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3.2 Métodos de Construção da Compreensão da Problemática dentro de um

3.2.3 O Diagnóstico da Mobilidade Urbana na Construção de um Plano

Em 2006, o Ministério das Cidades, ao desenvolver o curso de capacitação sobre a Gestão Integrada da Mobilidade Urbana, apresentou os passos para fazer um diagnóstico do sistema de mobilidade urbana, como parte de um conjunto de etapas planejadas e desenvolvidas na elaboração de um plano. Magalhães e Yamashita (2009) citam esse modelo para a construção de um planejamento integrado de transportes.

Segundo o Ministério das Cidades (2006), na atividade de preparar o diagnóstico, é necessário montar uma estrutura analítica, a qual organize e descreva cada componente do sistema de mobilidade urbana, entendendo-o assim como um fenômeno complexo de seis dimensões: funcional; institucional, social e política; econômica; física; de comunicação e cultural. Este seria o ponto inicial para chegar ao objeto do planejamento, servindo como caminho para descobrir as características da mobilidade urbana em questão (objeto), norteando sobre quais tipos de pesquisas devem ser feitas, bem como sua organização, auxiliando as avaliações e tornando mais fácil o modo de entender os resultados. O diagnóstico é desenvolvido sob a orientação dessa estrutura analítica. A seguir são apresentadas as etapas sequenciais da construção dessa compreensão e em seguida a descrição de cada uma delas conforme o fluxograma da figura 8.

Figura 8 - Etapas do Diagnóstico da Mobilidade Urbana na Construção de um Plano

Fonte: (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006)

(1) Objeto: definir a mobilidade urbana em estudo é essencial e parte da delimitação dos seus limites para intervenção, fazendo essa identificação e conhecendo tudo aquilo que a compõe. Para planejar a mobilidade urbana é necessário que ela seja definida, além dos atores envolvidos nesse processo, com o intuito de estabelecer uma abordagem adequada. Trata-se de uma tarefa complexa que, portanto, merece cuidados e discussão a respeito desses elementos envolvidos. Ainda considera-se que “Ser negligente com esta tarefa é construir uma torre sobre areia movediça. É arriscar a perder todo o esforço empenhado numa difícil tarefa” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006, p. 69). Assim, a atividade de delimitar a mobilidade urbana é vista como um desafio para estudiosos. Isso devido à expansão e multidisciplinaridade no desenvolvimento de sua enorme estrutura analítica, composta por uma variedade de elementos que se relacionam. Magalhães e Yamashita (2009, p. 13), diz que de uma forma bem simples, a definição do objeto a ser pesquisado tem a ver com responder às questões: “O que estou planejando?” ou, “Sobre o que estou preocupado?”

(2) Imagem-Objetivo: “a síntese, para o objeto do planejamento, de um estado de coisas desejado, conjunto das diferentes expectativas dos atores, um referencial para o qual se deve dirigir todo esforço de planejamento. É uma utopia concreta” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006, p. 72) . É delinear o estado desejado do objeto num momento futuro. Sendo assim, é necessário haver um esforço para que diferentes atores articulem sobre a construção da visão (imagem-objetivo), projetando-se o que estes pensam para construir um escopo de visão de futuro. Essa visão deve assumir expressão de algo descritivo, e ser operada da forma que vai de cada uma das suas partes para o todo, tentando chegar numa dada situação futura; ser construída de modo a poder contemplar as expectativas dos atores quanto a cada dimensão e seus elementos constituintes; analisar para obter os objetivos de curto e médio prazo, necessários ao desenvolvimento das ações e dos programas estratégicos. Algumas questões devem ser levantadas no auxílio do desenvolvimento dessa visão, tais como: “Como deveria ser a mobilidade urbana no futuro? Quais os “sintomas” de uma cidade que tem boas

condições de mobilidade? O que eu considero serem boas condições de mobilidade? Que condições me deixariam satisfeito?” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006, p. 73).

Na construção da imagem-objetivo, não se pretende fazer “juízo de valor” a respeito do que os atores tem em mente, e tampouco se considera se são viáveis as expectativas deles. De acordo com Magalhães e Yamashita (2009), é necessário, para construir a visão do objeto, levar em consideração a ligação entre as partes que o compõem, sempre pensando na integração à superestrutura a qual suporta, enquanto infraestrutura.

(3) Diagnóstico: é entendido como um alcance de uma visão completa do estado do objeto do planejamento, detalhado o bastante para que seja possível fazer a comparação deste estado com a imagem-objetivo, a qual é “a referência do deve-ser”, e a partir disso poder fazer o levantamento dos problemas e suas causas. Dessa forma, o desenvolvimento do diagnóstico é feito através da estrutura analítica da mobilidade urbana, utilizando suas dimensões, compostas das suas características (como deve ser) para confrontar com os apontamentos levantados pelos atores envolvidos. Magalhães e Yamashita (2009) complementam, explicando que um diagnóstico preferencialmente deve acontecer sob a orientação da utilização de indicadores.

(4) Problema: constatação que existe uma discrepância entre a situação atual da

mobilidade urbana e o que se pretende ter como situação desejada, acrescentando a isso um limite de tolerância (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006; MAGALHÃES; YAMASHITA, 2009). Para fazer a identificação das causas dos problemas, segundo Matus11 (1984; 1993 apud MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006, p. 76), algumas perguntas podem ser feitas no auxílio da montagem de uma estrutura de causa e efeito para os problemas identificados. Tais questões são: “Como era antes? Como é hoje? Como evoluiu do que era para o estado atual? Qual tendência segue?” Ainda segundo Matus (1984; 1993 apud MAGALHÃES; YAMASHITA, 2009), Quais fatores estimulam essas mudanças? Segundo os autores, identificar um problema com suas causas não é simples, pois as pessoas têm percepções diferentes do que possa ser problema em se tratando de mobilidade urbana. Fazer a identificação de um problema pontual não quer dizer que causará significativas mudanças. É necessário diagnosticar o estado atual da mobilidade urbana utilizando os elementos da visão, fazendo sua comparação com o estado que se deseja.

11

MATUS, Carlos (1993). Política Planejamento e Governo. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília. MATUS, Carlos (1984). Política y Plan. IVEPLAN, Caracas.

Sobre a estrutura analítica do sistema de mobilidade apresentada pelo Ministério das Cidades (2006), ainda existe muita reflexão e aperfeiçoamento para a sua formalização. Apesar da utilidade desse modelo ter a capacidade de transmitir conhecimento do que possa ser a mobilidade urbana, além de mostrar suas funções e importância, o próprio órgão reconhece essa necessidade.

Ainda, Magalhães e Yamashita (2009) comentam que no auxílio nas etapas seguintes do planejamento, até a avaliação, é importante que as respostas das questões relacionadas à imagem-objetivo sejam respondidas na forma de indicadores “finalísticos”. Seria prudente usar esses indicadores para fazer o diagnóstico, os quais são chamados pelos autores de parâmetros sintéticos e servem na orientação para explorar questões que tenham relevância de fato, e que sejam também os mesmos utilizados no desenvolvimento de todas as etapas do plano, desde a visão até o monitoramento. Proporcionariam assim, um processo mais ágil, evitando custos desnecessários, e assim sendo oportuno para o planejamento.

Pode-se ressaltar uma observação a respeito da etapa chamada de Diagnóstico e a de Problema. É que o diagnóstico, que deveria ser a etapa onde se identifica os problemas, vem separado da etapa Problema, como mostra sua descrição e o fluxograma.

3.2.4 Diagnóstico da situação atual dentro de um processo de planejamento e avaliação