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Este trabalho teve como objetivo geral discutir a avaliação da aprendizagem numa perspectiva da sua dimensão política. Para darmos conta desse objetivo estudamos as dimensões que influenciam a escrita Avaliação da Aprendizagem, buscamos descrever suas características e centramos na discussão sobre a dimensão política da avaliação da aprendizagem, e como esta influencia as práticas avaliativas cotidianas.

Atestamos em nossas leituras que os principais teóricos brasileiros da área de avaliação da aprendizagem estudados convergem no sentido da construção de práticas avaliativas com características: democráticas, inclusivas, respeitosas e legítimas que sirvam ao objetivo central do ato avaliativo. Tal centralidade está ancorada na ideia de que todos os sujeitos aprendem, e a avaliação, como parte essencial do trabalho pedagógico, deve ser orientada no sentido de garantir que os sujeitos envolvidos no processo aprendam, progressiva e qualitativamente.

Por meio da realização deste Trabalho foi possível analisar diferentes concepções de avaliação da aprendizagem. Tais concepções trouxeram elementos sobre as principais características do ato avaliativo como: seu caráter processual e contínuo, sua complexidade marcada por relações de poder, mobilização de sentimentos, consideração de objetividades e subjetividades, uso coerente e diversificado de instrumentos avaliativos, mediação, diálogo e entendimento da avaliação como prática social que detém o poder de definir interrupções e continuidades de trajetórias escolares.

Todas essas características estão contidas no universo das dimensões que orientam as práticas avaliativas. A dimensão pedagógica que está relacionada à intencionalidade e planejamento das atividades; a dimensão técnica que traz a utilização de conteúdos, métodos e instrumentos; a dimensão estética que se ocupa dos processos criativos e da organização dos trabalhos de forma a considerar as individualidades e a coletividade; a dimensão ética que se constitui num marcador comum a todas as dimensões. Esta serve como norte para um direcionamento das práticas no sentido de respeito mútuo e solidariedade em busca do bem comum e por fim, a dimensão política que busca um olhar direcionado para as questões

sociais que envolvem a avaliação da aprendizagem e influenciam sensivelmente os processos de tomada de decisões que direcionam o ato avaliativo.

Com a dimensão política da avaliação da aprendizagem em destaque, este trabalho trouxe uma discussão acerca de como essas características influenciam nas práticas avaliativas. Discutimos como a avaliação sofre uma espécie de desvirtuamento, abandonando sua função de acompanhar o desenvolvimento das aprendizagens e orientar o rumo do trabalho pedagógico, para assumir uma lógica classificatória que objetiva selecionar os aptos e os inaptos. Assim, a avaliação passa a atuar como um instrumento de seleção social a serviço de interesses mercadológicos hegemônicos que promovem desigualdade e exclusão.

Vimos também concepções da dimensão política da avaliação que denotam a importância de se considerar as condições de existência dos sujeitos envolvidos no processo no momento de tomada de decisão de que práticas utilizar. Precisamos tencionar isso porque tais decisões definem interrupções ou continuidades de trajetórias escolares a depender do ato avaliativo praticado, pois, este poderá ter potencial inclusivo ou excludente. Essa prática precisa estar devidamente circundada de todas as dimensões do trabalho pedagógico de forma harmônica para garantia da sua legitimidade.

Por fim, analisamos quais dimensões permeiam as discussões fomentadas pelos principais teóricos brasileiros na área de avaliação da aprendizagem e a análise revelou que as dimensões que prevalecem no arcabouço teórico estudado são as dimensões: pedagógica e técnica. Porém, o desenvolvimento do trabalho evidenciou que existem muitas outras questões que envolvem a avaliação da aprendizagem que inicia com a reflexão sobre a concepção de avaliação, seu planejamento, seu desenvolvimento e a retomada para buscar melhorias no ensino e na aprendizagem.

Concluímos que todas as dimensões da avaliação: pedagógica, técnica, estética, ética e política, são importantes e necessárias para o desenvolvimento da prática avaliativa. Entretanto, nas escritas das obras que tratam de avaliação, fica mais evidenciado o destaque e a ênfase para a dimensão pedagógica e a dimensão técnica.

Temos consciência de que este trabalho não se esgota aqui e que muitas pesquisas poderão ser realizadas a fim de superar as lacunas que não foram preenchidas nesse trabalho acadêmico. Embora reconhecendo que ainda há muita

pesquisa a ser feita, não podemos deixar de registrar que não foi tarefa fácil selecionar os teóricos brasileiros, suas obras e suas contribuições para a área. Também não foi tarefa simples a leitura e a busca de elementos que respondessem a questão da pesquisa “como a dimensão política da avaliação da aprendizagem influencia as práticas avaliativas?”.

O desafio de fomentar a discussão em torno da dimensão política da avaliação da aprendizagem foi enorme, mas também foi imprescindível, pois conseguimos compreender como a dimensão política é determinante nas decisões que tomamos para avaliar. E essa discussão iniciada poderá ser ampliada, principalmente nos ambientes de formação de novos profissionais de educação, essencial para o desenvolvimento do interesse no aprofundamento dos estudos em avaliação da aprendizagem, especialmente na perspectiva da dimensão política e do aperfeiçoamento das práticas avaliativas na direção de um ato avaliativo inclusivo.

Afinal, avaliamos para tomar decisões em torno dos processos de ensinar e de aprender porque estamos sempre em busca de desenvolver trabalhos melhores, mais articulados, mais significativos e que promovam a transformação com qualidade da educação.

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