• Nenhum resultado encontrado

HOMOLOGAÇÃO, A DECADENCIA DO DIREITO DE REPETIR O INDEBITO TRIBUTÁRIO SOMENTE OCORRE, DECORRIDOS CINCO

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em 09 de fevereiro de 2005, quando foi publicada a Lei Complementar nº 118/2005, estava pacificado na jurisprudência que os contribuintes que houvessem recolhido indevidamente tributos lançados por homologação teriam prazo de até dez anos, contados da data do fato gerador, para ingressar em juízo pedindo a restituição. Esse entendimento perdurou por cerca de uma década, e ficou conhecido como a tese dos “dez anos” dos “cinco mais cinco” e resultou da interpretação feita pelo STJ do art. 168, I do CTN. Entendeu o tribunal que o momento em que se extinguia o crédito tributário, no caso dos tributos sujeitos a lançamento por homologação, se dava na data em que ocorresse a homologação, expressa ou tácita.

De fato esse não era o melhor posicionamento, pois a homologação não tem a finalidade de extinguir o crédito tributário, destinando-se a convalidar a atividade apuratória desenvolvida pelo contribuinte.

Com o advento da Lei Complementar nº 118/2005, foi expressamente determinado que o crédito tributário, no caso dos tributos sujeitos a lançamento por homologação, seria extinto no momento do pagamento. A nova norma, visando ter aplicação retroativa nos termos do art. 106 do Código Tributário Nacional, se auto proclamou interpretativa.

As leis interpretativas surgem para dirimir controvérsia doutrinária e/ou jurisprudencial. Contudo, e apesar de não concordar com o posicionamento então adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, entendo que já não existia a necessidade de uma norma interpretativa. Além disso, a LC nº118/2005 conferiu entendimento contrário àquele defendido pelo STJ relativamente ao momento da extinção do crédito tributário.

Assim, a Lei Complementar nº118 não possui essência interpretativa. Nesse sentido se posicionaram o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, pois apesar de a norma se apresentar como lei interpretativa, em verdade não o era. Entenderam os tribunais que a LC nº 118/2005 inovou no ordenamento jurídico, conferindo ao art. 168, I do CTN sentido diverso daquele que o STJ havia dado. Como consequência, vedada estaria sua aplicação retroativa.

No que se referia à aplicabilidade, o Superior Tribunal de Justiça inicialmente entendeu que a norma somente seria aplicável àqueles pagamentos que fossem efetuados após sua entrada em vigor, utilizando o art. 2.028 do Código Civil para transição do prazo decenal para o prazo quinquenal.

Contudo, anos depois, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, tendo esse tribunal decidido que a nova lei teria aplicação imediata a todas as ações propostas após a entrada em vigor da nova norma, independentemente do momento em que o pagamento tivesse sido feito. Desse modo, considerou que o prazo de vacatio legis permitiu aos contribuintes que tomassem ciência do novo prazo e que ajuizassem as ações necessárias à tutela dos seus direitos. Assim, aos contribuintes foi concedido um prazo de120 dias para se adequarem, sob pena de verem prescritos seus direitos.

Posteriormente, o STJ aderiu ao posicionamento do STF, considerando a nova lei aplicável imediatamente a todas as ações propostas após sua entrada em vigor. Contudo, a determinação da aplicação imediata do novo prazo, concedendo aos contribuintes 120 dias para que tomassem ciência da mudança legislativa e ajuizassem as respectivas ações, não foi a melhor escolha, pois não havia expressa disposição nesse sentido. Esse entendimento resultou da aplicação analógica irregular da súmula 445.

Com efeito, mais acertado foi o posicionamento inicial do STJ, pois prezou pela aplicação das normas de direito intertemporal, garantindo aos contribuintes a transição segura e previsível de um prazo para outro.

REFERÊNCIAS

ABAL, Rafael Peixoto. Decadência e os tributos sujeitos ao lançamento por homologação. 1ª ed. 8ª reimpressão. Curitiba: Juruá, 2010.

AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

BRASIL. Código Civil (2002). Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>

BRASIL. Código Tributário Nacional (1966). Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Arguição de Inconstitucionalidade Ed-Resp 644.736/PE 2005/0055112-1. Corte Especial. Relator Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI. DJ 27/08/2007.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Divergência no Recurso Especial 42720 RS 1994/0039612-0. Relator Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS. Brasília, 14 de março de 1995. DJ 17/04/1995 p. 9551.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.269.570/MG. Relator Min. Mauro Campbell Marques. DJ de 04.06.2012.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: ADI-MC 605 DF. Relator Min. CELSO DE MELLO. DJ 05-03-1993 PP-02897 EMENT VOL-01694-02 PP-00252.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 566.621. Relatora Min. Ellen Gracie. DJe-195 DIVULG 10-10-2011 PUBLIC 11-10-2011 EMENT VOL-02605-02 PP- 00273.

CARVALHO, Aurora Tomazini de. Decadência e Prescrição em Direito Tributário. 1. ed. São Paulo: MP Ed., 2007.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23. Ed. Revisada e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2011.

COELHO, Suellen Caroline. Direito Tributário: prescrição e decadência. 2010. 77f. Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito - Universidade Vale do Itajaí – UNIVALI. Itajaí, 2010. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Suellen%20Caroline%20Coelho.pdf >

MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário Nacional, vol. III. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 27. ed. Revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Malheiros, 2006.

MACHADO, Hugo de Brito. Repetição do indébito e compensação no Direito Tributário. 1ª. ed. Reimpressa. São Paulo: Dialética; Fortaleza, Instituto Cearense de Estudos Tributários, 1999.

MALLMANN, Nelson. Decadência e prescrição no direito tributário. 2008. 100 f. Monografia para especialização em Direito Tributário - Escola de Administração Fazendária, Brasília, 2008. Disponível em:

<http://www.esaf.fazenda.gov.br/a_esaf/biblioteca/arquivos_monografias/arquivo.2013-04- 17.2067487320. >

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

MOMBELLI, Fernando. As Alterações Introduzidas pela Lei Complementar nº 118, de 2005, no Prazo para Repetição de Indébito. 2008. 53 f. Monografia (Pós-Graduação em Direito Processual Tributário) - Centro de Educação a Distância, Universidade de Brasília, Brasília, 2008. Disponível em:

<https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF- 8#q=fernando+mombelli+As+Altera%C3%A7%C3%B5es+Introduzidas+pela+Lei+Comple mentar+n%C2%BA+118%2C+de+2005%2C+no+Prazo+para+Repeti%C3%A7%C3%A3o+d e+Ind%C3%A9bito+FERNANDO+MOMBELLI>

ROCHA, Valdir de Oliveira. Problemas de Processo Judicial Tributário, vol. IV. 1. ed. São Paulo: Dialética, 2000.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Processo Tributário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. 10.ed. Rio de Janeiro; São Paulo: Renovar, 2003.