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INTEGRALISTA X CULTURA POLÍTICA COMUNISTA NA PARAÍBA

Na Paraíba, assim como ocorreu por todo o Brasil, as relações entre integralistas e comunistas se desenvolveram de maneira pouco amistosa. No período de atuação da AIB-PB, encontramos diversos momentos de provocações e embates envolvendo membros dos dois grupos, que à todo momento buscavam legitimar suas convicções ante a população e efetivar seus projetos políticos. Elencamos adiante os pontos mais importantes dos estratos filosóficos de Cultura Política Comunista96, como também da Cultura Política Integralista, visando perceber os aspectos antagônicos entre elas, bem como a atuação das mesmas frente à população paraibana dos anos 1930.

Segundo Motta (2013, p. 21-22) uma das convicções fundamentais da Cultura Política

Comunista, seria a ideia de que uma nova sociedade surgiria fundamentada na superação da

pobreza e da miséria excluindo, nesse sentido, o “atraso social da tradição”, com o fim do sistema de propriedade privada bem como da religiosidade. Além desses aspectos, segundo o mesmo autor (MOTTA, 2013, p.23) outro ponto essencial da Cultura Política Comunista seria o culto a URSS e a formação de uma nova moral, dotando “homens e mulheres de escala de valores capazes de substituir os sistemas morais pré-revolucionários, fundamentando os comportamentos da nova sociedade” (Ibid. p.25).97 Todo esse corpo ideológico fomentado na

96 Cabe destacar que como a ênfase da nossa dissertação é a Cultura Política Integralista, optamos por não nos

aprofundarmos no que diz respeito à Cultura Política Comunista, retirando nesse caso apenas alguns apontamentos feito por Motta (2013). Para maiores informações consultar MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A Cultura Política Comunista. Alguns Apontamentos. In: NAPOLITANO, Marcos, CZAJKA, Rodrigo e MOTTA, Rodrigo Patto Sá. (Orgs.) Comunistas Brasileiros: cultura política e produção cultural. Belo Horizonte. Editora UFMG, 2013.

97 Em apresentação detalhada, Motta (2013) afirma que por meio da Cultura Política Comunista os militantes

base da Cultura Política Comunista era, absolutamente, rejeitado pelos integralistas, que também afirmavam lutar por uma transformação na sociedade, pregando o alcance do “homem integral”, combatendo dois perfis de homens, o “homem cívico” fruto do liberalismo e o “homem econômico” reflexo do comunismo, já que o homem, na perspectiva integralista, deveria contemplar além das aspirações cívicas e econômicas, também as espirituais.98 Essa postura de mudança humana se congregava ao respeito à propriedade privada, ao fortalecimento das tradições e, principalmente, a tentativa de formatar o comportamento a tríade “Deus, Pátria e Família”. Toda essa divergência de convicções passara a ser muito útil a AIB, na medida em que o anticomunismo já possuía grande repercussão na sociedade brasileira dos anos 1930, fato comprovado por Trindade (1979, p.61) ao revelar que esse era o principal motivo de adesão ao integralismo.99

Os vários segmentos da oligarquia paraibana, incluindo, principalmente, a Igreja Católica, e o próprio integralismo, empreenderam verdadeira campanha no sentido de inculcar o anticomunismo, tanto no que diz respeito à elaboração de representações mentais, quanto em relação à materialização de propaganda, por meio de atividades educativas, movimentos policiais, e manifestações públicas100 como as que traziam informações sobre os perigos da

Lógica Terrorista:

(...) O bispado forneceu a lista dos padres e religiosos caídos ao pé da cruz (...) o comunismo fez do martelo e da foice o seu símbolo. Ora, é natural que os defensores da cruz sejam recebidos a marteladas e foiçadas ou, para variar, à faca ou bala. A terceira Internacional admite unicamente o Estado, chefe do temporal e degolador do espiritual. Daí a guerra de extermínio movida aos dignitários da Igreja.

A religião vê na família a obra prima de Deus, a primeira sociedade natural, a célula mãe da formação física e moral. Moscou execra os elementos constitutivos do lar, como sejam o casamento, o pudor, a felicidade, o poder paterno e a piedade filial. (A

Imprensa, 12 fev. 1935)

devoção à causa deveria ser total e abnegação seria ilimitada, à custa de sacrifícios pessoais e familiares, e mesmo eventuais sofrimentos físicos em caso de prisão. (MOTTA, 2013, p. 26).

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Plínio Salgado defendia que a liberal democracia seria a “filha da philosofia materialista e irmã gêmea do comunismo” e concebia este último como desdobramento do liberalismo que seria o promotor da desordem no mundo ao enfraquecer o Estado. Contrariando essa postura, o Integralismo se apresentava como “única força capaz de implantar ordem, disciplina. A única força capaz de amparar o homem, hoje completamente esquecido pelo Estado liberal-burguês, como aniquilado e humilhado pelo Estado marxista soviético.” (SALGADO, 1955,p.32).

99 Importante destacar que na Paraíba os elementos intrínsecos ao comunismo presentes na cultura política do

período, não foram criados pelas elites políticas e intelectuais paraibanas dos anos seguintes a 1930, mas remetem a uma lógica autoritária anterior a isso, algo produzido ainda no século XIX sob a batuta da Igreja Católica, que enxergava no comunismo uma nova e perigosa doutrina que rivalizaria com a moral cristã. (CAVALCANTE NETO, 2013,p.67).

100 No que diz respeito aos meios de propaganda integralista na Paraíba, debateremos no terceiro capítulo. Sobre

os aspectos anticomunistas na Paraíba, consultar CAVALCANTE NETO, Faustino Teatino. A ameaça

vermelha: o imaginário anticomunista na Paraíba (1917-1937). Tese (Doutorado em história) Pernambuco-

A descrição da “lógica terrorista” comunista é forçadamente descrita como um ambiente de ódio e perigo, principalmente para os religiosos, que como tencionava demonstrar o relato, estavam sendo perseguidos e assassinados por meio de “foiçadas e marteladas”. Como a grande parte da população brasileira, e também paraibana, era movida as predisposições cristãs, a informação de ataques ao clero tinha como intenção despertar sentimentos de sensibilização dos leitores, algo ratificado pela pregação de que na capital comunista os elementos construtores do lar são simplesmente execrados, findando o pudor, a felicidade e até mesmo os laços entre pais e filhos. Mesmo em meio a esses recorrentes direcionamentos, as ideias de esquerda vinham sendo propagandeadas e os trabalhadores passavam a se organizar realizando greves e movimentos paredistas desde o começo do século XX, como nos mostra o quadro abaixo: