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Prancha 9. Micrografias de lâmina do volume VII da seção SS2 (lâmina A4-figura 78) a) ripas de minerais família dos feldspatos no alteroplasma bruno (2YR4/8), aumento 4x, nicóis paralelos (NP) b)

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presença de derrame de rocha alterada sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), suscitou inicialmente algumas perguntas, as quais buscou-se responder nessa dissertação. Tais perguntas podem ser agrupadas em duas problemáticas principais, a primeira relaciona-se ao papel do derrame alterado na estrutura da paisagem e a segunda à gênese da alteração de tal derrame.

A primeira problemática trouxe os seguintes questionamentos. Qual o papel do derrame alterado na estrutura da paisagem? O derrame alterado estaria mantendo a superfície II? Para responder a tais questionamentos selecionou-se recorte espacial entre as latitudes S 26º 32’ 24” - S 26º 38’ 24” e as longitudes W 51º 31’ 31” - W 51º 43’ 08” no referido planalto. Dentro desse limite geográfico procedeu-se ao mapeamento do derrame alterado. Tal mapeamento foi executado empregando técnicas de campo e laboratório. Os trabalhos foram direcionados visando mapear as morfologias da área de estudo e entender a sua relação com a litologia, bem como estabelecer os limites de domínio do derrame alterado sob rocha sã.

Os resultados do mapeamento possibilitam inferir que o derrame alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) estratigraficamente encontra-se entre dois derrames de rocha sã. Nos locais em que ele mantem relevos residuais, como no caso do RRMDA tratado no item resultados e discussões, significa que o derrame sobre ele foi dissecado. Onde a drenagem se instalou sobre o derrame alterado a dissecação ainda não atingiu a rocha sã sotoposta.

A partir dos resultados apresentados observa-se que o derrame alterado não mantem a superfície II, tal derrame aflora tanto abaixo de 1200m na superfície III como acima de 1300m, superfície I de Paisani et al. (2008a). Isso demonstra que a sua distribuição extrapola os limites do Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) ou seja, das superfícies I e II de Paisani et al. (2008a), conferindo-lhe caráter regional. No entanto, é preciso salientar que, para conhecer precisamente os limites regionais e topográficos de tal litologia é preciso estender a área de mapeamento, bem como aumentar o número de pontos mapeados.

O mapeamento geológico-geomorfológico da área de estudo demonstrou ainda que esta apresenta relevo homogêneo, o que não possibilita a determinação de diferentes domínios geomorfológicos ou zonas homólogas.

Além de entender o papel do derrame alterado na estrutura da paisagem buscou- se também verificar se há influência estrutural na evolução do relevo da área de estudo. Com esse objetivo analisou-se feições como lineamentos negativos e positivos, curvas anômalas, entre outras.

O resultado da análise dos lineamentos negativos correlacionados à orientação dos canais de 1ª ordem e lineamentos positivos revelou forte concordância direcional dos rios na área de estudo com o lineamento tectônico do Rio Iguaçu. Como demonstrado nos resultados, o grande número de curvas anômalas na rede de drenagem e paleocanais de 2ª ordem nos divisores de água indicariam que a área de estudo sofreu ou estaria sofrendo movimentações neotectônicas. Com isso pode-se inferir que a geomorfologia da área de estudo foi fortemente influenciada pelo lineamento tectônico do Rio Iguaçu, de idade Paleozoica, e recentemente por esforços neotectônicos que ocasionaram a formação das curvas anômalas na rede de drenagem e a inversão do relevo que isolou paleocanais de 2ª ordem no divisor de águas regional Iguaçu/Uruguai. Contudo, apesar do grande número de indicadores de influência estrutural, não foi possível individualizar blocos morfoestruturais na área de estudo, pois esta apresenta grande homogeneidade no que concerne as formas do relevo e à distribuição das anomalias identificadas.

