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O processo de organização comunitária na comunidade Várzea do Barro no sertão do Seridó (Parelhas/RN- 1984-2000)

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DOS SERTÕES

SIDNEY JOSÉ DE OLIVEIRA

O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA NA COMUNIDADE VÁRZEA DO BARRO NO SERTÃO DO SERIDÓ (PARELHAS/RN- 1984-2000)

Caicó – RN 2018

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O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA NA COMUNIDADE VÁRZEA DO BARRO NO SERTÃO DO SERIDÓ (PARELHAS/RN- 1984-2000)

Monografia apresentada a Especialização em História dos Sertões, como requisito para obtenção do título de Especialista em História dos Sertões.

Orientador(a): Profª Drª. Jailma Maria de Lima.

Caicó – RN 2018

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O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA NA COMUNIDADE VÁRZEA DO BARRO NO SERTÃO DO SERIDÓ NO PERÍODO DE 1984 – 2000 EM

PARELHAS/RN

Monografia apresentada a Especialização em História dos Sertões, como requisito para obtenção do título de Especialista em História dos Sertões.

Orientador(a): Prof. Dra. Jailma Maria de Lima

MONOGRAFIA APROVADA EM ____/____/2018. BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Prof.ª Drª. Jailma Maria de Lima.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Orientadora)

_________________________________________ Prof.ª Drª. Juciene Batista Felix Andrade. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(Examinadora)

_________________________________________ Prof.ª Drª Paula Rejane Fernandes.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Examinadora)

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Ao final de um trabalho sempre é importante lembrar as contribuições recebidas. As palavras de ajuda são alimentos que nos conduzem na direção dos acertos, superando os erros. Assim, neste caminhar sobre “História dos Sertões” foi de grande valia as conversas e debates que tivemos ao longo do curso. É pertinente lembrar ainda a coordenação do Curso de História pela dedicação e através desta, toda a parte docente que apesar das dificuldades não mediram esforços para viabilizar este importe curso.

Sou grato a contribuição que recebi da direção da CAPESA que proporcionou o acesso a seus acervos, assim como a Associação da Comunidade Várzea do Barro. Agradeço ainda a Helena Meira, Aurélia lima e Lídia Ângelo pelas informações prestadas.

Registro aqui meu apreço por meus familiares que sempre passam mensagens de apoio, em especial minha querida esposa Vitória.

E assim, nessas “encruzilhadas” do sertão encontrei pessoas que deram muitas contribuições para a construção desta narrativa. No tocante aos ajustes na escrita e normas técnicas agradeço imensamente a amiga Silvana Medeiros.

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Figura 01: Comunidade Várzea do Barro.

Figura 02: Encontro do PEC na Comunidade Várzea do Barro em 1984.

Figura 03: Grupo de jovem da comunidade Várzea do Barro em agosto de 1986. Figura 04: Encontro de formação em autogestão realizado pelo PEC/ Parelhas Figura 05: Reunião de avaliação dos trabalhos realizados nas comunidades rurais de

Parelhas no ano de 1994.

Figura 06: Construção da caixa d’água na comunidade Várzea do Barro no ano de

1997.

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LISTA DE SIGLAS

ACC – Associação Comunitária da Cachoeira

ADECOVAB - Associação de Desenvolvimento de Várzea do Barro CAPESA - Cooperativa Agropecuária do Seridó

CEAS – Centro de Estudos de Ação Social CEB’s - Comunidades Eclesiais de Bases

CECAPAS - Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos Alternativos Comunitários

CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil DDAS - Departamento Diocesano de Ação Social

EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

FETARN - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Norte FUMAC –P - Fundo Municipal de Apoio Comunitário piloto.

JUER – Juventude Eclesial Rural

MEB - Movimento de Educação de Base OCB - Organização das Cooperativas do Brasil

OCERN – Organização das Cooperativas do Rio Grande do Norte PAPP - Programa de apoio ao Pequeno Produtor

PCPR - Programa de combate a Pobreza Rural

PDSS – Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região do Seridó PDT – Partido Democrático Trabalhista

PEC - Programa de Educação Comunitária PFL – Partido de Frente Liberal

PL – Partido Liberal

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

SEAPAC - Serviços de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários TSE – Tribunal Superior Eleitoral

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RESUMO

O presente estudo sobre processo de organização comunitária na comunidade Várzea do Barro no sertão do Seridó Potiguar, na cidade de Parelhas/RN, abordou uma narrativa acerca das formas adotadas pela comunidade Várzea do Barro que proporcionou a criação de uma associação comunitária. Neste sentido, enveredamos pelos caminhos das articulações que ocorreram na cidade de Parelhas, bem como em nível regional afim de compreendermos tal processo e os agentes envolvidos nessa narrativa. Deste modo, partimos do ano de 1984 visto que é neste período que iniciaram os trabalhos do Programa de Educação Comunitária – (PEC), sobre a coordenação do Professor Inácio de Loiola Azevedo na comunidade Várzea do Barro e também os serviços do Movimento de Educação de Base ligado a Diocese de Caicó. Nos anos de 1990 a referida Diocese continuou sua atuação com foco na formação de associações comunitárias e ações diversas com foco na mobilização social. A conjuntura nacional também foi importante neste processo de articulação, sobretudo na segunda metade da década de 1980 quando iniciou-se as discussões relacionadas à Assembleia Constituinte no processo de abertura política do Brasil. Assim, as comunidades participaram ativamente deste processo atuando em fóruns sobre a conjuntura política e ao mesmo tempo construindo mecanismos para o fortalecimento das comunidades através de associações comunitárias. Esta articulação impactou na elaboração e execução de vários projetos que possibilitaram um certo melhoramento para o meio rural. O acesso a água foi um dos principais projetos tendo em vista os períodos de secas que tornaram as águas escassas na região. As associações formalmente constituídas possibilitaram um diálogo maior com o poder público. Neste sentido, foi pertinente estudar de que maneira tais projetos possibilitaram a superação dos impactos causados pelas secas, bem como o acesso as políticas públicas viabilizando uma certa autonomia da comunidade e consequentemente um distanciamento de práticas assistencialistas que implicavam numa dependência a grupos políticos. Com tais narrativas adentramos a Comunidade da Várzea do Barro, compreendendo a mesma neste cenário de articulações com jovens, crianças que culminou na formação da Associação de Desenvolvimento comunitário.

Palavras-chave: Associações comunitárias. Educação de base. Juventude rural.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 COMUNIDADE VÁRZEA DO BARRO NO CAMINHO PARA CIDADANIA A PARTIR DA EDUCAÇÂO COMUNITÁRIA NA DÉCADA DE 1980 18

3 OS CAMINHOS DO ASSOCIATIVISMO NO MUNICÍPIO DE PARELHAS 32

4 EM BUSCA DA ORGANIZAÇÃO: OS PASSOS INICIAIS DA ASSOCIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DE VÁRZEA DO BARRO 47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 56

REFERÊNCIAS 59

ANEXO A – HISTÓRICO DA COMUNIDADE VÁRZEA DO BARRO 66

ANEXO B – JORNAL COMUNITÁRIO – “JORNALZINHO” PEC 67

ANEXO C – OFÍCIO 048/85 ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (OCERN) 69

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1 INTRODUÇÃO

Adentrar o espaço de uma comunidade rural no sertão é instigante e ao mesmo tempo desafiador e, mais ainda, quando ela faz parte da memória do pesquisador. Caminhar por este sertão, em meio a tantos outros é antes de mais nada a busca incessante de contribuir com uma problematização sobre o lugar que deu suporte para a minha trajetória de vida. Assim, passo a analisar um espaço territorial do Seridó Potiguar.

A comunidade rural de Várzea do Barro, está localizada no sertão do Seridó a 5 km da sede do munícipio de Parelhas/RN, distante 240 km da capital do estado (Natal). É cortada pelo Rio Quintos que tem suas nascentes na Serra das Queimadas, no município de Equador/RN e deságua no açude Caldeirões de Parelhas. A denominação do nome decorre das várzeas do rio serem compostas por argila e ideal para o plantio, sobretudo o cultivo do milho e feijão, entre outros. Assim, ele se torna fundamental para o acesso a água, bem como para o alimento dos animais. As culturas de subsistência, nos períodos de “inverno”, complementam a alimentação da população local.

