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Para que haja um progresso na RZM-PE, partindo de um estudo fundamentado nos indicadores e assim estruturado, tendo como referência experiências rurais de casos bem- sucedidos, que têm relações com o objetivo geral desse trabalho e que, ao serem analisados, apontam possibilidades dimensionais viáveis para um processo de transição de um modelo convencional para o agroecológico, se fez necessário considerar como premissa que o crescimento é condição indispensável para o desenvolvimento, mas não condição suficiente, isto é, o crescimento não conduz obrigatoriamente à igualdade, nem à justiça social, pois não leva em conta nenhum outro aspecto da qualidade de vida, a não ser o acúmulo de riquezas, que se faz nas mãos apenas de alguns indivíduos da população. Já desenvolvimento preocupa-se com a geração de riquezas, porém, tem o objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em consideração a qualidade ambiental. Ratificando o exposto, VEIGA (2006), afirma que: “Quando se fala em progresso, tende-se a igualar desenvolvimento e crescimento”.

Destarte, finalmente, cabe reconhecer os enormes desafios que estão pela frente se o objetivo é fazer avançar o enfoque agroecológico, numa perspectiva de agricultura e desenvolvimento rural sustentável nessa região. Para CAPORAL & COSTABEBER (2004), de uma forma geral, tais desafios são muito grandes e complexos, mas não são, em absoluto, intransponíveis. Sua superação depende, primeira e principalmente, da capacidade de diálogo e de aprendizagem coletiva que se possa estabelecer entre diferentes setores da sociedade, assim como do reconhecimento de que a sustentabilidade encerra não apenas abstrações teóricas e perspectivas futuristas, mas também elementos práticos que devem ser adotados na vida cotidiana. Soma-se a isso o fato de que muitos dos já comprovados impactos negativos causados pela agricultura convencional ainda não aparecem como um problema na opinião pública, pelo menos na intensidade necessária, retardando o debate e a possível tomada de consciência da sociedade, no sentido de apoiar a construção de processos de desenvolvimento rural e de estilos de agricultura mais ajustados à noção de sustentabilidade. Justamente é o caso da região estudada, ou seja, da RZM-PE, destacando-se ainda que a socialização de conhecimentos e saberes agroecológicos entre agricultores, estudantes, professores, políticos e outros segmentos da sociedade da região, é insignificante diante da tamanha degradação antropocêntrica observada na região, como consta no item I.1.5.2 desse capítulo, e nas tabelas 9, 11, 12, 13 e 14, no que se refere ao baixo percentual de ocorrência de práticas conservacionistas, o que determina a necessidade de participação ativa do Estado. Cabe também a todos os cidadãos(ãs) o dever – e também o direito – de trabalharem pela ampliação das

oportunidades de construção de saberes socioambientais necessários para consolidar um novo paradigma de desenvolvimento rural, que considere as seis dimensões (ecológica, social, econômica, cultural, política e ética), da sustentabilidade.

Como enfoque científico e estratégico de caráter multidisciplinar, a Agroecologia na RZM-PE apresenta a potencialidade para fazer florescer novos estilos de agricultura e processos de desenvolvimento rural sustentável que garantam a máxima preservação ambiental, respeitando princípios éticos de solidariedade sincrônica e diacrônica, isto é, numa perspectiva que contemporaneamente se possa contornar o caos, respaldando-se no conjunto de fatos culturais, sociais, ambientais, econômicos e sua evolução no tempo.

A monocultura da cana, a dependência em relação a insumos externos, a fraca integração entre os diferentes sistemas de cultivo e criação, a ausência de cultivares localmente adaptadas, a erosão do conhecimento referente ao manejo da biodiversidade local, a degradação da qualidade do solo e da água, e a crescente desvalorização pelos agricultores patronais das atividades produtivas destinadas à reprodução dos sistemas agrícolas, são alguns dos impasses enfrentados por técnicos e agricultores(as) familiares nas práticas agroecológicas nas áreas da Região da Zona da Mata de PE.

