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No processo de elaboração e implementação do plano de manejo do PNSD o tema ocupação humana do parque sempre foi o mais polêmico e discutido, criando-se assim diversos conflitos e olhares sobre o mesmo. De um lado IBAMA e S.O.S Amazônia propondo a idéia de se criar um processo de reassentamento das famílias e de outro lado, moradores, sindicatos rurais, representantes de ongs, movimentos sociais entre eles o movimento indígena defendendo a permanência das populações residentes como estratégia de conservação.

O grau de importância, o tempo, energia e recursos dispendidos por todos nessa discussão foi muito grande. O plano de manejo descreve dezenas de atividades a serem desenvolvidas no parque e seu entorno, que poderiam com certeza ter trazido maiores benefícios à conservação e às populações, caso fossem realizadas. Dizemos isso porque durante muito tempo a discussão ficou concentrada na presença ou retirada das famílias, fazendo com que inúmeras atividades deixassem de ser desenvolvidas de forma mais efetiva, dentre elas os componentes de pesquisa, educação ambiental, recreação e o ecoturismo.

Sendo assim, acreditamos que as ações para implementação do plano de manejo deveriam ter se iniciado no entorno do parque. A estratégia criaria um ambiente de discussão com menos conflitos, além de poder a médio e longo prazo mostrar a viabilidade de desenvolvimento de experiências práticas, que com certeza chamaria a atenção de muitas famílias residentes no interior do parque. Isso estimularia a possibilidade de transferência voluntária dos mesmos, sendo que alternativas estariam sendo ofertadas no entorno, fato que não ocorreu no início da implementação do plano de manejo. Após a elaboração do plano de manejo as atividades a serem priorizadas não deveriam estar ligadas à retirada das famílias e sim a busca de alternativas produtivas e geração de renda no entorno.

Portanto a estratégia adotada por IBAMA e S.O.S Amazônia na época foi equivocada, pois criou muitos conflitos e discordâncias, impossibilitando dessa forma que várias outras ações fossem realizadas.

Considerando-se a função do PNSD, os dados do plano de manejo e o seu zoneamento, outra questão torna-se indispensável de ser discutida e aprofundada. A

possibilidade concreta do plano de manejo ser de fato implementado, principalmente se for levada em consideração à questão da não permanência das famílias.

É preciso rever o zoneamento do parque que é dinâmico, segundo o IBAMA e criar uma zona especial para as populações residentes que optarem por permanecer na área do parque, capacitando as mesmas para as atividades de gestão do mesmo.

Investir na formação técnica dos moradores integrando os mesmos às ações de manejo e proteção do parque como guarda-parques, monitores de pesquisa, fiscalização, educação ambiental e ecoturismo.

Outro fato importante é fomentar ações relacionadas ao manejo da flora e fauna das espécies mais utilizadas pelos moradores. Para tanto se deve associar o conhecimento local aos conhecimentos científicos.

É necessário investir na organização social das comunidades, para que as mesmas possam participar de forma mais efetiva da gestão do parque, em especial no Conselho Consultivo.

É preciso monitorar o processo de reassentamento das famílias para o PAF Havaí para que os acordos firmados nos termos de compromisso sejam cumpridos. O reassentamento pode trazer consigo soluções, mas também problemas, principalmente de ordem social e mudança de hábitos das comunidades.

A atividade econômica atual é baseada na agricultura e extrativismo. É preciso investir em atividades de geração de renda no interior e no entorno do parque, sendo que alguns estudos indicam o ecoturismo e artesanato como possibilidades de geração de renda.

O monitoramento e fiscalização da fronteira, através de acordos de cooperação do IBAMA com polícia federal, batalhão de fronteira do exército, FUNAI e moradores para evitar as ações de narcotraficantes e principalmente a entrada de madeireiros ilegais peruanos. Existe um grupo de trabalho transfronteiriço que discute o tema, mas na prática há poucos avanços e o abandono da fronteira continua sendo um problema crítico. Esse fato vem contribuindo para o aumento do desmatamento na área sul do parque, colocando em risco os moradores, como também a biodiversidade do parque.

Em relação à ocupação humana, mesmo com divergências na definição da área do parque, entre os setores censitários do IBGE e os dados do plano de manejo, houve desde a criação do mesmo uma diminuição da população vivendo no seu interior. Esse fato pode

estar ligado às restrições impostas pelo IBAMA com a criação do parque, como também da busca de melhores condições de vida pelos moradores nas sedes dos municípios.

Com a criação da Terra Indígena Naua na área do parque é necessário que o IBAMA e a FUNAI trabalhem em parceria para a gestão socioambiental da terra.

Em relação ao desmatamento, os dados indicam que as unidades fitoecológicas estão conservadas. As quatro unidades fitoecológicas mais desmatadas são as florestas abertas de palmeiras, bambus e as planícies aluviais e os terraços holocênicos. Isso pelo fato de ser onde a agricultura é praticada e de concentrar as moradias. Nestas áreas, os índices de desmatamento mostram que a unidade mais afetada, e que merece uma atenção especial, é a unidade floresta aberta de palmeiras, terraços altos holocênicos inundáveis em cheias excepcionais. Esta unidade apresentou o maior volume de desmatamento no período. Porém é importante frisar que a mesma é a de menor extensão territorial dentro do parque. Mas, é preciso discutir com os moradores formas de manejo e recuperação, no sentido da mesma não ser desmatada totalmente, visto se tratar de unidade pequena, mas importante no contexto de conservação da biodiversidade.

No contexto geral em relação à ocupação humana e conservação, acreditamos que as taxas de desmatamento no interior do parque são baixas. Em duas décadas monitoradas e os anos 2000 a 2006, a taxa de desmatamento é de 1,19% da área total do parque. No entorno do parque, o desmatamento é maior, sendo desmatado 4,46% de sua área. É necessário o aprofundamento das pesquisas e do monitoramento sobre as unidades fitoecológicas onde existe maior presença humana. Também sobre as espécies da flora e fauna mais utilizadas pelos moradores, em função da pressão de uso em relação a algumas espécies e essa dinâmica de uso precisa ser mais conhecida, para que no futuro tais espécies não venham a desaparecer da área do parque.

Como consideração final, acreditamos que a relação entre ocupação humana e a conservação da cobertura vegetal original do PNSD seja compatível, em função de alguns aspectos, quais são, a baixa densidade demográfica, isolamento das populações e uso de técnicas produtivas de baixo impacto. Porém existe a necessidade de aprofundamento da discussão da legislação vigente no país em relação à presença humana nos parques nacionais, procurando analisar a realidade de cada unidade, buscando compatibilizar a presença humana, mas garantindo a proteção e conservação de áreas intangíveis.