No tocante ao abastecimento de água, existem sistemas simplificados de abastecimento com captação no rio através de poços amazonas e artesianos com bombeamento a partir de cataventos ou bombas elétricas, e para o consumo humano a comunidade dispõe de um dessalinizador (tecnologia que retira o sal da água através do sistema osmose reversa1). O acesso a tais sistemas se iniciou no de 1987 com a conquista do primeiro projeto hídrico2.

Em meados daquela década habitavam na comunidade 34 famílias que tinham como atividade principal a cultura do algodão arbóreo e as lavouras de subsistência: milho, feijão, batata doce, dentre outras. Além da criação de caprinos, ovinos, bovinos e galinha caipira. A mão de obra utilizada no período predominava a familiar e uso da tração animal. No tocante a educação, funcionava um “Grupo Escolar” com turmas de primeira a quarta série. (EMATER – RN, 1985).

1 É um processo de filtração por alta pressão utilizado para retirar a salinidade da água, tornando-a

própria para ao consumo humano.

2 Projeto elaborado por um grupo de moradores com o apoio técnico de Inácio de Loiola e custeado

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Neste contexto enveredamos pelos caminhos às “margens do Rio Quintos” objetivando compreender como seus habitantes se articularam e se organizaram com entidades para conviver com os períodos de estiagens, bem como articular ações e projetos nos períodos de “inverno”, amenizando assim os efeitos dos períodos de seca e cheias, sobretudo, superando a dependência das chamadas políticas assistencialistas.

Nesta perspectiva, o presente estudo busca compreender como a Comunidade Várzea do Barro viabilizou caminhos e possibilidades para minimizar os efeitos das secas e cheias e suas articulações com as esferas governamentais. Para tanto, busca-se analisar os anos de 1984 a 2000, período em que inicia-se os primeiros sinais que possibilitaram a criação da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Várzea do Barro (ADECOVAB) e a partir dela as discussões sobre política, cidadania, infraestrutura, saúde, questões sociais e diversos outros temas passaram a ser inseridos na pauta das reuniões da referida associação. A partir de setembro de 1995 a entidade passou a representar os moradores na busca por melhorar as condições de vida da população local. (ADECOVAB, 1995).

Estudar a Comunidade Várzea do Barro a partir de 1984 considerando o recorte acima mencionado torna-se relevante tendo em vista que é neste período, de forma mais ativa que se iniciam as primeiras articulações para a formação de “lideranças comunitárias”, que posteriormente contribuíram para a formação da associação local. Os anos seguintes foram marcados por vários acontecimentos que de certa forma mudaram a rotina da maioria de seus moradores. Dentre os eventos destaca-se o primeiro projeto de abastecimento de água (1987) possibilitando uma nova captação. Se antes as famílias só teriam acesso a ela através do carro pipa ou em cacimbas no rio, agora passou a ser para um considerado número de famílias (em torno de doze) através de chafariz. (PROJETO DE CATA-VENTO COMUNITÁRIO, 1986).

Nos anos de 1990, outras conquistas foram importantes contribuindo assim para o fortalecimento comunitário. Dentre os projetos viabilizados destaca-se: a construção de um Centro Comunitário (1994) e o melhoramento no sistema de abastecimento de água, projetos produtivos (pequenos animais) e o acesso ao “Programa Água Boa” do Governo do Estado do RN que proporcionou a instalação de um dessalinizador na comunidade (1998) melhorando o acesso a água potável. Assim sendo, nos primeiros anos de fundação da associação, a comunidade foi beneficiada

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por projetos importantes que proporcionaram melhorias para seus habitantes, o que mostra uma participação ativa dos sócios na busca por recursos públicos.

Desta forma, é fundamental uma problematização acerca desses eventos no sentido de estudar de que maneira tais projetos possibilitaram a superação dos impactos causados pelas secas, bem como o acesso as políticas públicas viabilizando uma certa autonomia da comunidade e consequentemente um distanciamento de práticas assistencialistas que implicavam numa dependência a grupos políticos.

É valido ressaltar que esta articulação que aconteceu na Comunidade Várzea do Barro, no sertão do Seridó, não surgiu de forma isolada, mas de maneira sistemática e com ligações até em nível nacional. Assim sendo é relevante mencionar as pessoas, entidades e organizações que estavam atuando no mesmo período na cidade de Parelhas e região com foco em atividades voltadas para o campo, sobretudo nos aspectos da organização comunitária e educacional.

No ano de 1984 se iniciou os primeiros contatos do Programa de Educação Comunitária (PEC)3, na comunidade Várzea do Barro por intermédio do Professor Inácio de Loiola Azevedo4. A atuação do programa na comunidade pode ser visto também de forma estratégica, devido muitos moradores integrarem o quadro de sócios da Cooperativa Agropecuária do Seridó (CAPESA) que por sua vez dava suporte as atividades do Programa de Educação Comunitária (PEC) na cidade. Conforme o próprio Inácio de Loiola afirma,

Depois de me entrosar com o pessoal da cooperativa [CAPESA] e fazer um estudo sobre a mesma, iniciei as visitas pelas comunidades rurais [...] com dez meses de realização de trabalho aqui em Parelhas, 8 comunidades já estão sendo trabalhadas, atingindo diretamente mais de 130 pequenos agricultores associados e não associados da cooperativa. O plano para 84, é de levar o trabalho à 15 comunidades rurais e 5 bairros pobres da cidade onde se encontram um grande número de pessoas também que vivem da agricultura. (AZEVEDO, 1984, p. 1).

3 O PEC tinha atuação na Região do Seridó, mais especificadamente, nas cooperativas ligadas a

produção agrícola e a organização de comunidades. O referido programa estava ligado a OCERN, como também estava interligado com a OCB – Organização das Cooperativas do Brasil. Conforme documento da OCERN o Programa de Educação Comunitária iniciado em 1980, contribuiu para a “organização do povo e para sua libertação”, estando presente inicialmente nos seguintes municípios: Almino Afonso, Parelhas, São João do Sabugi, São José do Mipibú, Macaiba e Grande Natal, com polo de ação em 44 comunidades rurais. O trabalho na prática era de prestar assistência técnica e administrativa as cooperativas associadas ou em vias de se organizar e “representar o cooperativismo de estado junto a OCB”. (Programa de Educação de Base. Natal – RN. Doc. Sem datação. Arquivo CAPESA.

4 Inácio de Loiola Azevedo, Parelhense, era professor da rede estadual de ensino do RN e passou a

atuar também como coordenador do PEC. Ainda contribuiu para a fundação do PT (Partido dos Trabalhadores) na cidade de Parelhas integrando o diretório Municipal.

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A atuação nas comunidades, conforme pode ser observado na narrativa de Inácio de Loiola se dava de forma articulada e tendo como foco os agricultores, atingindo um número significativo de participantes considerando os problemas existentes nas comunidades, bem como, o difícil acesso a tais localidades, principalmente nos primeiros meses do ano por ocasião do período chuvoso no Nordeste. Portanto, as atividades de “educação comunitária” repercutiram positivamente na região.

No processo de organização da comunidade, tornou-se pertinente compreender a participação do professor Inácio de Loiola que teve uma considerada atuação, sobretudo na elaboração de projetos, discussões acerca de temas ligados a política, participação comunitária, formação de grupos e lideranças. Durante suas atividades, o mesmo participou de eventos de formação a nível de Brasil voltadas para os movimentos sociais, bem como sobre o movimento “pro-constituinte”. O que lhe proporcionou mais conhecimento acerca da conjuntura nacional e por sua vez esses conhecimentos eram repassados para as comunidades que ele atuava. (AZEVEDO, 1987).