A problemática referente à gênese do derrame alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) levou a formulação de três hipóteses. Na primeira cogitou-se que os afloramentos de rocha alterada seriam paleoperfis de intemperismo de idade Cretácea. A segunda que a rocha alterada seria o produto da alteração de derrame básico em contato com o derrame ácido. A terceira atribui origem hidrotermal para a alteração de tal derrame.

Com o objetivo de estabelecer a gênese do derrame alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), procedeu-se sua caracterização macroscópica em campo, microscópica em laboratório, bem como por meio de difração de raio-X (DRX) da fração argila determinou-se sua mineralogia e pela fluorescência de raio-X (FRX) sua composição química.

No entanto é preciso salientar primeiramente, que a análise micromorfológica das seções SS1 e SS2 contribuiu pouco em relação à inferência de alteração hidrotermal para o derrame alterado. Esta permitiu apenas descrever a organização dos materiais do derrame alterado e do riolito sobre ele. No caso do riolito por meio da comparação do tipo de alteração dos minerais identificados a partir da micromorfologia, com os

resultados de Clemente (1988), pode-se determinar estágio inicial de alteração supérgena. Além do descrito acima a micromorfologia deixa claro que para compreender melhor o tipo de alteração hidrotermal inferido é primordial a aplicação de microssonda eletrônica. Tal técnica ajudaria principalmente a determinar o estágio de formação dos minerais hidrotermais no derrame alterado.

Os tipos de alteração hidrotermal são classificados em função da assembleia mineralógica e das mudanças químicas (PIRAJNO, 2009). Comparando a assembleia mineralógica das seções SS1 e SS2 com trabalhos clássicos que caracterizam os principais tipos de sistemas hidrotermais e resultados de pesquisas já realizados em regiões sujeitas a esse tipo de alteração das rochas, infere-se que o derrame alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) constitui um sistema hidrotermal epitermal propilítico de baixa sulfetação. No quadro 8 são apresentadas as principais características desse tipo de sistema hidrotermal (BURNHAM, 1962; PIRAJNO, 1992; WHITE; HENDQUIST, 1995; SENER; GEVREK, 2000)

Quadro 8. Características de sistema hidrotermal epitermal propilítico de baixa sulfetação.

Autores Assembleia mineralógica principal pH

Burnham (1962)

Epidoto, calcita, caulinita, esmectita, clorita, serpentina, quartzo, albita e K-feldspato.

Próximo a neutro. Pirajno (1992) Epidoto, clorita, carbonatos, albita, K-feldspato e pirita. -

White e Hedenquist

(1995)

Quartzo, cristobalita, calcedônia, calcita, adularia, ilita, caulinita, pirofilita, alunita e barita.

entre 5 e 6. Sener e Gevrek

(2000)

K-feldspato, albita, clorita, alunita, caulinita, esmectita, ilita e minerais opacos.

-

Dos minerais apresentados no quadro 8 na seção SS2 foram encontrados: esmectita, ilita, clorita, amesita (grupo das serpentinas), pirofilita, barita, albita, K- feldspato, quartzo e ankerita (grupo dos carbonatos). Outra característica que ajudou na interpretação do tipo de alteração hidrotermal foi o pH da seção SS2 entre 5 e 6, estes valores se aproximam dos apontados por Burnham (1962) e White e Hedenquist (1995) (quadro 8). Como discutido anteriormente o enriquecimento de MgO, típico em alterações hidrotermais propilíticas, também ajudou na interpretação e caracterização do tipo de alteração (BURNHAM, 1962).

Além dos minerais que compõem a assembleia mineralógica principal de um sistema hidrotermal epitermal propilítico de baixa sulfetação, na seção SS2 foram

encontrados outros minerais que podem ter gênese hidrotermal. Dentre eles, como já discutido anteriormente: a aluminita (ARTEMENKO, 2004); a hexahidrita e a muscovita (Banco de Dados Mineralienatlas, 2012); talco (Banco de Dados de Minerais da UNESP, 2012); Anidrita (PIRAJNO, 1992; Banco de Dados Mineralienatlas, 2012).

