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Esse capítulo objetivou consolidar o conceito de planejamento da mobilidade urbana. Assim, procurou-se construí-lo descrevendo de maneira sucinta os principais fatores que levaram à evolução do planejamento tradicional de transportes para o planejamento da mobilidade urbana. Foram apresentadas as evidências que levaram às mudanças no planejamento dessa área as quais, na sua maioria, foram em função das preocupações que surgiram em relação aos vários impactos negativos causados pelos transportes à qualidade de vida das pessoas e ao meio ambiente. Tratou-se, além disso, de aspectos importantes que devem ser considerados no planejamento da mobilidade urbana, tal como a importância de tratar os problemas de forma integrada, utilizando a abordagem sistêmica, considerando todos os elementos, com suas interações e a relação destes com o uso do solo.

Foi verificada a necessidade de seguir princípios e objetivos do planejamento da mobilidade, e entender conceitos como acessibilidade, equidade e sustentabilidade. Deve-se ainda levar em conta a participação popular e desenvolver continuamente estudos e aplicações de métodos sistematizados de planejamento, que incluam indicadores de desempenho. Estes devem refletir adequadamente a situação dos cenários urbanos e, a partir disto, possibilitar o tratamento dos problemas da mobilidade de forma apropriada. O conceito de planejamento de transportes evoluiu até chegar ao planejamento da mobilidade sustentável, o qual é o foco atual de planejadores das áreas urbanas e de sistemas de transportes.

3 COMPREENSÃO DA PROBLEMÁTICA DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DA MOBILIDADE URBANA

O processo de planejamento da mobilidade urbana foi apresentado no capítulo anterior, através de suas definições e conceitos considerados essenciais na construção do seu entendimento. Também foram apresentados princípios e objetivos norteadores utilizados para dar suporte ao desenvolvimento de metodologias que possam ser eficazes na direção do cumprimento de regras e normas específicas que regem esse processo como um todo, bem como no atendimento das necessidades atuais da sociedade. A partir desse conjunto de aspectos relevantes e do conhecimento obtido através da literatura específica, pode-se inferir que o processo de planejamento da mobilidade urbana pode ser dividido em dois momentos distintos, ou seja, em duas fases.

A primeira delas é a fase de Compreensão da Problemática, que diz respeito à tomada de consciência do que seja o(s) problema(s) em questão, o estado atual do objeto em estudo, neste caso a mobilidade urbana, além das relações de causas e efeitos desses problemas e seus impactos nesse grande sistema. Já a outra fase é a de Intervenção, pois quando já se sabe qual é o problema ou os problemas, suas causas e consequências, necessita- se a definição de alternativas de solução, a avaliação da melhor ou das melhores alternativas propostas a serem implementadas na tomada de decisão, que umas das finalidades do processo de planejamento. Nessa dissertação, o trabalho de pesquisa está voltado para a fase de compreensão da problemática do processo de planejamento da mobilidade urbana.

A compreensão de uma problemática pode ser entendida como tomar ciência da situação de um objeto, saber que tipos de conflitos estão sendo vivenciados. Isto que dizer, saber como esse objeto se encontra, quais os problemas inerentes, além de ter o conhecimento necessário para poder estabelecer as relações de causas e efeitos, tendo em vista o ambiente no qual o mesmo está inserido. Ou seja, fazer o diagnóstico de um cenário. Por isso, compreender a problemática de um sistema de mobilidade urbana não é algo simples e nem fácil de alcançar, devido à complexidade envolvida nas relações dos seus componentes, as quais acontecem de maneira dinâmica e perene, resultando numa ampla gama de influências uns nos outros, caracterizando-se numa infinidade de possibilidades de interações e resultados. De acordo com Morin (2005, p. 265) uma interação “exprime o conjunto das relações, ações e retroações que se efetuam e se tecem num sistema”.

Cascetta (2009) comenta que um sistema de transporte é complexo porque se compõe de muitos elementos com interações não lineares e muitos ciclos de feedback. Junta-

se a isso a existência de imprevisibilidade de vários recursos do sistema. Exemplos disso podem ser: tempo para percorrer uma estrada; escolhas particulares por um usuário; escolha de viagens feitas por um determinado modo, e a possibilidade de caminhos disponíveis; interações que podem gerar congestionamentos. Isso tudo afeta e influencia o sistema de transporte e também afeta o sistema de atividades.

Goulias (2003) escreve que um planejamento de transporte mais rico, preocupado com as questões ambientais, é identificado como uma abordagem emergente dos problemas relacionados a essa área, visto que reconhece a presença de complexidades, não linearidades e incertezas que no passado não foram levados em consideração, adotando-se simplificações. A percepção da necessidade do estudo da interdependência dos sistemas na sua totalidade motiva a construção de sistemas de apoio à decisão cada vez mais expandida, incorporando processos e ideias de áreas afins.

A mobilidade de uma cidade é considerada complexa porque existe a dificuldade de integrar as várias expectativas dos diversos usuários e/ou grupos de interesse que o sistema e suas infraestruturas de transportes devam satisfazer, de uma maneira que consiga relacionar adequadamente a oferta e demanda nessas regiões, para que alcance níveis de sustentabilidade (RIBEIRO; MENDES; FONTES, 2008). Macário (2005) ressalta que o contexto em que os tomadores de decisões atuam dentro de um sistema de mobilidade urbana é complexo por diversas razões, e entre elas o fato de que são influenciados por cidades vizinhas, bem como políticas regionais, nacionais e até internacionais. Inclusive, o processo de prestação de serviço de transportes, tendo a participação de entidades privadas, tende a reduzir as possibilidades dos governos decidirem por eles mesmos.

Não compreender a problemática de um sistema de mobilidade, bem como suas implicações futuras, e não havendo intervenção adequada no momento oportuno, pode trazer danos irreversíveis para a sociedade. A Federal Highway Association (2011) explica que os problemas dos transportes, principalmente os ambientais, são complexos e de longa abrangência, ou seja, a manifestação deles pode levar de 25 a 50 anos e seus impactos podem ser de extensa duração. Além disso, medidas para tratar da problemática de transportes tomam muito tempo em virtude do alto custo das infraestruturas envolvidas e da quantidade de componentes a serem alterados. Essa complexidade vem das interações dos diferentes sistemas com suas manifestações em diferentes escalas, tornando difícil, mudanças reais apenas com políticas que incrementem uma ou outra situação isolada.

Segundo Schiller, Bruun e Kenworthy (2010, p. 191), algumas das complexidades que formuladores e decisores políticos (muitas vezes em todos os níveis da tomada de decisão) de transportes enfrentam é tentar classificar e responder diversas questões, tais como:

• De quem são as viagens mais valiosas e para quem: os cidadãos, os interesses de frete, os turistas?

• Quais viagens são mais valiosas e para que: trajeto para o trabalho, a distribuição local de mercadorias, de mercadorias de longa distância, da fazenda para o mercado, de lazer ou de serviços de frete?

• Como se podem gerir os conflitos entre os interesses conflitantes, os níveis da sociedade e questões mais amplas, como a economia e o meio ambiente?

• Quais os serviços e os investimentos que devem ser apoiados a partir de fundos públicos e que devem ser deixados para os indivíduos e os interesses do setor privado?

3.1 Conceitos e Definições importantes na Compreensão da Problemática do