Acerca da conjuntura nacional, sobretudo a Constituinte, uma grande articulação foi realizada nas comunidades rurais. Uma comunicação escrita (jornalzinho) foi criada para melhor circular as notícias sobre o movimento popular que estava acontecendo a nível local e nacional. Como afirma Inácio de Loiola,

Nove comunidade rurais de Parelhas conhecem o nosso J.C (Jornal Comunitário) e participa da vida do mesmo [...]. A equipe de agentes animadores, formada pelos representantes de cada comunidade ajuda na elaboração [...]. Estamos a menos de 50 dias das eleições que elegerão os constituintes. Por este motivo o tema Constituinte ou Constituição, vem sendo debatido desde o ano passado, nas reuniões comunitárias. Este tema torna-se palpitante ainda, o que nos permite torna-sempre em cada reunião torna-se discutir um pouco. O jornalzinho comunitário tem sido muito importante [...] (AZEVEDO, 1986, p, 2).

O “Jornalzinho”, como foi denominado, era uma espécie de informativo contendo quatro páginas datilografadas com cópias em mimeógrafo. A redação tinha como sede a Cooperativa Agropecuária do Seridó (CAPESA) e seus editores responsáveis eram Pedro José e o próprio Inácio de Loiola. (LOIOLA, 1987).

De acordo com os relatos de Inácio de Loiola, havia um movimento interligado no município de Parelhas, compreendendo em torno de quinze comunidades rurais

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que tinha como foco a organização política e social. O projeto não estava apenas direcionado a agricultores, mas também, a educadores e a classe estudantil. Diversos eventos ocorreram, como mobilizações pela cidade o que acarretou um incômodo para a classe política local, mas em especial a “conscientização” da população rural haja vista que nesse meio residia grande parcela do eleitorado. “Tudo não estava correndo maravilhosamente bem. Pois esta época, os politiqueiros procuram atrapalhar qualquer trabalho que leve o povo a se organizar” [...] (AZEVEDO, 1987, n.p).

Nas atividades de educação, destacou-se ainda na Várzea do Barro o Movimento de Educação de Base (MEB)5. Este por sua vez atuou através da Rádio Rural de Caicó e propagou cursos através de “aulas radiofônicas” direcionadas para comunidades rurais do Seridó. Nos registros do MEB encontra-se referência à comunidade em questão através de relatórios, programas radiofônicos e visitas técnicas. Em geral nos anos de 1980 o MEB desenvolveu importantes cursos sobre associativismo, cooperativismo, educação comunitária, juventude, dentre outros. Na Várzea do Barro o referido movimento incentivou práticas de mutirões e como resultado foi construída uma cisterna comunitária no ano de 1984 com capacidade para 30 mil litros de água. Uma obra importante para a comunidade pois contribuiu para um melhoramento no acesso a água que nos anos de estiagem era transportada através de carros pipas com captação no açude caldeirões de Parelhas.

Deste modo, a narrativa do presente estudo percorreu a atuação de tais movimentos na comunidade, buscando identificar os efeitos deste processo bem como suas articulações em âmbito maior. Neste contexto, uma leitura dos eventos que marcaram a historiografia nacional nas últimas décadas do século XX se fez

5 O referido movimento está inserido numa conjuntura canalizada pela igreja Católica iniciada no Rio

Grande do Norte na década de 1960. Considerando o período em que fora gestado, o MEB constituiu-se numa ferramenta audaciosa tanto na questão educacional, como na modalidade de formação para agentes comunitários. Na Região do Seridó, a marca do programa desenvolveu-se a partir das ondas da Rádio Rural de Caicó, fundada em 1963 por intermédio de articulação do Bispo Dom Manoel Tavares, seguindo o exemplo bem sucedido da emissora de Natal, também pertencente a Igreja Católica. As emissoras integrantes deste projeto já tinha na sua tipografia “Emissora de Educação Rural” e como o próprio nome já menciona, havia um interesse de atender com maior enfoque o “homem do campo”. Na zona Rural de Parelhas diversas ações foram realizadas pelo MEB nas comunidades Rurais. Em vários relatórios foi mencionada a comunidade Várzea do Barro. Como referência utilizaremos o relatório de um encontro de avaliação semestral do ano de 1986, realizado na cidade de Caicó – RN, no mês de junho. No referido documento são mencionadas as seguintes comunidades do município de Parelhas: Olho D’água do Boi; Boa Vista dos Lucianos; Mulungú, Quintos e Várzea do Barro.

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necessário. Visto que as discussões proporcionadas pelo Programa de Educação de Base inseriam a problemática nacional, como por exemplo, a questão política e social, quando discorriam sobre a desigualdade brasileira, bem como acerca dos eventos ligados a formulação da Constituição de 1988. Neste cenário destaca-se os fóruns “pro-constituinte” com participação de lideranças da cidade de Parelhas.

Nos anos de 1980, uma série de acontecimentos repercutiram nos meios sociais. O país iniciava o processo de transição para a redemocratização, ou seja estava chegando ao fim da Ditadura Militar, depois de 25 anos. Além das mobilizações políticas em torno das eleições de 1989 para Presidente da República. Tais temáticas também foram pautadas em reuniões e encontros promovidos nas comunidades rurais, sobretudo através do Programa de Educação Comunitária (PEC) e MEB com campanhas educativas acerca da importância do voto.

O surgimento desta nova pauta por parte dos movimentos sociais estão inseridas numa perspectiva mais ampla. Para Ilse Scherer Warren (2009) as mudanças significativas ocorreram na trajetória dos movimentos sociais na América Latina, dentre os quais a autora destaca que nos anos de 1980 os estudos apontavam para o surgimento de “uma nova cultura política popular e de base” fundamentada sobretudo na defesa de direitos básicos, com ênfase nos menos favorecidos. Neste sentido, “a religião e o lazer dos pobres passam a ser vistos como lutas táticas contra as injustiças das oligarquias tradicionais e do capitalismo moderno”. (SCHERER-WARREN, 2009, p. 17).

Nos anos 1980 uma nova modalidade de movimento ganhou força, fundamentados na perspectiva da busca por “justiça social”, tendo por centro a pessoa humana. Deste modo, houve uma investida no discurso “pacífico” em busca da formação de grupos para superação da desigualdade social, em especial as pessoas que enfrentam problemas com acesso a educação, a saúde, bem como a alimentação. Discussão que se aproxima das narrativas inseridas através do PEC e do MEB no município de Parelhas e consequentemente na Várzea do Barro.

Assim sendo, os movimentos sociais passam a incorporar novas características, novas práticas de ação, dentre as quais é valido ressaltar “o compromisso a descentralização e autonomia, a tolerância pluralista fundada na diversidade cultural e humana, paz, justiça social e respeito a natureza” (SCHERER -WARREN, 2009, p. 24). O olhar da autora remete a participação mais ativa do cidadão

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nas decisões políticas através de manifestações em tribunas populares, audiências públicas, e com uma característica mais discursiva.

No tocante a Igreja Católica também surgiu mudanças consideradas numa perspectiva de colocar a vida humana no centro das atenções, em especial as pessoas que estavam em situações de risco social. Para tanto, a corrente da “Teologia da Libertação”6 foi fundamental para difundir as reflexões voltadas para o social, sobretudo inserindo a temáticas voltadas para engajamento político das pessoas.

Tomando por base os discursos introduzidos pela Teologia da Libertação no Brasil, foi possível associar esta corrente teológica as atividades desenvolvidas pelo grupo de jovens da Comunidade Várzea do Barro. As atividades praticadas pela comunidade deixaram “rastros” de uma adesão a tal corrente, sobretudo nas práticas de mutirões, discussões sobre a realidade brasileira. Ainda sobre esta abordagem o primeiro congresso de jovens rurais de Parelhas abordou como tema: “Jovens Rurais em Busca da Libertação” e como subtema: “política, sindicato, reforma agrária e religiosidade popular”, ou seja, um tema comum as práticas da Teologia da Libertação.