Dos minerais identificados por meio de DRX na seção SS2, os argilominerais foram os que apresentaram os picos mais agudos e representativos, a esmectita e a clorita no volume II e a clorita e esmectita nos volumes III, IV, V e VI. No Brasil Silva (2007) estudou o Depósito Pilar na região de Santa Bárbara e Barão dos Cocais (MG), identificando três halos de alteração hidrotermal: distal, intermediário e proximal. No halo distal, aquele mais afastado da fonte dos fluidos que causou a mineralização do Depósito Pilar, Silva (2007) descobriu que o mineral mais representativo e comum é a clorita, presente em todos os litotipos afetados pela alteração hidrotermal naquela área de estudo (xistos máficos, xistos vulcanoclásticos, xistos pelíticos e na formação ferrífera). No exterior, recentemente ilita associada à clorita foi encontrada por meio de DRX nos depósitos hidrotermais em zona de alteração distal e intermediária no leste de Mindanao, nas Filipinas (SONNTAG et al., 2012). Tais informações correlacionadas com as características do derrame alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), permitem inferir que os afloramentos desse tipo na área de estudo são apenas o halo distal de um sistema hidrotermal maior.

Como já referido anteriormente, também no Brasil, Borges et al. (2009) estudando processos hidrotermais no Cráton Amazônico, registrou a presença de quatro (1,2,3 e 4) associações minerais. Na associação mineral 3 os principais marcadores mineralógicos são Clorita + Plagioclásio descalcificado + Biotita, a partir desses minerais Borges et al. (2009) apontou que o estágio de alteração é o propilítico, o principal estágio de formação dos minerais é a cloritização, a temperatura de formação de tal assembleia mineralógica foi estimada entre 280º C e 340º C por meio do uso do geotermômetro proposto por Cathelineau (1988) que indicou temperaturas de 300º C a 340º C para a formação da clorita. Levando em conta que a clorita apresentou picos agudos e bem desenvolvidos na seção SS2 nos volumes III, IV, V e VI, usando o geotermômetro proposto por Cathelineau (1988 apud Borges 2009) pode-se estimar que o derrame alterado encontrado sob rocha sã na seção SS2 foi alterado por fluidos hidrotermais que atingiram temperaturas superiores a 300º C.

Na seção SS1 a assembleia mineralógica é bem menos diversificada que a da SS2, estão presentes apenas minerais silicatos e argilominerais (quadro 3). O pH assim

como na seção SS2 está entre 5 e 6, houve também, assim como na seção SS2, enriquecimento de MgO no volume IV. Nessa seção, pelo DRX os minerais que tem os picos mais agudos e representativos são a cristobalita e o quartzo. O quartzo é um mineral estável em condições hidrotermais em temperaturas acima de 150º C (WHITE; HEDENQUIST, 1995). Segundo o mesmo autor a cristobalita primária indica rochas alteradas por último e pelos fluidos de mais baixa temperatura, sendo estável na faixa de temperatura entre 100º C e 150º C, aparecendo naqueles depósitos mais afastados da fonte de fluído quente. Com base nessas informações, associando-as as considerações feitas para a seção SS2, pode-se inferir que a seção SS1 também é parte de um sistema hidrotermal epitermal propilítico de baixa sulfetação. Esta, em relação à seção SS2, estaria mais afastada da fonte de fluidos quentes que provocou a alteração hidrotermal do derrame alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC). Por isso apresenta picos agudos de quartzo e cristobalita e picos incipientes de argilominerais (E, I, I/E e Ca). Situação oposta da seção SS2 que apresenta picos agudos de argilominerais, principalmente clorita e esmectita, e nem mesmo apresenta picos incipientes de cristobalita.

