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5 METODOLOGIA DA PESQUISA

8.1 Considerações Finais

A coordenação da qualidade ao longo da cadeia de produção, além de propiciar redução de perdas e de custos a todos os agentes, visa garantir um produto de qualidade e seguro ao consumidor final. A ausência de práticas de qualidade para coordenar a cadeia torna-a ineficiente em termos de qualidade dos processos e do produto.

A falta de coordenação da qualidade ao longo da cadeia ocasiona falhas que podem comprometer a qualidade do produto oferecido ao consumidor final, tornando essencial para as empresas processadoras de alimentos, conforme observado na pesquisa de campo, não somente realizar práticas de qualidade internas, mas transcender as práticas nos dois sentidos da cadeia: fornecedor de matéria-prima e distribuidor/consumidor final.

Pode-se concluir, mediante as observações e análises realizadas nos estudo de casos, que:

• as empresas pertencentes aos segmentos de produtos refrigerados apresentam especificidades quanto às práticas de qualidade que devem ser realizadas para assegurar a qualidade do produto final, tanto no segmento empresa processadora-fornecedor de matéria prima principal, empresa processadora- distribuidor quanto empresa processadora-varejo;

• as empresas processadoras pertencentes aos segmentos de leite e derivados e derivados de carne (produtos refrigerados), apresentam GCQ 3 à montante e à jusante na cadeia. Percebeu-se que essas empresas processadoras procuram tornar as práticas de qualidade comum para todos os seus fornecedores. A empresa processadora de leite e derivados incentiva os fornecedores de uma forma geral, a promoverem melhorias na qualidade do leite, pois realiza a prática de pagamento por qualidade. A empresa de cortes de frango congelados realiza as práticas de qualidade com todos os seus integrados (100%), que são estabelecidas via semi-integração vertical;

• a empresa processadora pertencente ao segmento de óleos e gorduras apresenta GCQ 2 (realiza aproximadamente 40% das práticas listadas) com o fornecedor entrevistado. Tal fato se deve à razão da soja ser uma commodity e a relação entre empresa processadora e fornecedor ocorrer em sua grande maioria, via mercado. Embora a matéria-prima seja uma commodity, a empresa processadora estabelece contratos de longo prazo com poucos fornecedores, e esse é o caso do fornecedor entrevistado. Percebe-se uma tendência da empresa para o ano de 2006, em estabelecer uma relação de parceria com todos os seus fornecedores de matéria-prima principal, iniciando um trabalho de extensão de aplicação de APPCC no campo;

• embora o resultado da pesquisa mostre que a empresa processadora de sucos apresentou GCQ 1 (realizando apenas 8% das práticas de qualidade listadas) com o fornecedor de matéria-prima entrevistado, isso se deve ao fato desse fornecedor possuir um bom sistema de garantia da qualidade e atender consistentemente os parâmetros de qualidade da matéria-prima requeridos pela empresa processadora. As práticas de qualidade são realizadas com fornecedores que apresentam maior volume de venda da polpa concentrada e que necessitam serem desenvolvidos;

• a empresa processadora de biscoitos apresenta GCQ 2 (realiza aproximadamente 40% das práticas de qualidade listadas) com o fornecedor entrevistado, fato semelhante ao ocorrido com a empresa processadora de óleo de soja, pois com a farinha de trigo sendo considerada uma commodity, as relações também são estabelecidas via mercado. A empresa processadora possui poucos fornecedores, mas a relação existente com o fornecedor entrevistado é um contrato de longo prazo, e pelo fato de ser um grande moinho que trabalha com qualidade assegurada, muitas práticas da qualidade conjuntas são dispensáveis;

• todas as empresas pretendem desenvolver sistemas de auditorias no ponto de venda para o ano de 2006, a fim de garantir a qualidade do produto entregue nas mãos do consumidor final;

• a análise comparativa entre os casos estudados mostra que as cadeias de produção de leite e derivados e derivados de carne (produtos refrigerados) apresentam GCQ 3 tanto no sentido do fornecedor quanto do distribuidor, enquanto que as demais cadeias (produtos não refrigerados) apresentam GCQ 2 e 1 com relação aos fornecedores e GCQ 3 com relação aos distribuidores. Na prática, nota-se, a partir da visita realizada no varejo, que há uma assiduidade dos promotores de venda repondo e inspecionando os produtos refrigerados nas gôndolas do supermercado, o que ocorre com menor freqüência com os produtos não refrigerados. Os produtos refrigerados, por serem mais perecíveis, suscetíveis e vulneráveis a contaminações, requerem um controle da qualidade maior que os produtos não refrigerados, e como pôde ser comprovado pela pesquisa, são os produtos que apresentam mais práticas de qualidade à jusante e à montante na cadeia, ocorrendo um maior grau de coordenação da qualidade.