Por conseguinte, os jovens rurais contribuíram imensamente para uma articulação das comunidades contribuindo assim com as ações dos programas desenvolvidos na zona rural de Parelhas. Com auxílio do MEB, PEC, Diocese de Caicó e Paróquia de São Sebastião de Parelhas as ações dos grupos proporcionaram a criação de uma Equipe Missionária de Jovens Rurais objetivando acompanhar e monitorar as atividades. Desta articulação foi idealizado o congresso com a participação das comunidade. É valido ressaltar que o grupo de jovens da Comunidade Várzea do Barro, integrava a equipe missionária como também integrou a coordenação do I Congresso de Jovens Rurais que teve a participação de 11 grupos de jovens parelhenses, além de contar com a participação de entidades como o MEB, representantes dos Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade de Parelhas e Caicó, além de lideranças comunitárias da região do Seridó.

Ao analisar os arquivos do MEB percebe-se a influência da Diocese através de seus “instrumentos sociais” na orientação as comunidades rurais. E desta forma,

6 A Teologia da Libertação tem sua fundamentação no concílio Vaticano II. A igreja, numa perspectiva

de acompanhar ou até de dar uma resposta as transformações que vinham ocorrendo na América Latina, convoca o Concílio através do Papa Paulo VI. Após o Concílio Vaticano II, a Igreja buscou nos métodos de ação, principalmente na “sua política na América Latina. Até então ela estava voltada para a sociedade política, exercendo influência junto ao Estado por meio de partidos democratas cristãos e movimentos sociais como a Ação Católica”. (GOHN, 2007. p. 34).

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se verifica ainda a continuidade deste acompanhamento. Mesmo com o encerramento das atividades do MEB em 1992, as comunidades ainda continuaram recebendo visitas sistemáticas e acompanhamentos. O Departamento Diocesano de Ação Social (DDAS) deu continuidade aos trabalhos de assessoramento nas comunidades rurais do Seridó, mobilizando-as na perspectiva de formar núcleos e assim melhorar as condições de vida da população e proporcionar uma discussão acerca dos direitos e deveres de cada comunidade. A referida entidade proporcionou a distribuição de produtos alimentícios através de convênio com a MISERIOR7 na Comunidade Várzea do Barro beneficiando cerca de 35 famílias8.

Na construção desta narrativa acerca da comunidade é importante analisar a documentação produzida por tais entidades e movimentos que atuaram nela e que de certa forma proporcionaram uma nova dinâmica no cotidiano das pessoas, bem como na sua forma de agir e dialogar com os poderes públicos. Nesse sentido, os arquivos do MEB9 passou a ser uma fonte relevante para compreender as articulações produzidas na região do Seridó na perspectiva da “organização de Base” e o foco de formar lideranças a partir de um olhar da igreja. Encontramos no referido arquivo correspondências elaboradas por técnicos, supervisores e alunos, além de relatórios. Na mesma proporção, os arquivos da Cooperativa Agropecuária do Seridó (CAPESA) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Parelhas foram importantes para entender a sintonia destes com as associações comunitárias rurais.

Por conseguinte, outra importante fonte documental são os registros da ADECOVAB, fundada em 1995, que nos permitiu problematizar os caminhos percorridos desta organização, bem como atividades que ocorreram no espaço desse sertão semiárido. São livros de atas, registros de presenças, ofícios, correspondências e diversos outros registros que se encontram engavetados e amontoados a espera de um olhar que possibilite que as “gavetas sejam abertas” e possam apresentar leituras de um tempo não tão distante. Afinal, estamos mencionando o período das duas

7 MISEREOR é a Obra episcopal da Igreja Católica da Alemanha para a cooperação ao

desenvolvimento. Desde há mais de 50 anos, MISEREOR está comprometida com a luta contra a pobreza na África, Ásia e América Latina. A ajuda de MISEREOR dirige-se a todas as pessoas que sofrem necessidade – independentemente da sua religião, raça, cor ou sexo. Fonte: <https://www.misereor.org/pt/>. Acesso em: 23 de abr., 2018.

8 Recibos do DDAS atesando a entrega de cestas básicas na comunidade Várzea do Barro, 1992 9 Sob a custódia do LABORDOC – Laboratório de Documentação História do CERES – UFRN. Funda

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últimas décadas do século XX. Acerca dos arquivos e documentos citados torna-se pertinente a leitura de Reis (2004) mencionado o olhar do historiador,

A partir da posição do problema, o historiador distribui as suas fontes, atribui-lhes sentido e organiza as séries de dados que ele terá construído. O texto histórico é resultado de uma explícita e total construção teórica e não o resultado de uma narração objetivista de um processo exterior organizado em si pelo final”. A organização da pesquisa é feita pelo problema que suscitou; este vai guiar na seleção dos documentos, na seleção e construção das séries de eventos relevantes para a construção de hipóteses. (REIS, 2004, p. 25).

Deste modo, busca-se a partir da documentação disponível compreender os fatos históricos ocorridos na Comunidade Várzea do Barro, relacionando-os com as lutas e articulações dos indivíduos que com sua criatividade proporcionaram novos caminhos para a organização comunitária. Nesta perspectiva, foi fundamental observamos as narrativas construídas nos documentos fundamentadas em diversos anseios e metodologias. Desta forma, aproximamos das narrativas de Michel de Certeau quando problematiza o lugar do historiador. Para o mesmo,

Encarar a história como uma operação será tentar, de maneira necessariamente limitada, compreendê-la como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão, etc.), procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da "realidade" da qual trata, e que essa realidade pode ser apropriada ‘enquanto atividade humana’, ‘enquanto prática’. (CERTEAU, 1982, p. 56)

Portanto, problematizar um objeto, no caso específico os movimentos sociais ocorridos em uma comunidade rural, também é compreender que este atende a uma realidade do seu tempo. E cabe ao historiador a partir de uma perspectiva compreender este espaço, suas limitações e tecer suas narrativas e críticas.

Assim sendo, o presente estudo foi subdivido em três capítulos com as seguintes narrativas: O primeiro capítulo intitulado “Comunidade Várzea do Barro no caminho para cidadania a partir da educação comunitária na década de 1980”, apresenta uma discussão acerca das articulações que ocorreram na comunidade direcionadas para a formação de grupos, bem como suas relações com os movimentos sociais presentes na região do Seridó. O segundo capítulo: “As frentes de trabalho e a organização popular”, busca dialogar sobre os impactos das secas na Comunidade Várzea do Barro no início da década de 1990, sobretudo em 1993, como também discutir as ações que foram realizadas na referida comunidade a partir dos mutirões proporcionados pelas “emergências”. Já o terceiro capítulo “Associação

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Comunitária e as políticas públicas”, apresentará as articulações que motivaram a constituição da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Várzea do Barro e a busca pela superação das dependências políticas, em especial a “indústria da seca”. Por conseguinte, o presente estudo torna-se importante devido à escassez de pesquisa voltadas para tal temática e desta forma, pretendemos contribuir para publicação de novas abordagens e assim despertar o interesse no universo acadêmico sobre novos estudos que compreenda a questão social na complexa região do Seridó Potiguar.

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2 COMUNIDADE VÁRZEA DO BARRO NO CAMINHO PARA CIDADANIA A PARTIR DA EDUCAÇÂO COMUNITÁRIA NA DÉCADA DE 1980

Pra ser feliz Tem que lutar Tem que se unir

Pra conquistar [...] Agora surge uma esperança

De construir uma mudança De começar participar Das decisões desse lugar

(Canção composta por Inácio de Loiola Azevedo).

O processo de organização das comunidade rurais do município de Parelhas aconteceu de forma diversa, cada localidade com suas particularidades, mas predominava um fio condutor que interligava as mesmas proporcionado discussões semelhantes, sobretudo quando se trata da formação de grupos comunitários que visam a organização no sentido da resolução de seus problemas.

Neste contexto, passamos a problematizar a comunidade rural da Várzea do Barro, localizada no sertão do Seridó Potiguar, às margens do Rio Quintos e da Serra das Queimadas e interligada pelo Planalto da Borborema. A imagem aérea abaixo (Figura 01) apresenta um recorte espacial da comunidade, com algumas residências e seus espaços públicos (Capela, centro comunitário, dessalinizador e quadra de eventos).

