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O objetivo deste estudo era analisar o saldo de emissões líquidas de CO2 da fermentação

das destilarias do Centro-Sul brasileiro que podem efetivamente serem consideradas como armazenadas geologicamente através da sua utilização em atividades de recuperação avançada de petróleo na Bacia de Campos, após se descontar as emissões as principais emissões de gases de efeito estufa ao longo do ciclo de vida do projeto (instalação e operação), já que geramente não se considera essas emissões nos cálculos de potencial de redução de emissão desses projetos, além de identificar a configuração de transporte (que já havia sido desenvolvida por estudos anteriores) que apresentaria a

menor emissão associada. Foram consideradas três configurações de transporte do CO2,

através de dutos ligando as destilarias a um único Hub, ligando a oito Hubs e o transporte sendo feito por caminhões ou dutos da destilaria ao Hub. Foram consideradas as emissões de GEE pela fabricação dos dutos, dos caminhões, consumo de combustível do caminhão e o consumo energético da captura e transporte.

A metodologia aplicada neste estudo foi a Análise de Ciclo de Vida (ACV), considerando apenas a categoria de impactos de mudanças climáticas, pois é o aspecto que apresenta a melhor resposta para a questão colocada neste trabalho. O inventário de ciclo de vida realizado neste estudo procurou ser justo na comparação entre as três configurações de transporte e considerar as emissões mais relevantes das atividades que foram definidas que seriam consideradas na elaboração do escopo. As premissas iniciais seguiram o estudo que desenvolveu a trajetória dos dutos, para que esse resultado pudesse ser utilizado, mas foi necessária a obtenção de diversos outros parâmetros para um completo estudo das emissões de GEE envolvidas em todo o ciclo de vida do projeto analisado. Além disso, no presente estudo também foi considerada uma nova configuração para os dutos desenvolvidos em um estudo anterior, que apontava que uma de suas limitações era que a análise desenvolvida anteriormente considerou apenas dutos unitários da destilaria até o Hub, sendo que vários deles eram exatamente coincidentes em diversos trechos. Visando uma melhoria dos resultados, o presente estudo considerou que nos casos em que os dutos eram exatamente coincidentes, que eles seriam compartilhados pelas destilarias a montante. Essa análise foi feita para o caso de múltiplos Hubs e de único Hub. Os resultados mostraram que o compartilhamento de dutos exatamente coincidentes proporcionou uma redução de 21,4% das emissões de fabricação dos dutos entre destilarias e Hub no caso de múltiplos Hubs e de 44,3% no caso do único Hub (que possui

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uma média de distância entre as destilarias e Hub bem maior), contribuindo para que as emissões da etapa de transportes na configuração compartilhada fossem 6,3% menores no caso de múltiplos Hubs e 27,9% menores no caso de único Hub. Mas o estudo a respeito do compartilhamento dos dutos por destilarias ainda pode ser melhorado, através de estudos mais detalhados que considerem a possibilidade de diversos dutos de conectarem, mesmo eles não estando coincidentes, mas serem próximos, otimizando

assim o transporte do CO2 das destilarias até seu local de armazenamento por uma rede

de dutos compartilhados.

A obtenção de todos os dados necessários para o inventário (que demanda uma grande quantidade deles), é sempre uma etapa difícil em uma ACV. Sempre que existiam dados brasileiros disponíveis, os mesmos foram utilizados neste estudo. Contudo, para alguns aspectos, os dados obtidos foram de bancos de dados internacionais ou da literatura. De acordo com os resultados deste estudo, a configuração que apresentou melhor resultado (ou seja, suas emissões de GEE ao longo do ciclo de vida do projeto eram menores), foi o transporte sendo feito por dutos para oito diferentes Hubs e posteriormente, sendo encaminhado para a Bacia de Campos por dutos compartilhados. Em segundo lugar ficou a configuração de transporte por dutos a um único Hub por dutos compartilhados também. A configuração de múltiplos hubs com dutos individuais ficou em terceiro lugar nas emissões, seguido pelo caso intermodal e por dutos individuais a um único Hub, que teve essa má colocação devido à necessidade de uma grande quilomentragem de dutos necessários conectando as destilarias em dutos individuais. Por isso a análise de compartilhamento feita no presente estudo foi necessária, para melhorar a rede de dutos desenhada em um estudo anterior e aproximar mais essa configuração de um projeto real, que não construiria dutos individuais coincidentes em um mesmo local, sem compartilhamento.