Considera-se que foi possível atingir o objetivo do trabalho. A pesquisa identificou e analisou a intensidade das práticas de qualidade realizadas entre as grandes empresas processadoras do setor de alimentos e seus fornecedores e distribuidores, estabelecendo um grau de coordenação entre eles, identificando oportunidades de melhorias para um melhor gerenciamento da qualidade ao longo da cadeia.

Pode-se concluir que o ideal é que todas as empresas atinjam GCQ 4 tanto com relação aos fornecedores quanto com os distribuidores. Um GCQ 4 obtido pela empresa processadora indica que serão estabelecidas práticas de qualidade básicas,

intermediárias e avançadas no intuito de aperfeiçoar a qualidade do produto ao longo de toda a cadeia. Para se obter um GCQ 4, torna-se necessário um maior comprometimento da empresa processadora no estabelecimento de práticas com fornecedores (extensão de ferramentas e metodologias da qualidade e monitoramento do atendimento aos requisitos) e distribuidores (maior monitoramento durante a distribuição e auditorias nos atacados e varejo).

A coordenação da qualidade ao longo da cadeia de produção de alimentos assegura a qualidade do produto final, e para que isso aconteça, recomenda-se que o agente coordenador, que pode ser representado pela empresa processadora de alimentos, incentive o desenvolvimento de sinergia entre todos os segmentos da cadeia e assegure que sejam estabelecidas ações (práticas de qualidade) que garantam a qualidade do produto, como foi ressaltado nesta tese, contribuindo assim para a obtenção de um produto de melhor qualidade.

Enfim, para que haja um melhor gerenciamento da qualidade ao longo da cadeia de produção de alimentos, devem ser estabelecidas ações de garantia da qualidade que assegurem a qualidade do produto final. Essas ações devem iniciar no produtor rural, conscientizando-o do uso adequado de pesticidas e herbicidas, e da utilização das BPF aplicadas ao campo. As empresas processadoras devem implementar ferramentas de qualidade específicas para o setor de alimentos como BPF e APPCC, sistemas como ISO 9000 para garantia da qualidade do produto, e o setor de distribuição e comercialização (varejo) devem ser orientados no sentido de implementar boas práticas de armazenamento, manuseio, distribuição e exposição do produto final. Somente com o estabelecimento de todas essas ações, é que se obtém a qualidade do produto e se garante sua preservação ao longo da cadeia.

Embora quem coordene a qualidade ao longo da cadeia em todos os segmentos estudados, seja a empresa processadora de alimentos, faz-se necessário uma maior atuação do governo na fiscalização do processo de produção de alimentos, como a atuação da Vigilância Sanitária nos pontos e fases críticas das etapas que garantam a produção de um alimento seguro, principalmente nos pontos de venda.

Pode-se concluir que a coordenação da qualidade na cadeia depende da sensibilização de todos os agentes envolvidos, e se cada um fizer sua parte, o consumidor se beneficiará com a obtenção de produtos de melhor qualidade.

Diante da importância em oferecer produtos alimentícios de qualidade ao consumidor final, esse trabalho teve como objetivo principal identificar e analisar a intensidade das práticas de qualidade realizadas entre as grandes empresas processadoras do setor de alimentos e seus fornecedores e distribuidores, que devem garantir a qualidade ao longo de toda a cadeia produtiva.

A partir dos estudos de caso realizados nos segmentos de leite e derivados, derivados de carne, óleos e gorduras, sucos e biscoitos, foi possível identificar o grau de coordenação existente em cada segmento, estabelecido por meio das práticas de qualidade realizadas à montante e à jusante na cadeia produtiva. Em função dos resultados obtidos, identificou-se em qual etapa da cadeia há o rompimento do gerenciamento da qualidade, podendo comprometer a qualidade do produto entregue ao consumidor final, e foi possível propor melhorias para estabelecer um melhor gerenciamento na cadeia, garantindo a preservação de qualidade do produto.