O trabalho em agroecologia nessa região inclui, especificamente, áreas historicamente marginalizadas pela “revolução verde”, ainda marcadas por grande riqueza biológica e cultural, mas nas quais os agricultores enfrentam problemas de exclusão em relação às políticas públicas, de acesso ao mercado, enfim, de baixa ou ausência de cidadania deliberativa.

A sustentabilidade do processo de mudança tecnológica na agricultura familiar na região não se resume à aplicação bem-sucedida de um repertório de técnicas, embora muito ainda se possa avançar nesse sentido. É preciso mais do que isso, criar, em cada contexto local, um ambiente social, cultural e econômico capaz de possibilitar que os agricultores se tornem individual e coletivamente os autores de seu próprio processo de transição para a agroecologia.

Isso pode implicar, por vezes, mudanças no papel desempenhado por homens, mulheres, idosos, adultos e jovens, no interior das famílias. Ou, até mesmo, a quebra de laços, há muito estabelecidos, com políticos, comerciantes locais, dirigentes de associações e/ou cooperativas, de forma a ampliar a autonomia dos agricultores(as) na organização de seu processo produtivo.

Cabe observar aqui que, na RZM-PE, prevalece a forte presença de um trabalho visando garantir a reprodução do modelo tecnológico convencional, que é hoje um relevante entrave para a expansão da proposta agroecológica, em vista das sequelas que se remontam nas ações em nível nacional desde os anos 60, e que a RZM/PE não foi e não é diferente, porém muito evidente. Portanto, para trazer à memória do leitor, segue uma rápida retrospectiva:

Nos anos 60 a agricultura brasileira, para atender aos interesses do processo modelo desenvolvimentista baseado na industrialização, passa a modernizar-se de forma conservadora, baseada nos princípios da “revolução verde” (caracterizada pela adoção intensiva de tecnologias). A política agrícola desse período passa a destinar-se a: liberar mão-de-obra (êxodo rural) para formar o exército industrial de reserva, necessário para o

crescimento industrial; produzir alimentos baratos para a população urbana que recebia baixos salários; produzir matérias-primas para a indústria processadora, incentivando a agroindustrialização; produzir excedentes exportáveis para cumprir os compromissos internacionais e adquirir máquinas, equipamentos e insumos para a indústria nascente.

Esse processo de modernização contou com três instrumentos principais: 1) a pesquisa agropecuária; 2) a assistência técnica e a extensão rural; e 3) o crédito rural. Esses três elementos possuíam estreita articulação.

1) A pesquisa agrícola voltou-se para apoiar o modelo desenvolvimentista, dessa forma, os produtos selecionados para pesquisa eram selecionados a partir da produção de divisas, o abastecimento interno entre outros. Esse modelo de pesquisa determinava um modelo concentrado de pesquisa em somente alguns poucos produtos; tal modelo prevaleceu até os anos oitenta.

2) A assistência técnica e extensão rural tinham então o objetivo de fazer a ponte entre a pesquisa e os agricultores, adaptando a tecnologia e levando até os produtores. No entanto, ambas eram organizadas de forma centralizadora, o que permitia pouca adaptação à realidade local, desconsiderando assim as necessidades da agricultura familiar. Nos anos oitenta, o Estado praticamente abandona a assistência técnica pública, que entra em decadência, ao passo que a assistência técnica privada se fortalece; esse modelo prevalece até os dias atuais.

O crédito rural tinha por objetivo viabilizar financeiramente os pacotes tecnológicos validados pela pesquisa e difundidos pela assistência técnica, voltando-se assim para a modernização tecnológica. A liberação dos recursos era vinculada a condições pré-fixadas, formando pacotes tecnológicos que incluíam a utilização de insumos químicos, sementes melhoradas entre outros, visando à produção em escala.

Pelo exposto, após a pesquisa de campo na RZM/PE, o tratamento dos dados permitiu obter os resultados apresentados no capítulo a seguir, os quais são colocados em percentagem por município, e classificados conforme Tabela 8: forte, médio e fraco permitindo uma melhor visualização da informação.

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