Figura 01: Comunidade Várzea do Barro

Fonte: Arquivo pessoal de Marcones Filho, (2018).

Ao longo do tempo, a comunidade enfrentou problemas com os efeitos da seca, como também nos períodos de inverno (período que compreende os meses de

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chuvas, geralmente de janeiro a maio), em decorrência das grandes cheias do rio. Mas, foi sobretudo nos períodos de estiagem que a população local buscou viabilizar alternativas para minimizar os impactos causados pelas secas. Para tanto, as cacimbas no rio passaram a ser estratégicas para os moradores objetivando a captação de água. Conforme explica Medeiros essas alternativas tornavam-se prática comum no semiárido brasileiro, “abrindo a areia até chegar ao lençol freático. Construindo as cacimbas eles encontravam a água do gasto de casa e para garantir a semente de gado”. (2007, p. 52).

Neste capítulo, busca-se compreender como a comunidade iniciou o processo de organização ainda na década de 1980 formando um movimento que culminou na criação da associação comunitária no ano de 1995. Neste percurso, verifica-se as narrativas construídas pela população local, bem como pelas instituições que atuaram no seu território. Sobre tais entidades destaca-se o MEB, PEC e a Igreja Católica com suas instituições direcionadas para a ação social da Diocese de Caicó como: Departamento Diocesano de Ação Social (DDAS), Caritas e o Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitário (SEAPAC). A comunidade tinha nas décadas de 1980 e 1990 dois momentos marcantes, como apresenta o poeta José Florentino de Oliveira,

No mês de maio se reza A santa virgem Maria São trinta e uma novenas Sem falhar nem um só dia Se canta a ladainha Com a maior maestria [...]

Em junho se festeja

Santo Antônio, São Pedro e São João Todos santos populares

Que o povo tem devoção Quem não festeja estes santos

Não é feliz no sertão. (OLIVEIRA, S/D)

As novenas e confraternizações mencionadas nas rimas do poeta estão integradas com o processo de organização, visto que através das atividades sejam religiosas ou sociais, as pessoas se encontravam e consequentemente dialogavam sobre aspectos do cotidiano. O roteiro dos encontros também abria possibilidades para um diálogo sobre a realidade da comunidade, sobretudo, a partir de uma reflexão bíblica. Após a “leitura dos evangelhos” o animador motivava a assembleia confrontando a leitura bíblica com a realidade vivida.

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Na maioria das vezes, os encontros eram coordenados pelos “animadores de comunidades”, no caso da Várzea do Barro, tinha como animador José Florentino de Oliveira, conhecido popularmente por Juca. Os animadores recebiam orientações mensalmente na Paróquia para acompanhar tais atividades locais, já que o número de clérigos disponíveis na diocese não era suficiente para atender todas as demandas rurais e assim a figura do leigo seria fundamental nesse processo de “evangelização.”

A participação em eventos religiosos também contribuiu para uma articulação da comunidade Várzea do Barro a nível de região do Seridó e, consequentemente proporcionou conhecimentos que foram importantes para a formação da associação. Neste sentido, os registros encontrados nos arquivos pesquisados mencionam a referida comunidade atuando no processo de organização comunitária. Dentre os registros, foram bastante importante para a pesquisa os relatos do MEB e PEC. O MEB desenvolveu importantes ações para a formação de entidades, como os sindicatos de trabalhadores rurais, grupos de jovens, clubes de mães além de orientações através dos programas radiofônicos com temas diversificados com foco na área rural. (MEDEIROS, 2008).

Ressalta-se ainda que o MEB a partir da segunda metade da década de 1980 direcionou seu foco para assessorar as comunidades, saindo da alfabetização, passando a priorizar a formação de grupos inserindo temáticas sobre a conjuntura nacional e local. Aspecto que também foi adotado pelo Sistema/Caicó e nesse sentido, como forma de melhor atender as comunidades foram realizados encontros de caráter formativo a nível de Seridó com foco na articulação das Bases. O encontro aconteceu no mês de junho de 1986 e dentre seus objetivos destacou-se: “refletir sobre o papel das lideranças no trabalho de base, frente a conjuntura atual”. No referido evento a comunidade Várzea do Barro foi representada por duas pessoas, que por sua vez elencaram algumas atividades que foram trabalhadas na comunidade:

Tem sido realizadas reuniões comunitárias para avaliar a caminhada comunitária; reuniões de grupos de jovens; participação nas reuniões do Sindicato de Trabalhadores Rurais; Celebrações dominicais; novenário de maio; projeto de hortas comunitárias executadas pelos jovens; reuniões do PEC [...] (MEB, 1986, p. 2)

Percebe-se uma atuação intensa da comunidade dialogando com várias temáticas, mas sobretudo a participação em grupos, características bastante trabalhadas pelos movimentos sociais. Tais atuações de forma mais ampla

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impulsionaram mobilizações em busca de um país democrático, sobretudo com participação popular. Sobre esta atuação política, Farias (2010) discorre que:

O discurso central do MEB, portanto, tomava o “povo” como ponto de partida para a transformação social e de certa forma a modificação política do Brasil. A força da luta por uma vida mais humana e obviamente justa só seria possível através da participação popular, criticando dessa forma toda e qualquer prática paternalista. Dessa forma, o MEB juntamente com outros movimentos, mais particularmente juntamente com o método de educação utilizado por Paulo Freire fez com que a Igreja desenvolvesse um novo tipo de trabalho junto aos segmentos populares. (FARIAS, 2013, p. 4).

Na comunidade Várzea do Barro, tais temáticas tornaram-se presentes, sobretudo nos encontros de jovens. Neste sentido, a formação envolvendo tal público tornou-se mais um elemento importante que compõe a “trama” da comunidade10. O grupo de jovens denominado de Juventude Eclesial Rural (JUER) passou a animar as atividades religiosas e recreativas. As “pegadas” deixadas pelos jovens vão além do espaço local e adentra outros lugares. Neste contexto, a formação de jovens na cidade de Parelhas, sobretudo no tocante a juventude rural estava caminhando a passos largos, com o acompanhamento da equipe de juventude rural da Paróquia de São Sebastião. Fruto desta articulação, em setembro de 1985 aconteceu o primeiro congresso de Jovens Rurais, realizado no Povoado Santo Antônio no dia 15 de setembro de 198511. Evento que passou a integrar o calendário anual das comunidades rurais de Parelhas12.

O primeiro congresso de jovens rurais registrou uma expressiva participação de jovens da maioria das comunidade de Parelhas, além de lideranças da região como o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caicó, professores, Inácio de Loiola Azevedo representando o PEC, o Bispo diocesano de Caicó, dentre outras liderança. O evento teve como tema: “Jovens rurais em busca de libertação” e como subtema: “Política, sindicato, reforma agrária e religiosidade popular”. O próprio tema é bem sugestivo e a princípio está alinhado com as discussões da “Teologia da Libertação” e as Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), como podemos observar nos objetivos propostos:

10 Informações contidas na agenda pessoal de Inácio de Loiola. Arquivo da CAPESA, 1985

11 Cf. Relatório descritivo. 1º Congresso de Jovens Rurais. Parelhas, 1985. (Arquivo particular de

Helena Meira).

