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Neste estudo sobre a comunidade rural de Várzea do Barro, enveredamos pela trilha da organização comunitária no sentido de compreendermos as narrativas que embasaram a criação de uma associação comunitária e as discussões sobre políticas públicas que começaram a chegar às áreas rurais. Para tanto, foi necessário um caminhar sobre alguns movimentos que estavam em pauta nos anos de 1980/90, tanto em nível nacional como regional.

Deste modo, uma das influências do movimento associativista do Seridó Potiguar veio da Igreja Católica. Assim, no olhar sobre as instituições que mantiveram ações voltadas para o meio rural, no âmbito da Igreja podemos citar o MEB, que através das “ondas do rádio” (Rádio Rural de Caicó) propagou mensagens de incentivos para a formação de grupos comunitários.

Além do MEB, atuaram também outros movimentos como as CEB’s, o SEAPAC e também o PEC, sendo este último independente da Igreja Católica que mantinha suas atividades sobre a coordenação do Professor Inácio de Loiola Azevedo. Portanto, cada instituição que passaram pela comunidade, deixou um pouco de suas narrativas o que de certa forma contribuiu para delinear estratégias que motivaram a criação da associação comunitária no ano de 1995.

Ao problematizar tal comunidade, compreendemos também um contexto mais amplo, carregada de sentimentos, memórias e estratégias. Com este entendimento percorremos alguns cenários que contribuíram para alimentar a construção da associação comunitária da comunidade Várzea do Barro. Desta forma, o movimento que atuou nas comunidades rurais de Parelhas canalizado pela Igreja e também outras instituições conforme fora mencionados ao longo deste estudo foram imprescindíveis para o fortalecimento do discurso das associações comunitárias.

Outro fator que deve ser considerado foram os discursos do final da década de 1980, sobretudo no tocante a Constituinte. Foram criados fóruns de discussões e debates no Rio Grande do Norte para incentivar a participação das pessoas no processo de formulação de uma nova Constituição para o País. Na cidade de Parelhas, um dos mobilizadores em prol desta temática foi Inácio de Loiola Azevedo, através do PEC.

A narrativa apresentada por Loiola foi importante ainda no sentido de compreendermos a movimentação que estava ocorrendo na cidade de Parelhas,

sobretudo no tocante as comunidades rurais. Através do PEC, Loiola buscava fortalecer as comunidades rurais para discutir formas de resolver os problemas encontrados no meio rural. Esta atuação iniciou-se no ano de 1984 permanecendo até 1994, ano do seu falecimento. Deste modo, foram 10 anos de contato com as comunidades e também alguns bairros da cidade de Parelhas. No decorrer deste tempo, o período com mais atividades foi a partir de 1986, sobretudo no movimento da Constituinte e também discussão da Lei Orgânica do Município a partir de 1988.

Nos cadernos de campo de Loiola foi possível verificar muitas das atividades sob sua orientação. Dentre as quais registra-se: reuniões mensais em quinze comunidades rurais sobre com temas diversos. Mas, foi sobretudo pautas com discussões políticas que mais foram registradas em relatórios: Problemas com o acesso a água, infraestrutura e a organização através de grupos, associações comunitárias percorreram praticamente toda a zona rural parelhense com atuação do PEC. Em um dos registros Loiola escreve que ao se expandir nas comunidades, esta foi a melhor fase do Programa, como os companheiros esclarecidos, que nunca tiveram oportunidade de atuação nas comunidades, começaram a desenvolver atividades.

Assim, a base do trabalho de Loiola estava direcionada para as comunidades rurais. Em estudos posteriores, podemos avaliar com mais clareza como as comunidades reagiram às formações promovidas por Loiola. Neste aspecto também é possível fazer uso da história oral, visto que muitas das lideranças que integravam as atividades do PEC ainda encontra-se em atividade. Dentre os quais podemos mencionar José Florentino de Oliveira, presidente da ADECOVAB, na comunidade Várzea do Barro, além de pessoas que atuaram nos movimentos sociais na cidade de Parelhas no referido período.

Assim, o caminho da organização na cidade de Parelhas, em especial na comunidade Várzea do Barro apresenta uma narrativa que perpassava pela influência eclesial, a partir das entidades ligadas a Diocese de Caicó. Esta participação por parte da Diocese foi mais intensa com a presença do SEAPAC que atuou na mobilização das comunidades, bem como na área de projetos. Os chamados “Projetos Alternativos Comunitários”, com foco nos agricultores. O SEAPAC desenvolveu ainda seminários e eventos com foco em associações rurais na região do Seridó.

Por conseguinte, a organização dos moradores das comunidades rurais em associações proporcionou a abertura de mecanismos para dialogar acerca dos

problemas existentes nas comunidades e consequentemente a discussão sobre possíveis soluções. Assim sendo, uma via que podemos destacar foi através do PAPP, mas também, essa movimentação abriu possibilidades para elaboração de políticas públicas para enfrentar a problemática da seca e também nos períodos de chuvas registra-se contatos com o poder públicos para viabilizar o preparo do solo para o plantio, melhoramento do acesso as comunidades e manejo adequado das terras produtivas. O associativismo rural também proporcionou uma interação entre jovens e mulheres e parcerias com instituições que de certa forma contribuiu um melhoramento da vida no campo. As associações comunitárias tornou-se um espaço importante para discussão das políticas públicas.

No tocante a Várzea do Barro, constatamos que as ações promovidas ao longo dos anos de 1980 e 1990, com assessoria das entidades que atuaram na referida comunidade culminaram na criação da associação comunitária o que possibilitou o acesso a recursos públicos para implementação de projetos importantes para melhorar as condições de vida da população local.

Tais discussões aqui estudadas poderão ser mais aprofundadas em estudos posteriores que possibilitem um olhar que alcance também as origens da comunidade, sua cultura e diversos caminhos construindo ao longo do tempo, visto que as discussões sobre organização comunitária foi apenas uma das etapas vivenciadas por esta comunidade.

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