O fato de o derrame alterado apresentar textura completamente diferente da rocha sã sobre ele permite inferir que o estilo de alteração hidrotermal predominante nas seções SS1 e SS2 é o estilo pervasivo. Este é caracterizado pela substituição total ou da maior parte dos minerais da rocha original, resultando na obliteração parcial ou total da textura original da rocha afetada pelo hidrotermalismo (PIRAJNO, 1992, 2009).

Para finalizar é importante esclarecer que os sistemas hidrotermais epitermais ocorrem entre 1 e 2 km na crosta terrestre (WHITE; HEDENQUIST, 1995). Desse modo a presença de um sistema desse tipo aflorando próximo a superfície no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) indicaria que a área de estudo sofreu soerguimento. Nesse planalto esse tipo de esforço tectônico foi apontado por Paisani et al. (2008a), quando propuseram modelo evolutivo para o relevo do SW do Paraná e NW de Santa Catarina. Tal soerguimento intensificou a morfogênese nesse planalto (PAISANI et.

al.,2012). Intensa morfogênese significa mais erosão, esse foi possivelmente um dos

fatores que fizeram com que o derrame alterado hidrotermalmente esteja aflorando na superfície hoje, pois conforme Bateman (1956) os depósitos hidrotermais formados em profundidade tem sido expostos por erosão profunda.

A dedução de que o derrame alterado sob rocha sã no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) é produto de alteração hidrotermal confirma as ideias de Paisani

et al. (2008a), os quais inferiram que o relevo em escadaria do Sudoeste do Paraná e

Noroeste de Santa Catarina estaria relacionado a soerguimento a leste no Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), e subsidência a oeste na calha do rio Paraná.

Com base no que foi discutido até aqui, de maneira resumida pode-se dizer que: 1. A geomorfologia do Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC) foi fortemente

influenciada pelo lineamento tectônico do Rio Iguaçu, de idade Paleozoica e recentemente por esforços neotectônicos que ocasionaram a formação de curvas anômala na rede de drenagem e a inversão do relevo que isolou paleocanais de 2ª ordem no divisor de águas regional Iguaçu/Uruguai;

2. A exposição, na superfície, do derrame alterado hidrotermalmente está provavelmente ligada ao soerguimento do Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), processo já inferido por Paisani et al. (2008a);

3. O derrame alterado situado neste planalto estratigraficamente encontra-se entre dois derrames de rocha sã;

4. Afloramentos desse tipo são encontrados tanto abaixo de 1200m, na superfície III, como acima de 1300m, superfície I de Paisani et al. (2008a). Demonstrando que sua distribuição extrapola os limites do Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC), conferindo-lhe caráter regional;

5. Em relação à gênese desse derrame infere-se que o mesmo faz parte de um sistema hidrotermal epitermal de baixa sulfetação, cujo estilo de alteração hidrotermal é o pervasivo e o estágio de alteração desse derrame é o propilítico; 6. Tal derrame, alterado hidrotermalmente, corresponde ao halo distal de um

sistema hidrotermal maior;

7. Na seção SS2 o mineral mais representativo é a clorita, usando esse mineral como um geotermômetro é possível inferir que o derrame alterado nessa seção esteve sujeito a fluidos hidrotermais com temperatura acima de 300º C;

8. Na seção SS1 o mineral mais representativo é a cristobalita. A presença deste mineral no derrame alterado indica que esteve sujeito a fluidos de mais baixa temperatura, tal mineral é estável na faixa de temperatura entre 100º C e 150º C, aparecendo naqueles depósitos mais afastados da fonte de fluído quente.

9. Apesar dos resultados que se tem até o momento ainda ficaram algumas questões em aberto, as quais podem conduzir estudos futuros. Por exemplo: a)

Quais os limites regionais e topográficos do derrame alterado? b) Qual o limite temporal da movimentação neotectônica inferida para o Planalto de Palmas (PR)/Água Doce (SC)? c) Qual a fonte de fluidos quentes que ocasionou a alteração hidrotermal neste planalto?