12 Os congressos de jovens rurais aconteceram de forma ininterrupta até de 1985 à 1998. (Livro de atas

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Levantar os grupos de jovens rurais desta região, a um conhecimento maior da realidade vivida pelos trabalhadores rurais, e um engajamento maior na luta pela libertação; fortalecer a caminhada dos grupos de jovens rurais através do companheirismo e amizade entre sí, celebrar a caminhada, as lutas, as alegrias e os sofrimentos dos jovens rurais, como um processo de libertação e compromisso com Deus na pessoa do irmão (Relatório do I Congresso de Jovens Rurais, 1985, p. 1)

Na descrição do relatório acima mencionado é possível perceber a mobilização que estava acontecendo nas comunidades rurais de Parelhas. Através de uma comissão denominada de “Equipe Missionária de Jovens Rurais” os grupos eram acompanhados e incentivados a colocar em suas pautas as questões políticas nacionais. Conforme o conteúdo descrito, para proporcionar uma maior participação no 1° Congresso de Jovens Rurais,

A equipe Missionária de Jovens Rurais visitou todos os grupos com o objetivo de preparar conjuntamente as atividades que seriam realizadas. [...] a equipe questionava com o grupo, o surgimento do mesmo, o que discutiam, o seu funcionamento interno e suas posições diante da sociedade em que vivemos. (idem)

As atividades com a juventude no ano de 1985 no município de Parelhas foram importantes visto que a partir destas, foi iniciada uma articulação com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar composta por professores, religiosos e voluntários discutindo temáticas sobre política, meio ambiente, religião, dentre outras. Assim, a participação ativa das comunidades sobretudo de jovens, inseriu no município de Parelhas novas problemáticas construindo uma teia de ideias favorecendo um debate acerca das lutas e angústias dos jovens do campo e de certa forma uma possibilidade para confrontar suas vidas com outros conceitos em discussão no país e até mesmo num contexto internacional.

Não há como pensar tais mobilizações sem inserir a conjuntura nacional. Foi no cenário dos anos de 1980 que os movimentos sociais passam a incorporar novas características, novas práticas de ação, dentre as quais é valido ressaltar “o compromisso a descentralização e autonomia, a tolerância pluralista fundada na diversidade cultural e humana, paz, justiça social e respeito a natureza”. (SCHERER -WARREN, 2009, p. 24).

Ainda de acordo com o autor citado acima, ele enfatiza a participação mais ativa do cidadão nas decisões políticas através de manifestações em tribunas

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populares, audiências públicas, e com uma característica mais discursiva, pacífica e com enfoque no coletivo. Tal narrativa aproxima-se das atividades desenvolvidas na Região do Seridó, em especial nas comunidades rurais, visto que os grupos atuantes nessas localidades estavam interagindo com a problemática do desemprego, acesso a água, melhores condições de vida, reforma agrária e mobilizações pro-constituinte. Ou seja, as discussões não se situavam apenas na questão religiosa e nem local, mas havia uma preocupação de buscar alternativas para os problemas identificados.

No relatório do MEB, algumas informações para o segundo semestre do ano de 1986 foi enfocado como prioridades dos moradores da Comunidade Várzea do Barro, dentre as quais:

Criação de um centro comunitário, celebrar o mês do rosário (outubro), visita e reunião com a equipe missionaria de jovens rurais, dia de estudo para fortalecer a caminhada da comunidade, reuniões comunitárias mais frequentes, comemorações das festas juninas, aniversário do grupo de jovens, participação no congresso de jovens rurais, natal em família e novena de São Sebastião, continuar as celebrações comunitárias (MEB, 1986, p. 4)

Em meio às atividades de cunho religioso foram expostos algumas demandas sociais por parte dos comunitários, como por exemplo, a construção de um centro comunitário, o que demostra uma demanda importante para convergir os eventos, reuniões, além das confraternizações realizadas na comunidade13. No tocante as atividades religiosas é importante lembrar as Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), difundindo uma “nova proposta” de evangelização com fundamento no Concílio Vaticano II.

As CEB’s partiam da reflexão acerca dos problemas sociais, sobretudo, mostrando que as desigualdades entre as pessoas poderiam ser superadas mediante uma conscientização política e tendo como base as narrações bíblicas presente nos evangelhos. Como metodologia para dialogar com os problemas sociais, praticava uma “leitura popular da bíblia”. Os textos bíblicos eram confrontados com a realidade local e deste enfoque as pessoas passavam a dialogar sobre seus problemas e desafios. Integravam o público das CEB’s “donas de casa, operários, subempregados, jovens e empregados dos setores de serviços, na periferia urbana; zona rural [....]”. (BETTO, 1984, p. 7)

13 A discussão sobre o Centro Comunitário também foi identificada por Inácio de Loiola, através de

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Sobre a atuação das CEB’s em Parelhas a agricultora Lídia Ângela de Medeiros Nascimento descreve que tal movimento que surge na década de 1980 em Parelhas influenciou diretamente a formação dos movimentos sociais, segundo a mesma,

Muitas lideranças que hoje representam associações, sindicatos e cooperativas foram formadas nas CEB’s, a luz da palavra de Deus, que faz despertar a coragem e a esperança de lutar por seus direitos em uma ação coletiva no resgate da dignidade humana luta firmada na fé vivida na comunidade e na história dos pobres, as comunidades organizadas conquistam espaços na participação, nas políticas públicas, adquirindo conhecimento dos programas federais [...] O evangelho é a força transformadora para as comunidades, luz que clareia a realidade e mostra o mundo a seguir. (NASCIMENTO, 2016, p. 43).

Este depoimento torna-se importante para que possamos entender, dentre outras questões, a interligação dos movimentos que aconteceram na região do Seridó nos anos de 1980 e 1990 e também a influência das CEB’s no processo de formação dessas entidades que posteriormente vão constituir as associações comunitárias.

Outra atividade com linha de formação na comunidade Várzea do Barro, foi a experiência do PEC. Um Programa de cunho educativo pautado na “Educação comunitária e de base” que teve seu auge na região do Seridó, mas sobretudo em Parelhas na década de 1980 e início dos anos de 1990 sob a coordenação do Professor Inácio de Loiola. A partir da documentação analisada pode-se afirmar que este programa foi fundamental para o processo de organização política da Várzea do Barro.

O PEC, por aproximadamente, dez anos atuou na comunidade Várzea do Barro incentivando a cultura local e proporcionando discussões acerca dos acontecimentos nacionais e regionais e ao mesmo tempo dialogando com outras instituições, buscou alternativas para convivência no Semiárido. Neste contexto, inicia-se a participação de Inácio de Loiola nas comunidades rurais, chegando até a provocar atritos com lideranças políticas local. (AZEVEDO, 1993).

O registro iconográfico (Figura 02) abaixo expõe o primeiro encontro realizado na comunidade Várzea do Barro com a participação da vizinha comunidade de Quintos de Baixo, ambas no município de Parelhas, com a presença de Inácio de Loiola.

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Fonte: Arquivo ADECOVAB, (1985).

Como pode ser observado na imagem, um considerado número de pessoas participaram do evento inclusive com a participação de jovens. Chama a atenção também, a presença de instrumentos musicais, como (sanfona e violão), que eram muito utilizados nos encontros para motivar a participação das pessoas. Considerando que, em 1984, o país ainda vivenciava resquícios da Ditadura Militar, um evento de cunho formativo na perspectiva de dialogar sobre os problemas enfrentados nas comunidades, certamente não seria bem visto pela classe política, em especial as que estavam no poder.

Levar um pensamento crítico as comunidades e motivá-las a pensar estratégias para solucionar os problemas de forma coletiva talvez não fosse do agrado dos líderes políticos da região, além da população não está “familiarizada” com esta nova discussão. Contudo, a partir da atuação deste processo de “conscientização política” através da “Educação Comunitária” aconteceram avanços importantes nas comunidades rurais. Conforme explica o agente animador nas comunidades,

Os problemas encontrados em nossa região, não diferem muito dos problemas de outras regiões. [...] moradia, escolas, luz, transporte para estudantes, comida [...] É através de reivindicações e começando a pressionar os órgãos, que o pessoal vem se descobrindo e conseguindo benefícios que antes não estava conseguindo. (AZEVEDO. 1984, p. 1).

O diferencial do agente Inácio de Loiola era a discussão mais enfática sobre política, sobretudo, a luta por melhores condições de vida para as pessoas residentes na zona rural. Mobilizar as pessoas para ter consciência de seu papel no processo

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eleitoral era um dos objetivos de Loiola. O mesmo acreditava na “pressão” e reivindicações aos órgãos governamentais para melhorar a estrutura nessas localidades.

