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Considerações finais

No documento PAINEL MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (páginas 41-46)

Nas duas últimas décadas, assistimos, em escala mundial, ao ressur- gimento da importância das micro, pequenas e médias empresas, tanto na sua multiplicação numérica quanto na geração de emprego por parte dessas empresas. Esse fenômeno está associado às transformações es- truturais pelas quais passou o capitalismo contemporâneo, cujos even-

21 Neste sentido, há exemplos interessantes que começam a emergir no Brasil. Para ficar

em apenas dois deles, podemos citar os casos do Porto Digital de Recife e do Centro Digital em Fortaleza, que são projetos fomentados pelos respectivos governos, a fim de apoiar e estimular a aglomeração e a cooperação entre as pequenas e médias empresas do setor de tecnologia de informação – TI.

tos mais marcantes foram: (i) a crise do planejamento e da intervenção regionais centralizados; (ii) a reestruturação do mercado; (iii) a megametropolização, seguida por megaproblemas urbanos; (iv) a globalização e a abertura econômica; e (v) o uso intensivo da tecnologia da informação e da telecomunicação. Tais eventos, conhecidos como patrocinadores da passagem do regime de produção fordista para o re- gime de produção pós-fordista, exigiram das empresas novas formas de organização, comandadas pela necessidade de maior flexibilização das estruturas. A resposta das empresas resultou em dois processos: um, de desintegração vertical efetuado pelas grandes empresas, e outro, de integração horizontal, operado pelas MPME. Ambos os processos pas- saram a valorizar as empresas e os empreendimentos de pequeno porte, porque estes revelaram ser mecanismos de estabilização e de absorção de riscos no âmbito do novo ambiente econômico e institucional. No segundo processo, chamaram atenção as estratégias exitosas de organi- zação baseadas nos agrupamentos territorializados, funcionando com base na especialização flexível. Dessas estratégias, as mais conhecidas são os clusters americanos e os distritos industriais italianos.

Espelhados nessas experiências, inúmeros governos nacionais, regi- onais e locais, bem como organizações internacionais de desenvolvi- mento econômico, passaram a se interessar e a implementar políticas de apoio à formação e ao desenvolvimento de redes e agrupamentos de empresas. O que se nota é que essas iniciativas de planejamento têm sido mais evidentes e aceleradas nos países desenvolvidos, e acanhadas e menos evidentes nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil. Entendemos que estratégias como essas são oportunas para a economia brasileira, porque podem assegurar mais empregos, além de poderem contribuir para a renovação da política de desenvolvimento regional. Para se ter uma boa adequação, é necessário que as políticas públicas brasileiras, voltadas para grupos de MPME, privilegiem o enfoque do desenvolvimento econômico, combinado com o esforço de buscar um maior grau de formalização das empresas. Além disso, é por demais oportuno que se abandone, onde for necessário, o enfoque da oferta em favor do enfoque da demanda, e que essas necessidades sejam alcançadas por meio das instâncias próximas das empresas. Há duas possibilidades de intervenções públicas, uma horizontal e outra vertical. As interven- ções horizontais devem procurar atender a necessidade de melhoria da qualidade do empreendedorismo, afetado negativamente pela falta rela- tiva de crescimento macroeconômico. Com ou sem crescimento robus-

to e sustentável, as grandes instituições de apoio têm muito espaço para atuar na oferta de informações e na remodelação do sistema de crédito e financiamento, hoje insuficiente e ultrapassado. Além disso, essas insti- tuições podem atuar na preparação técnica de recursos humanos que de- vem atuar junto às redes de empresas e aos arranjos produtivos locais. As intervenções verticais, orientadas pela proximidade, devem estar a cargo dos governos estaduais e municipais, bem como das organizações não governamentais – inclusive o sistema “S”–, mas apoiadas por fundos e programas federais. Ao intervir, nada melhor do que atender o princípio da modéstia, a fim de evitar a desorganização dos núcleos e arranjos pro- dutivos, geralmente sustentados por algum tipo de governança adquirida por conta própria. Por fim, os apoios diretos devem ser concentrados, de um lado, no estímulo à acumulação do capital social e ao desenvolvimen- to da aprendizagem e, de outro, na busca de competitividade das empre- sas por intermédio do incremento das inovações.

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