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No presente trabalho foram abordados aspectos referentes à distribuição de riquezas no país, expondo o período da segunda metade do século XX e a primeira década do século XXI. Diagnosticou-se que, apesar de possuir uma desigualdade de renda acentuada a qual atravessa séculos, o Brasil coloca-se como uma nação que possui recursos o suficiente para retirar da pobreza parte considerável de sua população. Mesmo com o crescimento econômico acentuado durante uma parte considerável da segunda metade do século XX, a partilha dos ganhos com esse crescimento não foram realizadas de forma eficiente, como refletido na estabilidade dos indicadores sociais do período.

Nos anos 60 o maior impacto da desigualdade foi sobre a classe média, nos anos 70 com o crescimento econômico e a luta dos sindicatos por melhores salários, a concentração de renda diminuiu o seu ritmo. Já nos anos 80 o contexto mudou consideravelmente, aconteceu a crise da dívida externa, aumentaram os índices inflacionários e a dívida pública. Nos anos 80 a instabilidade era algo inevitável, dado esse contexto. Nos anos 90 implanta-se o Plano Real, a amenização da inflação suaviza a concentração de renda. Mesmo assim, o Brasil chegou ao século XX com um dos piores índices de distribuição de renda do mundo.

Na primeira década do século XXI surgiram sinais de um novo caminho a ser trilhado. Houve aumento da velocidade da queda do índice de Gini quando comparado a outros países, apesar do índice ainda se encontrar em um patamar elevado. Políticas sociais associadas a políticas econômicas de curto prazo foram importantes como contribuintes dessa nova perspectiva. É imprescindível manter esse caminho, a fim de que haja evolução no quadro social marcado pela injustiça e exclusão. Nesse contexto, é importante manter os recursos da Previdência e reduzir a pobreza, concomitantemente tentando manter a harmonia com os princípios fiscais.

Assim, mesmo com a evolução benéfica que ocorre nesse período recente, é importante a ação de políticas sociais. É nesse âmbito que a Previdência Social se encaixa como um possível instrumento para tal. Como um conceito inserido no âmbito da seguridade social, a Previdência teve seus princípios consolidados na Constituição de 1988 e consagrou-se como universalista, vinculada ao salário mínimo e de caráter contributivo. Na seguridade social as necessidades primam sobre as contribuições, dessa forma, a Previdência assumiu um

importante papel de provedora de recursos aos idosos e àqueles sem condições de inserção no mercado de trabalho durante as últimas décadas.

Por outro lado, outros autores defendem que a potência da Previdência com redutora das desigualdades é limitada, há limites quanto ao seu financiamento e cobertura universal dado que seus contribuintes são restritos. Nesse contexto, é que se desenvolveram opiniões divergentes no que tange ao uso da Previdência para tal fim, constituindo um debate que está longe de finalizar-se.

Pode-se dizer, que muito mais que um simples seguro, para que a Previdência assuma um caráter de política social, ela deve manter suas características: solidariedade inter e intrageracional, universalista e piso atrelado ao salário mínimo. Caso algum desses elementos sejam desconsiderados corre-se o risco de se perder o fim redistributivo da Previdência Social. Levando-se em conta que nos últimos vinte anos houve uma progressiva redução da desigualdade social brasileira, é possível afirmar que a Previdência desempenhou um importante papel nesse contexto, dado que sua ampliação aconteceu basicamente a partir da década de 90 e após sua consagração na Constituição de 1988. Dessa forma, considerar apenas o princípio contributivo da Previdência e supervalorizar seu aspecto fiscal, deixando de lado o universalismo e seu uso como uma política de distribuição de renda, é retroagir no tempo, desperdiçar os avanços obtidos nos últimos anos, colocando os interesses do capital acima dos interesses sociais.

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