É valido ressaltar ainda que alguns problemas elencados pelos PEC nas comunidades não está ligado a seca, mas sobretudo ao período chuvoso. No ano de 1986 várias comunidades não receberam as visitas do agente Loiola devido as condições climáticas. Conforme relatou o mesmo,

Estamos enfrentando um problema muito natural, onde este ano chega a preocupar um pouco mais. São as enchentes dos rios: Seridó, Olho D’água e Cobra. Estes em apenas dois meses, algumas comunidade já vem ultrapassando o índice alcançado durante todo o ano passado [...] (AZEVEDO, 1986, p, 2)

As informações acima são pertinentes para que possamos pensar nas variações climáticas que ocorrem neste espaço, em especial a Região do Seridó Potiguar. Em alguns momentos, são relatados os impactos da seca com as frentes de trabalho (1987), já neste caso as chuvas ganharam destaque com as grandes cheias dos rios. Assim, a perspectiva do PEC estava direcionada a uma mobilização política e social e não ligada as problemáticas da seca exclusivamente.

Uma das características na narrativa de Inácio de Loiola era a forma de relatar com bastante detalhes suas atividades, bem como os efeitos ocorridos nas comunidades. Neste sentido, um dos relatórios sobre a caminhada do PEC nos chama a atenção por discutir a trajetória de atuação na Região do Seridó, mas sobretudo nas comunidades de Parelhas. O documento foi escrito no ano de 1993 e objetivava expor um resumo das atividades ao longo dos nove anos de atuação na cidade. Loiola registrou que enfrentou dificuldades na execução de suas atividades tendo em vista os embates com lideranças políticas. Algumas das lideranças elencadas integravam o quadro de sócios da CAPESA. Entidade que dava suporte as atividades do PEC na cidade de Parelhas. Sobre este contexto Loiola descreve:

O atraso dos agentes das cooperativas, distante da prática do movimento popular, não dava nenhuma importância ao nosso trabalho, na medida em que começava retornar ou implementar os trabalhos, me deparei com várias dificuldades [...] Os dirigentes dessas cooperativas eram mais fechados, por volta de 1983, tanto a conjuntura atual do país contribuía, com eles não tinham vergonha de fazer abertamente o jogo dos manda chuvas locais ou estadual. (AZEVEDO, 1993, p, 3).

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Tal cenário, abre possibilidades para pensar que no início da década de 1980 os diretores da Cooperativa seguiam uma linha divergente da formação que estava sendo inserida em muitas comunidades rurais. A citação acima, ao fazer uma relação dos diretores com os “manda chuvas locais” insere uma problemática complexa aproximando a cooperativa dos “grupos políticos” da cidade e região. Verificando o banco de dados da referida cooperativa, encontramos registros de sócios com destaque na política, dentre os quais: Arnaud Macedo de Oliveira, (chegou a ocupar o cargo de prefeito de Parelhas) e Dario Pereira de Macedo, Senador da República no período de 1991 à 199514 além de outros considerados grandes e médios proprietários. Desta forma, percebe-se que os “grandes” agropecuaristas detinham o poder na cooperativa.

Neste caso, uma tentativa de inserir um discurso participativo e contribuir para maior inclusão dos “pequenos agricultores”, a princípio, não seria bem visto pelas lideranças políticas, em especial os dirigentes da CAPESA. Para tanto, foram desenvolvidas algumas estratégias para dialogar com a comunidade, conforme registra Loiola,

A projeção de slides nas reuniões comunitárias, deram bons resultados. Por ser para muitos uma novidade, o slide quebrou um pouco a monotonia das reuniões e como forma de enriquecimento, levou comunidades a conhecerem as formas de organização de lutas em outros lugares (AZEVEDO, 1987. p. 1).

As atividades também passaram a serem influenciadas pela conjuntura política do período, sobretudo, a luta para inserção de lideranças das comunidades na política, a fim de representar seus interesses e consequentemente possibilitar novos caminhos para as comunidades. Nesta perspectiva,

Várias comunidades conseguiram muitos benefícios [...] foi percebido também que a participação na vida política do município se fazia necessária, para viabilizar alguns projetos dessas comunidades. Várias lideranças se candidataram chegaram até que os partidos tradicionais não mereciam a confiança do movimento, pois estavam longe da luta, a prática do que se propunha. Teve um racha no movimento, que até hoje não [foi] possível contornar [...] até certo ponto teve radicalismo nas discussões [...] parte do grupo não se conformava com o racha, com o ocorrido, a ponto de não se ter uma boa relação entre os próprios moradores [...] na verdade muitas

lideranças foram cooptadas por promessas de emprego e outras vantagens.

Claro, a relação hoje não é a mesma. Teve-se um amadurecimento, houve um recuo que chamamos de empolgação. (grifos nosso) (PEC, 1993, p. 2)

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Percebe-se que a atuação do PEC desenvolvida por seu coordenador na cidade de Parelhas, mais precisamente nas comunidades rurais construíram relações que vão além das prerrogativas do programa “Educação comunitária” despertada pelo PEC. O crescimento do “movimento rural” provocou interesses por parte de políticos locais. A mobilização nas comunidades chegou às ruas da cidade a partir da “Festa do Agricultor”, movimentos estudantis organizados por jovens rurais, além do apoio da Paróquia Local. Conforme descreve Inácio de Loiola a Igreja, “que no ano passado não apoiava a Reforma Agrária [...] este ano sua voz tem sido muitas vezes até de esclarecimento, que vai beneficiar o pequeno na sua luta”. Deste modo, verifica-se o crescimento da organização de base. (AZEVEDO, 1986, p. 2).

Inserindo a Várzea do Barro neste contexto, encontram-se registros em relatórios expondo avanços que possibilitaram a comunidade a dar novos passos para a organização. “A participação em projetos, vem fazendo essa comunidade se reunir cada vez mais [...] o grupo de jovens é o responsável pela animação e organização da comunidade”. Deste modo, percebe-se uma atuação direta da juventude dialogando na perspectiva de um movimento buscando estratégias para fortalecer as atividades no campo. Com isso, as parcerias com o PEC, com o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER – RN) e MEB foram importantes. A atividade pode ser inserida na perspectiva de melhorar a renda das famílias na comunidade. O registro iconográfico abaixo (Figura 03) apresenta o grupo de jovens no projeto de hortas comunitárias.

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Fonte: Arquivo ADECOVAB, (1986).

É importante destacar a participação de mulheres na atividade, colaborando com o trabalho de mutirão. Iniciativas como estas também foram registradas na região do Seridó. Conforme descreve Medeiros (2007, p. 68) “foi nos anos de 1980 que o MEB, [...] inicia a elaboração e execução de projetos comunitários na região de maneira mais incisiva”. Além das atividades ligadas à agricultura, os jovens acompanhavam os eventos da comunidade, celebrações, novenas além de atividades culturais como gincanas e festividades juninas15.

O processo de organização comunitária nas comunidades rurais no final da década de 1980, especialmente em Parelhas, na visão do PEC foi importante por ter contribuído para uma “conscientização” política da população. A participação de agentes comunitários nas eleições de 1988 despertou a possibilidade da eleição de um representante da categoria para o poder legislativo municipal. No período eleitoral aconteceram mobilizações em diversas comunidades, enfatizado aspectos da política tradicional como o “assistencialismo” e “compra de voto. Conforme avaliou Inácio de Loiola (1989, p. 3), três candidatos acompanhados pelo PEC saíram candidatos nas eleições para vereador em 1988, porém, “foram bem votados, mas não conseguiram os votos suficientes para se elegerem [...] o fato de ter participado por dentro da campanha, nos deu muita experiência”. Mesmo não tendo obtido êxito no processo eleitoral, Loiola considera o processo eleitoral positivo uma vez que a população ficou mais “consciente”. Segundo o mesmo,

Os chefes políticos que antes faziam campanhas quase só com conversa, agora tiveram que gastar um pouco mais de dinheiro, para conseguir com

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muito esforço, o que antes parecia brincar de eleições. Não quero com isso dizer que vender voto, pode se considerar que melhorou a consciência desse povo. Mas antes não era nem preciso vender. Já existe um bom número de eleitores bastantes conscientes e aos poucos vão conseguindo, através de empenho, da sua dedicação, converter através do esclarecimento a importância do voto. Não fosse as ameaças, uma prefeitura nas mãos e a força do dinheiro, o nosso município tivesse hoje uma história diferente para contar (AZEVEDO, 1989, p. 3).

