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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento O tempo livre na modernidade (páginas 39-43)

Neste trabalho buscou-se um resgate histórico de alguns conceitos ligados diretamente à questão do tempo livre, que hoje afeta de forma geral todas as pessoas, não só em seu ambiente de trabalho, mas também na escola e até mesmo na família. Tentamos fazer o levantamento de conceitos como, capitalismo, consumo e também identificar no tempo livre o espaço de lazer e ócio, que são temas diretamente relacionados.

O objetivo nesse levantamento era trazer elementos a respeito da origem desses conceitos a fim de que fosse iniciada uma discussão acerca do tema em nossa sociedade, bem como realmente colocar qual é a relação que conecta os temas.

Elaborado para atuar como uma ferramenta para reflexão sobre a prática capitalista na sociedade moderna, enquanto transformadora do direito ao tempo livre em mercadoria através do lazer, procurou-se nesse trabalho elaborar uma discussão que primeiramente esclarece algumas dúvidas sobre os assuntos em destaque, e depois discute sobre os “problemas” por eles gerados na sociedade.

Procurou-se explicitar nesse trabalho a origem do tempo que hoje denominamos “livre”, que foi um dos fatores principais para o surgimento da indústria do lazer, bem como alguns aspectos da modernidade que são essenciais para a caracterização do problema do consumismo nessa sociedade capitalista em que vivemos. E explicar que no decorrer da história, os conceitos de lazer, ócio e tempo livre se modificaram, acompanhando as mudanças de valores e comportamentos, relacionados com os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais vigentes em cada época.

As transformações ocorridas nas cidades foram, aos poucos, determinando novos hábitos de vida e foi assim que o tempo livre e o lazer foram sendo incorporado à sociedade e adquirindo importância. Porém, vemos

outro aspecto desse lazer nos ser instigado, pois atualmente falar de lazer e tempo livre nos remete as propagandas, tão incisivas nos meios de comunicação, incitando as pessoas a serem consumidores assíduos, viajando, optando pelos passeios ditos “ecológicos”, propagandas de shoppings, lojas e quaisquer outros lugares onde possamos fazer compras e gastar aquilo que ganhamos vendendo nosso tempo.

Outro ponto importante que pudemos observar neste trabalho foi a articulação e promoção da indústria do lazer junto ao sistema capitalista, o que nos remete ao pensamento de que na verdade não estamos tendo um tempo realmente livre, e este pensamento está alinhado ao desejo do sujeito moderno de hoje, um ser exausto de consumir sem um sentido seu, levado pela mídia, pela moda, pelos outros, para o material, o “coisificado”, o estético.

É trazido nesta pesquisa o conceito de modernidade, que se instala no processo de desenvolvimento do capitalismo, gerando a globalização, e consequentemente as implicações do mesmo, como o culto ao corpo, que é uma condição do indivíduo, e um aspecto fortíssimo nas sociedades de consumo contemporâneas. O padrão de corpo, de roupa e até de tecnologias utilizadas por todos diariamente, nada mais é do que uma imposição midiática proposta nos meios de comunicação, como foi colocado nesta pesquisa.

O mais cruel de tida essa padronização é que ela tem passado para além dos nossos aspectos exteriores, pois vemos a mídia influenciando tão profundamente que atualmente atinge a construção da identidade das pessoas, o que por vezes vai criar pessoas acríticas nessa sociedade moderna.

A instituição escolar, dentro dessa sociedade, tem a obrigação e o importante papel de atuar como mais do que uma instituição informadora, mas deve ser em primeiro lugar formadora de cidadãos críticos e engajados, o que nos faz então, repensar o que vem acontecendo em nossa sociedade, haja visto que a escola funciona hoje como mera legitimadora do sistema capitalista, funcionando como um local somente de interação social e formadora de pessoas para o trabalho. A escola, dessa forma, deixa “nas mãos da mídia” a formação da identidade dos indivíduos, pois sua influencia é facilmente vencida

pelas atraentes propagandas, o que acarreta um ganho para o sistema capitalista vigente, e fatalmente uma perda inestimável para a criticidade dos indivíduos e para a formação em geral da sociedade.

O capitalismo consumista molda todas as escolhas dos indivíduos através da propaganda, que faz o trabalho de criar necessidades para que cada pessoa consuma, mesmo que essa não seja real. Esse consumo é o caminho para a felicidade, e aos poucos se torna coletivo, e o sujeito consumidor passa ele próprio ser a mercadoria.

Nesse contexto, então, só podemos finalizar pensando que o tema se faz constante, e não há como chegar a conclusões. O que propomos é que, se haja mais discussões acerca do assunto, já que nosso tempo é algo tão importante e essencial para a vida de muitos, precisamos dar-lhe o devido valor, para que só assim possamos ser dignos de tê-lo livre de fato.

Não pretendia concluir este trabalho, como já foi dito anteriormente, estabelecendo verdades, conceitos ou opiniões. Apenas acredito que devíamos refletir sobre essa realidade que vivemos quase sem perceber. Não me oponho totalmente à idéia de consumo em si, mas creio que deviam ter a oportunidade da reflexão sobre a “coisificação” que a qual nós padecemos sem tomarmos consciência, e deixamo-nos tornar ao longo de nossas vidas meros consumidores, e pessoas alienadas da vida crítica e do pensamento, completamente passivas a realidade fantasmagórica em que a sociedade moderna e capitalista se faz existir.

A partir da elaboração desse trabalho, o que na verdade podemos concluir é que, a discussão acerca do Tempo Livre, seja ela onde e quando for, está apenas começando, e a universidade, em seus cursos mais reflexivos, devia propor discussões teóricas mais aprofundadas sobre o impacto do fenômeno do lazer em nossas vidas e na nossa saúde, pois é esse fenômeno que na maioria das vezes vai refletir no nosso cotidiano, em como lidamos com a família e nossas relações sociais, ou seja, é o tratamento e a importância que damos ao nosso tempo livre que vai influenciar nossa vida muito mais do que pensamos até aqui.

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No documento O tempo livre na modernidade (páginas 39-43)

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