• Nenhum resultado encontrado

5. Resultados – Avaliação dos Impactos do Ciclo de Vida

5.2. Discussões

Os principais objetivos desse estudo eram: verificar o saldo de emissões líquidas

armazenadas em um projeto de BIOCCS que utilizaria o CO2 da fermentação das

destilarias de etanol do Centro-Sul do Brasil para atividades de EOR na Bacia de Campos após desconsiderar as emissões de GEE que ocorreram pela implementação e operação do projeto e analisar as emissões ao longo do ciclo de vida das três configurações de transportes consideradas, verificando qual apresentava melhor desempenho no ponto de vista de impactos a mudanças climáticas.

A configuração que apresentou menor emissão associada à sua análise de ciclo de vida foi o caso de múltiplos Hubs com dutos compartilhados. Mesmo com o aumento das emissões associadas à fabricação de dutos entre os Hubs, que possuem uma espessura bem maior que a de dutos entre destilarias e Hubs (aumentando a quantidade de aço necessária), a menor distância entre as destilarias e um dos Hubs reduz consideravelmente o tamanho dos dutos (quando comparado ao caso de um único Hub), reduzindo ainda mais a necessidade de aço para a construção dos mesmos. O múltiplo Hubs também foi a opção que mostrou maior viabilidade econômica no estudo de SILVA et al. (2018) (apesar de que no estudo citado eram considerados apenas dutos individuais, e não compartilhados), se mostrando, portanto, a opção mais promissora para implementação

de um projeto que transportasse o CO2 da fermentação das destilarias do Centro-Sul à

Bacia de Campos.

A segunda melhor opção pelos custos de abatimento em SILVA et al. (2018) foi o transporte intermodal, com o transporte com um único Hub ficando com a pior colocação. Mas quando se considera as emissões de gases de efeito estufa, a configuração de único Hub com dutos individuais e o transporte intermodal tiveram praticamente a mesma média de emissão por destilaria (mas no resultado total do projeto, o único Hub com dutos individuais emitiu mais que o intermodal).

A segunda melhor opção de transporte foi o caso das destilarias ligadas por dutos a um único Hub na configuração compartilhada. Apesar da distância média entre as destilarias ao Hub ainda ser três vezes maior do que a distância média no caso de múltiplos Hubs, ainda foi melhor fazer esse transporte construindo dutos do que transportando por caminhões. Devido a este fato, o estudo de caso intermodal foi o que apresentou a pior média de emissões anuais dentre os três casos analisados.

146

Analisando apenas o transporte rodoviário, o maior contribuinte nas emissões de GEE ao longo do ciclo de vida do projeto é o consumo de combustíveis pelos caminhões, correspondendo a 63% das emissões da etapa de transporte. A literatura estudada indicava que este modal não é recomendado para transportes do CO2 em grande escala e os

resultados do presente estudo também mostraram que apenas uma das 233 destilarias

consideradas mostrou que a melhor opção de transporte do CO2 era por caminhões pelo

ponto de vista das emissões de GEE. Essa destilaria é uma destilaria de pequeno porte, mas não era uma das 70 destilarias apontadas em SILVA et al. (2018) que mostrarm que a melhor opção econômica era por este modal.

O compartilhamento de dutos entre as destilarias e os Hubs desenvolvido neste trabalho baseando-se em uma análise detalhada dos resultados obtidos em SILVA et al. (2018) mostrou que os custos calculados em seu trabalho poderiam ser até menores, caso alguns dutos exatamente coincidentes em seu resultado também fossem considerados como sendo compartilhados, já que o estudo citado apenas considerou dutos individuais para cada destilaria. O compartilhamento de dutos exatamente coincidentes proporcionou uma redução de 21,4% das emissões de fabricação dos dutos entre destilarias e Hub no caso de múltiplos Hubs e de 51,4% no caso do único Hub (que possui uma média de distância entre as destilarias e Hub bem maior), contribuindo para que as emissões da etapa de transportes na configuração compartilhada fossem 6,3% menores no caso de múltiplos Hubs e 27,9% menores no caso de único Hub. Se fossem considerados apenas os dutos unitários, como a rede havia sido projetada, o caso de único Hub seria o de pior emissão, pior até mesmo que o caso que considera dutos e caminhões. Mas com o compartilhamento de dutos desenvolvido pelo presente estudo, o caso de dutos compartilhados a um único Hub ficou em segundo lugar com as melhores emissões, atás apenas dos dutos compartilhados a múltiplos Hubs.

O presente estudo também acredita que os resultados aqui apresentados de compartilhamento de dutos podem ser melhorados, visto que alguns dutos não eram exatamente coincidentes, mas eram próximos a algum outro duto e não foram compartilhados no presente estudo pelo fato de que um novo desenho de uma configuração ótima dessa rede de transporte fugia do escopo deste estudo.

Nenhuma destilaria apresentou uma emissão de ACV maior que do que seu potencial de redução de GEE em nenhuma das configurações estudadas, nem na rodoviária, que apresentou a maior emissão de ACV dentre as opções de transporte consideradas. A etapa

147

que mais emitiu GEE em toda a análise de ciclo de vida foi a etapa de transportes, nos três estudos de casos considerados.

Mesmo utilizando o BIOCCS para produção adicional de petróleo em atividades de EOR,

a utilização do CO2 da fermentação do etanol pode ser uma excelente oportunidade para

o Brasil iniciar seus projetos de remoção de CO2, pelo seu baixo custo de captura (SILVA

et al., 2018), principalmente estando associado ao EOR, o que possibilita um incentivo financeiro maior para a implementação deste projeto e fornece know-how para futuros projetos de BIOCCS no país.

A etapa de inventário de ciclo de vida é a etapa central da ACV, demandando muito esforço e grande obtenção de dados para que seja elaborada da melhor forma possível. O ideal seria que todos os dados utilizados fossem dados primários, mas ao longo deste trabalho nem sempre eles estavam disponíveis e uma das limitações deste estudo é essa, a adaptação de dados de bancos de dados que nem sempre refletem a realidade brasileira. Eles foram utilizados principalmente nas fabricações dos equipamentos de transporte como no cálculo da emissão pela fabricação dos dutos, pneus, caminhões, sendo que o único que possui emissões relevantes dentre esses são os dutos, e um estudo futuro poderia aprofundar mais a emissão referente a esta etapa. Além disso, não possuir dados sobre a fabricação de dutos de aço carbono no Brasil e considerar um fator de aço cromado internacional é uma outra limitação que pode influenciar os resultados deste estudo. Uma outra limitação desse estudo foi a espessura considerada nos dutos. De acordo com uma publicação (IEAGHG, 2014) que mostrava a espessura de dutos existentes que

transportam CO2, dutos de alta capacidade de transporte possuíam uma espessura

variando de 19 a 27 mm e a espessura calculada no presente estudo para esses dutos foi de 52 mm, que é bem maior do que a espessura encontrada na literatura. Contudo, o presente estudo optou por não considerar uma espessura de outro projeto e utilizar uma fórmula para este cálculo que considerava a pressão do projeto, mas precisava de uma espessura arbitrária para este cálculo. O cálculo da espessura foi feito de duas maneiras diferentes neste estudo e o resultado ficou dentro de uma faixa pequena de valores, utilizando-se o resultado do primeiro cálculo, que era próximo do ponto médio da faixa de espessura calculada na segunda análise. Contudo, as maiores emissões nos três casos foram as construções dos dutos e talvez a consideração de uma espessura maior do que a média de espessuras da literatura pode ter influenciado nesse resultado.

148

Outra limitação é a utilização de fatores de consumo energético para algumas atividades, principalmente no caso do uso da amônia na refrigeração durante a liquefação, onde estudos futuros poderiam considerar emissões mais precisas nesta etapa. Mas como essa atividade especificamente representava apenas uma das três etapas consideradas no cálculo do consumo de energia pela liquefação como um todo de 1/3 das destilarias para um estudo de caso, acredita-se que este fator de consumo utilizado não tenha interferido tanto nos resultados finais. Duas outras limitações que também podem ser apontadas é a utilização do fator do grid, que se modifica a cada ano de acordo com a fração de geração no ano entre fontes renováveis (como as hidroelétricas) e fósseis (como a maioria das termoelétricas) e a não consideração do ciclo de vida da amônia utilizada na liquefação. O compartilhamento de dutos desenvolvido neste estudo com base no resultado de SILVA et al. (2018), pois seus resultados apresentavam a limitação de que só foram considerados dutos individuais entre as destilarias e o(s) Hub(s), com diversos dutos exatamente coincidentes e em um projeto real, isso não aconteceria. Sendo assim, tentando aproximar o resultado da realidade, foi simulada um compartilhamento dos dutos coincidentes,

transportando o CO2 das destilarias localizadas a montante. Isso foi feito para todas as

destilarias no caso em que todas utilizavam dutos como transporte aos dutos, analisados visualmente e medidos utilizando o software ArcMap. Contudo, nessa análise a limitação é de que pode ter ocorrido algum erro entre considerados entre os trechos compartilhados pelas destilarias (apesar do cuidado despendido nesta etapa). Além disso, estudos futuros poderiam melhorar ainda mais o resultado das emissões pela fabricação desses dutos, já que dutos próximos não foram considerados como sendo compartilhados, já que esta análise estava fora do escopo desse estudo, mas em um projeto real esses dutos próximos provavelmente seriam compartilhados também.

Seria importante que estudos futuros analisassem melhor as emissões envolvidas na etapa

de EOR, como: consumo energético para injeção do CO2, taxa de produção de CO2 com

o petróleo, taxa de armazenamento do CO2 e certificação do armazenamento do CO2 ao

longo do tempo, principalmente para a Bacia de Campos, para que essas emissões também fossem incluídas nas emissões do ciclo de vida de um projeto como esse, e o saldo do que

realmente pode ser considerado como CO2 armazenado pelo projeto seja ainda mais

149