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O objetivo do presente trabalho, conforme aludido na introdução, fora a análise da materialidade do crime de homicídio, nos casos de ausência do cadáver. Visando verificar a possibilidade ou impossibilidade de condenação do acusado nesses casos.

Assim, através do estudo realizado extrai-se que ante a ausência do corpo da vítima, e consequentemente a impossibilidade de realizar o exame de corpo de delito direto, que constitui a principal prova material dos crimes que deixam vestígios, o convencimento do juiz será formado através de outros meios de provas, que podem derivar do exame indireto ou através de testemunhas. Importante destacar que a doutrina, majoritariamente, reconhece que o cadáver não é mais o único meio de provar a ocorrência do homicídio, pois é possível através das provas testemunhais e as demais provas, desde que lícitas e sólidas, formar o convencimento do julgador.

Também constatou-se que, o entendimento jurisprudencial, inclusive no Supremo Tribunal Federal, é no mesmo sentido, haja vista que tanto nos casos narrados como nas jurisprudências citadas, nos casos de homicídio sem cadáver, as decisões de pronúncia são fundamentadas nos vários meios de provas produzidas durante o processo, independentemente da existência do exame de corpo de delito direito. Assim, apesar do exame de corpo de delito ser o meio mais concreto de verificar a ocorrência do homicídio, sua ausência não irá garantir a impunidade.

Salienta-se que, atualmente, através da evolução da ciência e tecnologia, as investigações criminais possuem meios periciais eficientes, que auxiliam na solução de crimes. A exemplo, o caso Eliza Samúdio, o corpo não foi encontrado até os dias atuais, contudo, não restam dúvidas acerca da existência do crime e sua autoria. E essa certeza foi formada, também, através de diversas provas, a exemplo do exame de DNA, a utilização de luzes e reagentes (luminol) que são capazes de detectar manchas de sangue não visíveis e o uso de luzes forenses para descobrir cabelos, impressões digitais etc.

Todavia, não há no Código de Processo Penal os requisitos mínimos ou parâmetros para a formação da materialidade, quando não há o exame de corpo de delito. Apenas que a prova testemunhal irá suprir a ausência deste, contudo, nos crimes de homicídio com ocultação do cadáver, são raríssimos os casos de testemunhas que presenciaram o fato. Assim, apesar do princípio do livre convencimento motivado e não haver hierarquia entre as provas, visando evitar arbitrariedades e decisões divergentes nos Tribunais de todo país, uma previsão legal, acerca da produção de provas aptas e convincentes para substituir o exame de corpo de delito direto, e não somente a previsão legal do art. 158 do Código de Processo Penal, seria o ideal para assegurar que não ocorram erros, como o caso dos Irmãos Naves, haja vista que a liberdade de um indivíduo está em risco.

Destarte, o processo penal deverá ocorrer observando os princípios do devido processo legal, da presunção de inocência, do in dubio pro reo, da vedação da provia ilícita e do livre convencimento motivado, pois uma condenação penal não poderá ser firmada em discordância com esses princípios.

Isto posto, conclui-se que é possível a condenação do acusado pelo crime de homicídio, ainda que ausente o cadáver, desde que o convencimento do juiz ao decidir pela pronúncia do acusado, não fundar-se em presunções ou na opinião pública, mas estar convencido, através de provas e testemunhas, da ocorrência do crime. Pois conforme os princípios constitucionais limitadores do poder punitivo do estado, ou seja, a presunção de inocência e in dubio pro reo, na dúvida deverá absolver, pois de um lado há a possibilidade de um erro por parte do judiciário e de outro a impunidade em relação ao autor de um crime. Assim, a materialidade do crime de homicídio sem cadáver pode ser formada por outros meios de provas e não somente pelo exame de corpo de delito direto.

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