação do Estado Integral, regido de perto pela tríade “Deus, Pátria e Família”.

Na Paraíba, os integralistas se instalaram em meio a um quadro de reordenamento. A vitória da Aliança Liberal em 1930 e, principalmente, o aspecto mitológico do “filho da terra”, João Pessoa, provocara uma herança política muito forte, fator indispensável à formação contextual do período. Tal aspecto é ponto crucial para afastarmos indícios interpretativos de simples reprodução mimética, e entendermos o percurso desenvolvido pela AIB-PB como envolto de especificidades locais.

Constatamos como uma das principais especificidades do integralismo em terras paraibanas a dificuldade dos “camisas verdes” em se infiltrarem na política partidária. O centro político estava centrado em forças tradicionais, que pós “Revolução de Outubro” se reagrupava em dois fortes partidos, mantendo a tradição oligárquica. O Partido Progressista (PP), principal sigla que durante o período estudado se manteve como sendo situação, e o Partido Republicano Libertador (PRL), maior força opositora, preenchiam o espaço eleitoral, onde por meio de ações muitas vezes arbitrárias inviabilizavam os interesses do sigma e de qualquer outra legenda. Em meio a essa dificuldade percebemos uma ação dúbia em relação à atuação integralista. A força dos partidos hegemônicos limitava o crescimento da AIB-PB, fazendo-o ser quase que insignificante eleitoralmente, fator que ausentava qualquer barreira institucional contrária à pregação de sua doutrina, ou seja, o discurso integralista, principalmente a perspectiva anticomunista, não encontrava dificuldades em sua expansão, ao

ponto que esse discurso quando transformado em interesse político-partidário passara a ser visto com ressalva e casos isolados, sofrendo inclusive perseguições.

Outro aspecto bastante revelador da pesquisa foi a divergência envolvendo a propagação oficial do movimento integralista e as fontes extraoficiais. Os números de seguidores, de periódicos, núcleos e a impressão de adesão completa da Cultura Política

Integralista puderam ser desmistificados, tornando ao nosso entender, a pesquisa mais

próxima da realidade humana dos integralistas paraibanos, que mesmo imbuídos do credo da AIB, não raramente se posicionaram de maneira antagônica, subvertendo princípios doutrinários e praticando ações contrárias as teorias do sigma. Todo esse processo só foi possível, mediante meticulosa análise dos veículos de imprensa escrita da época, com destaque ao jornal A Imprensa, que além de ter sido nossa principal fonte, foi decisivo no processo de articulação e divulgação integralista.

Por meio do jornal A Imprensa, pudemos constatar o explícito patrocínio do clero ao integralismo. Motivados por meio da conduta de recristianizar o país, os membros da Igreja Católica não pouparam esforços para auxiliar a AIB-PB. Mesmo comprometidos partidariamente com o Partido Progressista, o clero paraibano uniu forças com “os camisas verdes” no combate ao “perigo vermelho”, buscando valorizar os estratos filosóficos pertencentes à Cultura Política Integralista ao ponto que repudiava as características contidas na Cultura Política Comunista, criando nesse sentido uma intervenção em torno da sociedade civil, que passara a presenciar não apenas embates teóricos, mas também confrontos físicos entre integralistas e comunistas. Se tais embates não trouxeram sucesso significativo na realização dos projetos políticos desejados, o mesmo não podemos afirmar quanto à transformação no cotidiano de algumas pessoas e até mesmo famílias.

A mística envolvida no conjunto de princípios da Cultura Política Integralista alcançou em muitos casos extrema compatibilidade não apenas com ideias e interesses, mas com a convicção pessoal, movendo direcionamentos entre paixões e sentimentos como a esperança, o orgulho, o medo e ódio; que mobilizados por meio de representações e imaginários, foram capazes de influenciar valores construídos em torno da religião, da nação e da família. Para tanto, um conjunto de estratégias foi posto em prática pela AIB-PB, envolvendo posicionamentos públicos como festividades, desfiles, reuniões, comícios e outra série de ações que terminavam por interferirem na vida privada, superando mesmo a extinção e perseguição da AIB-PB, existindo inclusive na chegada da morte, onde o falecido integralista era enterrado vestindo o “manto verde”.

Evocando todos essas características, os integralistas paraibanos buscaram construir figuras mitológicas, heróis exemplares, como também inimigos odiados, unindo a perspectiva política não apenas a apreensão racional de projetos sistemáticos e coerentes, mas também aos fatores culturais, incluindo o ordenamento com valores já existentes na sociedade paraibana. Enfim, longe de tentarmos apresentar respostas definitivas sobre o tema abordado, tencionamos indicar, por meio de nossa escrita, meios viáveis que possam proporcionar debates futuros.