Quanto aos resultados individuais de cada destilaria, os dutos compartilhados ligados a

múltiplos Hubs também tiveram a melhor colocação, com uma média de 37,5 tCO2e/1000

tCO2 armazenadas e sendo a melhor opção para a maioria das destilarias. Os dutos compartilhados ligados a um único Hub ficaram com a segunda colocação, com uma

média de 41,8 tCO2e/1000 tCO2 armazenadas, seguida pelo múltiplos hubs unitários (42,5

tCO2e/1000 tCO2 armazenadas), e o transporte intermodal e único Hub com dutos

unitários, ambos com 58,8 tCO2e/1000 tCO2 armazenadas. O transporte rodoviário se

mostrou a melhor opção apenas para uma das 233 destilarias consideradas, mas esse modal teve a pior média de emissão por destilaria, o que mostra que realmente o

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transporte de CO2 por caminhões não é recomendável em larga escala, principalmente

pelo ponto de vista de emissões de GEE. Caso todas as destilarias fizessem o transporte por esse modal, a média das emissões das mesmas seria de 67,8 tCO2e/1000 tCO2

armazenadas, apresentando a pior média de resultados individuais das destilarias. Além disso, para cada configuração, também pôde-se observar quais etapas contribuíam mais para um aumento das emissões do projeto. De todo o ciclo de vida, a fabricação dos dutos se mostraram os maiores contribuidores nas emissões nas configurações consideradas, mas isso pode ter interferência da espessura calculada neste estudo, que é maior do a espessura de dutos existentes e isso pode influenciar esse resultado. Considerando apenas o transporte rodoviário, o consumo de combustíveis pelos caminhões é o grande contribuidor das emissões, com 63% das emissões da etapa de transporte deste modal.

Espera-se que esses resultados contribuam para o desenvolvimento de projetos de

BIOCCS no Brasil utilizando-se o CO2 da fermentação do etanol, já que a tecnologia está

disponível e pelo fato do Brasil ser o segundo maior produtor de etanol no. A utilização do CO2 em projetos de EOR pode ser uma boa alternativa para o Brasil, pois como

atualmente não existe uma precificação pelo carbono emitido, fica mais difícil o investimento em projetos de CCS em armazenamento geológico, pois não há retorno financeiro e não há muito incentivo para investidores investirem em projetos desse tipo, dificultando sua execução. Através do EOR, tanto a empresa petrolífera (possibilitando a recuperação de petróleo) quanto a indústria de etanol (comercializando o CO2 que era

antigamente emitido para a atmosfera) se beneficiam. Mesmo não sendo constante ao

longo do ano, o CO2 da fermentação do etanol é uma fonte contínua ao longo dos anos,

dada a importância da indústria do etanol no Brasil, que possui até mistura mandatória do combustível em toda gasolina consumida no país. E a Bacia de Campos, que possui

diversos campos de petróleo já maduros, poderia utilizar o CO2 das destilarias de etanol

do Centro-Sul do país, tendo assim uma fonte garantida de CO2 para suas atividades.

Com isso, abre-se o questionamento sobre a utilização de CO2 de origem biogênica para

sua utilização em uma produção incremental de combustível fóssil. Como foi dito anteriormente, a principal questão é a não existência de uma precificação pelo CO2

emitido. Além disso, é melhor ter um projeto que, mesmo aumentando a oferta e consumo de combustíveis fósseis (em um cenário onde a demanda por esse tipo de combustível não deve ser modificada a curto e médio prazo), produz emissões negativas, do que não ser feito nenhum projeto nem de redução de emissão de GEE.

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Os resultados do presente estudo mostraram que mesmo se considerar as emissões pela implementação e operação deste projeto, ainda é possível considerar que o armazenamento líquido foi de 94,9% a 96,1% da quantidade de CO2 produzido pelas

destilarias (444,7 MtCO2 em 30 anos), já que as emissões do ciclo de vida do projeto nas

três configurações variam entre 3,9% a 5,4%.

A utilização do BIOCCS utilizando CO2 da fermentação do etanol para atividades de

EOR na Bacia de Campos pode ser uma excelente oportunidade para o Brasil iniciar seus projetos de remoção de CO2, pelo seu baixo custo de captura, pela possibilidade de

incentivo financeiro para a implementação deste projeto e desenvolvimento de know-how para futuros projetos de BIOCCS no país.

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