2. BIOCCS e emissões negativas
2.1. BIOCCS na cadeia produtiva do etanol
2.1.2. Transporte
Com exceção das plantas que produzem CO2 e que estão localizadas bem em cima de um
local de armazenamento geológico, o CO2 capturado necessita ser transportado do local
de captura até o local onde será armazenado (IPCC, 2005). O CO2 pode ser transportado
nos estados sólido, líquido e gasoso e como fluido supercrítico (IEAGHG, 2011). O melhor estado para o transporte depende da distância a ser percorrida e do modal que será utilizado no transporte (por duto, navio, trem ou caminhão) (IEAGHG, 2011). Dessas opções, o transporte por dutos é considerado o que possui o melhor custo-benefício (IEAGHG, 2011). O transporte por navios pode ser economicamente favorável quando
grandes quantidades de CO2 devem ser transportadas a grandes distâncias (>1000 km) e
o transporte por trem ou caminhão não é considerado como tendo um bom custo-benefício quando comparado aos dutos e navios, exceto em uma escala muito pequena, mas não para um projeto de grande escala de CCS (IPCC, 2005).
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Como foi dito anteriormente, o CO2 é transportado por dutos em seu estado supercrítico,
mas ele também pode ser transportado em seu estado líquido por navios, caminhões-
tanque ou trens (IPCC, 2005). A liquefação do CO2 é necessária para que ele ocupe menos
volume no transporte, da mesma forma em que sua forma gasosa deve ser comprimida
para o transporte por dutos pelo mesmo motivo (COSTA, 2014). As propriedades do CO2
liquefeito não se diferem muito das propriedades de outros gases liquefeitos de petróleo
(como o gás natural liquefeito ou o GLP) (IPCC, 2005). O transporte rodoviário de CO2
geralmente é feito a uma temperatura de -20oC e a uma pressão de 2MPa (IPCC, 2005).
O transporte por dutos é o principal método de transporte do CO2 (IPCC, 2005; WRI,
2008; BONIJOLI et al., 2009; IEAGHG, 2011; COSTA, 2014), principalmente pela
indústria de petróleo para sua utilização na Recuperação Avançada de Petróleo (EOR) nos Estados Unidos (IEAGHG, 2011; COSTA, 2014). O transporte por dutos é uma
tecnologia madura e bem conhecida (IPCC, 2005; BONIJOLI et al., 2009;IEAGHG,
2011; IEA, 2013). Nos EUA já existem cerca de 6.000 km de dutos para transportar CO2
e o EOR foi o principal motivador do desenvolvimento da infraestrutura de dutos no país (IEAGHG, 2014a). Com exceção dos EUA, a maioria dos países tem pouca ou nenhuma
experiência com dutos de CO2 ou operações de EOR-CO2 (IEAGHG, 2014a).
A maior parte dos projetos de dutos de CO2 europeus são focados em armazenamento
deste gás, como uma opção de redução de emissões de CO2 (IEAGHG, 2014a). Neste
caso, a justificativa para os projetos é por mandatos de redução de emissão de CO2 ou por
custo associado a emissões de CO2, como por exemplo o European Emission Trading
System (ETS) ou Norway´s tax on carbon emissions (IEAGHG, 2014a). O transporte e
armazenamento de CO2 como parte de projetos de CCS maiores só podem gerar receita
se existir um esquema de suporte ou de precificação do CO2 (IEAGHG, 2014a).
O Brasil iniciou a construção de gasodutos na década de 1970 e atualmente, a extensão total da rede de gasodutos no país de 9.244 km, sendo 8.583 km de malha integrada (EPE, 2014). Contudo, a infraestrutura de gasodutos no país ainda é muito modesta, quando comparada a de outros países (EPE, 2014). Além disso, esta malha de gasodutos transporta apenas gás natural, não existindo ainda uma rede de gasodutos para o transporte do CO2.
A vantagem dos dutos é que com eles, é possível uma entrega do gás constante e estável, sem a necessidade de um armazenamento intermediário ao longo de sua rota (WRI, 2008).
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Já a desvantagem dos dutos é a necessidade de criação de uma nova infraestrutura, o que acaba necessitando de grandes investimentos de capital (SVENSSON et al., 2004). A
construção de dutos de CO2 é motivada pela necessidade de transportar o gás até algum
destino (IEAGHG, 2014a). Os dutos de CO2 conectam diferentes fontes e locais de
armazenamento, e esses principais locais são formações salinas profundas, campos de petróleo para EOR e campos de gás e óleo depletados, quando o objetivo é redução das emissões de GEE (IEAGHG, 2014a). Geralmente, existem quatro razões para transportar
o CO2 (que não são mutuamente excludentes) (IEAGHG, 2014a):
Uso do CO2 para produção avançada de hidrocarbonetos (recuperação terciária,
conhecida como EOR);
Armazenar o CO2 para atingir uma meta de redução de GEE
Uso do CO2 para recuperação do metano em camadas de carvão
Utilização do CO2 para fins industriais
Os primeiros projetos de CCS podem envolver a construção de dutos individuais
especificamente para o transporte do CO2 da fonte até o local de injeção, mas à medida
que a implementação desses projetos se espalhe, se faz necessária uma grande expansão do sistema de transporte por dutos e a abordagem mais eficiente para esse transporte ser feito é uma rede de dutos planejada (EERC, 2011), como foi desenvolvido por SILVA et
al. (2018) em seu trabalho de elaboração de dutos para transportar o CO2 de destilarias
de etanol para utilização de EOR na Bacia e Campos.
Geralmente em projetos com destilarias de etanol, a etapa de transporte do CO2 representa
um alto peso dos custos do projeto, já que o volume de CO2 a ser transportado está
espalhado por uma região, necessitando de uma boa rede de transporte que seja capaz de
coletar toda essa produção de CO2 e que o volume transportado seja suficiente para gerar
economia de escala e possa ser transportado para locais mais distantes, como nos campos da Bacia de Campos. As principais limitações dessas configurações de transporte aplicadas para o CO2 proveniente de destilarias de etanol, apontadas por SILVA et al.
(2018), são os baixos volumes capturados e o caráter sazonal da produção de etanol. Para
os casos de projetos de CCS de fontes fósseis, geralmente se têm grandes volumes de CO2
concentrados em um local, o que gera grande economia de escala na construção dos dutos
e transporte de CO2 (MERSCHMANN et al., 2016).
A economia de escala obtida com o transporte por dutos pode reduzir os custos para o
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gás, o alto custo para a construção dos dutos pode prejudicar a viabilidade do transporte
do CO2 (SILVA et al., 2018). Para essas pequenas fontes emissoras, outros modais de
transporte podem ser mais atrativos, como os caminhões (SILVA et al., 2018). Geralmente os caminhões-tanque e navios são mais encontrados no transporte de CO2
para a indústria de alimentos e bebida (WRI, 2008).
O comprimento do duto de um projeto depende do número de obstáculos entre a fonte de CO2 e o local de armazenamento, como cidades, estradas, ferrovias, áreas naturais
sensíveis e que precisam ser evitadas (IEAGHG, 2014a). O estudo de IEAGHG (2014a)
mostrou que existia uma correlação positiva entre o comprimento dos dutos considerados ao longo de seu estudo e suas capacidades de transporte, pois economicamente, os grandes
dutos precisam transportar grandes volumes de CO2 para serem economicamente viáveis
(IEAGHG, 2014a). O desenho da trajetória de dutos do CO2 é governado principalmente
por critérios de custos e segurança (IEAGHG, 2014a). Por isso, neste estudo será
considerada a opção da trajetória desenvolvida pelo estudo de SILVA et al. (2018), por ser uma rede de transporte elaborada para obter o ótimo econômico da trajetória dos dutos
para transportar o CO2 das destilarias do Centro-Sul para os campos de petróleo da Bacia
de Campos para EOR, já que seria possivelmente a opção mais facilmente escolhida para ser implementada.
Os princípios básicos para selecionar a rota dos dutos de CO2 não se diferem muito da
seleção da trajetória de dutos de outros gases, sendo principalmente (IEAGHG, 2014a):
Minimizar a interferência ou proximidade com outras infraestruturas existentes ou potenciais e evitar habitações humanas sempre que possível;
Evitar áreas de interesse arqueológico ou áreas sensíveis ecologicamente; Escolher o terreno de forma que seja relativamente fácil para a construção do
duto;
Seguir rotas de dutos já existentes ou outros corredores de transporte e aproveitar o direito de passagem já existente;
Evitar difíceis cruzamentos com cursos d´água ou grandes estradas sempre que possível
Evitar áreas reservadas para futuros empreendimentos que possam ser incompatíveis com a presença de dutos
Quando múltiplas fontes e locais de armazenamento de CO2 existem, uma rede de coleta,
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(IEAGHG, 2014a). A maioria dos Hubs em operação estão localizados nos EUA
(IEAGHG, 2014a). Os Hubs de CO2 não apresentam um conjunto de regras específicas
ou lições que podem ser aprendidas de experiências anteriores porque os Hubs geralmente
são desenvolvidos de acordo com a disponibilidade do CO2 e/ou quando mercados viáveis
existem (IEAGHG, 2014a). Cada Hub tem o seu próprio padrão de pureza do CO2,
aceitação de impureza, pressão e temperatura (IEAGHG, 2014a).
Os Hubs podem ser definidos como reservatórios intermediários de CO2, capazes de
otimizar o transporte de CO2 até o local de armazenamento (COSTA, 2014). Após a rede
principal estar instalada, é relativamente mais fácil adicionar novas fontes de CO2 e locais
de armazenamento (IEAGHG, 2014a). A localização ótima de um Hub pode ter algumas
variações, mas o objetivo geral é que, dentre as restrições físicas impostas, as rotas de
dutos devem minimizar os custos unitários de transportar o CO2 pelo sistema (IEAGHG,
2014a).
A maneira utilizada para localizar os Hubs utilizados no presente estudo (obtidos nos resultados de SILVA et al., 2018), foi a utilização da Análise de Kernel do software ArcMap, que permitiu verificar onde estavam localizadas as maiores densidades de produção do CO2 (considerando a quantidade produzida de CO2 pela fermentação do
etanol). Essa metodologia de localização de Hub utilizando Análise de Kernel também foi utilizada nos trabalhos de COSTA (2014) e TAGOMORI et al. (2018).
Os dutos de CO2 geralmente são feitos de aço carbono, já que esta é a opção mais
vantajosa economicamente (IEAGHG, 2014a). Contudo, este material é bastante
suscetível à corrosão, quando o fluxo de CO2 contém água e para prevenir isso, o conteúdo
de água no fluxo de CO2 deve realmenteser mantido o mais baixo possível (IEAGHG,
2014a).
Geralmente os dutos possuem um tempo de serviço que excede seu tempo de vida (IEAGHG, 2014a). Se as especificações iniciais de projeto permitirem, na maioria dos casos o reuso dos dutos é benéfico, já que pode reduzir drasticamente os custos totais de projeto (IEAGHG, 2014a). Os dutos offshore são usualmente reaproveitados porque seus custos são bem mais altos que os dos dutos onshore (IEAGHG, 2014a).
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