Nos registros expostos através do PEC é possível verificar forças políticas atuando no processo eleitoral parelhense objetivando a permanência no poder. Tais grupos buscaram desqualificar o trabalho desenvolvido nas comunidades rurais. Nos relatos de Loiola ainda é possível perceber a atuação da máquina administrativa da prefeitura atuando para conquistar o eleitorado. Conforme o mesmo descreve,

Sentimos que só através do jogo sujo é que conseguiram penetração nas comunidades rurais mais organizadas. Reconhecemos que nem todos estão conscientes. Na hora de votar, às vezes por ser candidato da família, deixam de escolher um melhor e mais comprometido com a luta que se propõe. (AZEVEDO, 1989, p. 3).

Diante do resultado da eleição, não favorável ao movimento popular atuante nas comunidade de Parelhas, o trabalho de formação não parou. Conforme os livros de registros do PEC, uma série de encontros denominados de “Cursos de formação para lideranças”, financiado pela Organização das Cooperativas do Rio Grande do Norte (OCERN), foram realizados com os agentes de comunidades e professores tendo como acesso Inácio de Loiola. Participaram representando a comunidade Várzea do Barro José Florentino da Silva e Sebastião Antônio da Silva, ambos integrantes do grupo de jovens da referida comunidade. Ainda sobre esse processo formativo Loiola considera que o trabalho gerou bons frutos apesar das dificuldades. De acordo com o mesmo,

O impacto causado com o nosso ainda pequeno trabalho, nos dar o prazer de continuar acreditando. Claro que também temos as decepções. Num município como Parelhas, numa região como o Nordeste, é natural a dificuldade do pessoal aceitar o movimento popular como uma forma de caminho para busca da cidadania. Preferem o caminho mais cômodo, que é o assistencialismo e outras práticas já conhecidas. (PEC, 1993, p.1)

Desta forma, as atividades do PEC desenvolvidas pelo agente Inácio de Loiola e os demais movimentos que atuaram nas comunidades rurais, sobretudo na comunidade Várzea do Barro foi de grande valia para proporcionar a criação dos grupos existentes na comunidade. Tais atividades superaram desafios e abriram

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caminhos para a criação da associação comunitária em 1995. Portanto, conforme a narrativa da música citada na epígrafe, a atuação deste movimento, presente não só na Várzea do Barro, mas em várias cidades da Região do Seridó despertou nas pessoas a necessidade de participarem das decisões e atuarem como agente políticos.

Na década de 1990, as problemáticas vivenciadas pela Comunidade Várzea do Barro, eram várias, destacando-se as “frente de trabalho”, também chamada de emergências. As frentes eram viabilizadas através de recursos do Banco Mundial e contavam com a participação de novas entidades com atividades ligadas aos movimentos sociais, buscando projetos que possibilitassem melhorias para a “vida em comunidade”.

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3 OS CAMINHOS DO ASSOCIATIVISMO NO MUNICÍPIO DE PARELHAS

Pretendo que venha à tona experiências nas quais o seridoense começa a ‘arregaçar’ as mangas, botar a mão na massa e protagonizar as mudanças socioespaciais capazes de romper com um ciclo histórico de pobreza do qual a seca tem sido apontada como vilã. (MEDEIROS, 2008, p. 15).

O processo de formação das organizações comunitárias ocorrido no município de Parelhas, bem como as articulações para o enfrentamento dos efeitos das secas no final da década de 1990, sobretudo, no ano de 1993, despertaram para uma narrativa mais complexa em que as comunidades atuaram para “protagonizar as mudanças”, possibilitando a abertura para novos caminhos. E neste sentido, parafraseando Medeiros (2008, p. 15), as pessoas começaram a “arregaçar as mangas”.

Trata-se de eventos que passaram a ser intensificados nas comunidades rurais com uma narrativa fundamentada na formação de grupos abrindo caminhos para a constituição de “pessoas jurídicas”, ou seja as associações comunitárias. Perante o Código Civil Brasileiro, no Artigo 53 “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. Neste cenário estiveram presentes diversas entidades que ao longo deste capítulo serão mencionadas.

No início da década de 1990, segundo os dados descritos por Inácio de Loiola, o município de Parelhas contava com articulação em 15 comunidades rurais que mantinha ligação com o PEC e foco na organização comunitária objetivando o fortalecimento da CAPESA: Povoado Joazeiro, Povoado Santo Antônio, Boa Vista dos Lucianos, Boa vista dos Negros, Sussuarana I e II, Colonos, Cachoeira, Salgadinho, Maracujá, Timbauba, Quintos de Baixo, Várzea do Barro e Almas, a maioria destas comunidades tinham atividades com grupos de jovens. (AZEVEDO, 1989, p. 3)

Para tal análise, foi de suma importância os relatórios do PEC, produzidos por Inácio de Loiola com informações das atividades realizadas nas comunidades rurais de Parelhas. A partir da análise dos documentos, percebe-se que as articulações tinham como foco uma formação direcionada para a organização popular, bem a discussão política participativa, além do incentivo ao cooperativismo através da CAPESA. A princípio foi pertinente dialogar acerca dos conceitos de “educação popular”. Diante das várias narrativas que envolve a educação popular o Centro de Estudos de Ação Social (CEAS) publicou alguns conceitos e métodos para nortear os

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trabalhos do educador no contexto da Educação Popular. Neste sentido, Dimas Barreira Furtado teceu alguns comentários acerca do trabalho em comunidades rurais. Segundo o mesmo, para um bom desempenho do trabalho educativo faz-se necessário um conhecimento prévio da comunidade, compreende-la, perceber quais suas reivindicações. Para o referido autor,

Ouvir a comunidade significa procurar saber com que ela se preocupa. O que mais a aflige. O que ela espera. O que é mais urgente. É importante compreender que ouvir não é sinônimo de concordar. O educador nem sempre pode concordar com tudo, mas jamais pode deixar de ouvir. E sem se esquecer de qual é o ponto de vista dela, naquele momento. (FURTADO, 1982, p. 54).

A narrativa apontada pelo autor, busca inserir uma proposta de comunicação com os grupos em construção nas comunidades, proporcionando um conhecimento dos problemas existentes e a busca por possíveis soluções, a partir das experiências de cada localidade. A partir deste horizonte, foi possível dialogar com as atividades executadas pelo PEC no município de Parelhas.

O trabalho fomentado pelo PEC e posteriormente por outras instituições que passaram pelas comunidades rurais de Parelhas possibilitaram a inserção de debates acerca de diversas temáticas que giravam entorno da organização comunitária. Nos registros produzidos por Loiola podemos identificar algumas narrativas que corroboram com tal discussão, sobretudo acerca dos períodos eleitorais. No contexto da campanha eleitoral de 1986, Loiola destaca algumas estratégias que foram elaboradas nas comunidades para trabalhar a conjuntura política:

O fato de ser um município bastante ‘cobiçado’ todos os dias a nossa cidade recebia, no período de campanha, visitas de candidatos diferentes que vinha na verdadeira missão de caça aos votos. E as atrações para enganar o povo, era das mais variadas possível, atraindo boa parte do pessoal. O fato de realizarmos reuniões com um número reduzido de participantes não levou os grupos ao desânimo, pois este motivo levou o pessoal a refletir e pensar em propostas que chegassem a tirar proveito da situação. Mesmo sabendo que os candidatos, não todos, mas a maioria levam uma mensagem para ludibriar o povo, sabemos que essa é uma das caraterísticas da ação política, uns grupos acharam que seria importante escutar a mensagem de cada um dos candidatos. Em seguida se fazia visitas às famílias. Entre tantas, estas foram as ações mais significativas dos grupos comunitários, com referência ao movimento político. (AZEVEDO, 1986, p. 4).

As atividades realizadas em determinado espaço não acontecem por um acaso, sempre existe um caminho que se conecta a outras possibilidades. A partir das

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