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Ao mesmo tempo em que verificamos o aumento do peso das mediações múltiplas (tratada por Orozco Gómez e Martín Barbero) nos processos de formação dos jornalistas, podemos afirmar, com base nas observações expostas nesta tese, que tal constatação deve ser observada especialmente na sua condição dialógica com a educação. No final desta pesquisa, percebemos que está exatamente no resultado da conexão entre tais mediações e o ensino a possibilidade de ação em prol da formação de cidadãos (conforme abordado por Freire, vide capítulo 2), a partir do alcance da autonomia na atuação em rede – conceito que desenvolvemos com base nas proposições de Castells, nos capítulos 2 e 4.

Ao concluirmos esta tese, temos uma perspectiva mais otimista do que aquela apresentada como hipótese para este estudo. Pudemos identificar caminhos que sugerem avanços simultâneos para a educação e para a comunicação, em benefício de processos formativos mais amplos e conectados à sociedade contemporânea do que imaginávamos inicialmente, incentivando o desenvolvimento de capital cultural digital nos jornalistas. Chegamos, assim, à proposição sobre a necessidade de aclarar e ampliar as conexões estabelecidas entre a educação e tais mediações, pois justamente neste espaço brota uma grande possibilidade de ação em prol do desenvolvimento humano.

No nosso entender, uma perspectiva como esta reforçaria a importância tanto das questões manifestadas no âmbito do uso dos meios na sala de aula, quanto do desenvolvimento de processos interativos alocados nas redes voltados para a formação – que têm crescido em razão dos avanços, por exemplo, no ensino à distância no Brasil. Consideramos, ainda, que seja possível referendar tal expectativa também levando em conta os dados oficiais apresentados sobre o uso de tecnologias nas escolas e nos domicílios brasileiros, segundo informações expostas no capítulo 4, com identificações de movimentos que apontam para a preponderância da educação sobre a mediação socioeconômica diante das possibilidades de apreensão e uso da internet. Assim, como pode ser detectado em

nossa pesquisa, mesmo que as tecnologias não tenham ainda presença consolidada nas escolas, poderíamos pensar que a formação para apropriar-se das redes não dependeria diretamente de tal necessidade, em razão de os dispositivos já fazerem parte do cotidiano de alunos e professores – num contexto que quase não apresenta mais distinção de perfil entre os estratos socioeconômicos, se observarmos essa questão a partir dos nossos dados.

Tentamos deixar claro que o raciocínio para a construção das ponderações aqui presentes faz sentido a partir das novas condições vivenciadas na contemporaneidade, inclusive no âmbito da produção, no qual há modificação das possibilidades disponíveis ao receptor por meio das redes digitais. Tal contexto traz mudanças imediatas para os mecanismos de inserção dos jornalistas no mercado de trabalho, interferindo diretamente nas práticas da profissão. Com isso, diante de um processo irreversível de precarização do jornalismo, pudemos identificar alguns dos movimentos que formandos e recém-formados têm desenvolvido, em busca de uma possibilidade de emprego formal, a partir de tais mudanças identificadas na sociedade atual, em razão do aumento da presença das tecnologias e da multiplicidade de telas no cotidiano. Neste contexto, nossa proposta é a de olhar para a necessidade de desenvolvimento de um capital cultural digital que permita aos formandos e recém-formados adquirir um nível de autonomia de uso das tecnologias pensado no âmbito das redes.

Os dados oficiais sobre a ampliação da presença das tecnologias nas escolas e no cotidiano dos brasileiros consolidam a perspectiva de continuidade deste panorama, reforçando a necessidade de compreensão dos movimentos realizados pelos atores que dele fazem parte. Isso se deve, especialmente, ao papel que a comunicação conquista na constituição social nos mais diversos aspectos, até mesmo nas decisões políticas.

Com base na explanação da pesquisa captada em campo, pudemos olhar empiricamente para os conceitos apresentados. As informações coletadas a partir da nossa amostra referendaram a necessidade que os jovens atualmente manifestam em relação à conectividade contínua. Com todas essas ponderações, a interpretação dos enunciados dos nossos entrevistados permitiu perceber com mais clareza os meandros envolvidos na relação que formandos e recém-formados em

jornalismo estabelecem com as tecnologias, bem como os movimentos necessários para fazer do uso dessas mídias uma condição de acesso à autonomia. Esta questão tem apresentado cada vez mais relevância para a compreensão dos porquês sobre o redirecionamento das práticas da profissão, em busca de novos modelos e formatos que permitam a subsistência dos jovens profissionais diante das dificuldades enfrentadas para conseguir uma vaga nas empresas de comunicação.

Neste momento de nossa reflexão, ressaltamos novamente a relevância da educação formal que, mesmo nas condições precárias pelas quais tem se manifestado no Brasil, mostrou ter papel preponderante no rompimento das barreiras que tradicionalmente se impõem por meio da mediação socioeconômica nos processos de inserção no mundo do trabalho, conforme pudemos comprovar a partir das declarações captadas com formandos e recém-formados na área do jornalismo.

É neste contexto que a construção do capital cultural digital poderia contribuir para a redução do fosso de desigualdade. Ocorre, porém, que o desenvolvimento desta habilidade envolve condições etéreas. Tal movimento não se encontra em espaço específico algum, mas, ao mesmo tempo, compõe interligações e conexões de processos complexos alocados concomitantemente na educação e, conforme citado, nas mediações múltiplas – representadas pela diversidade cultural, pelo trânsito de conteúdos, pela transdisciplinaridade dos saberes, pelas percepções e sensibilidades que nos rodeiam. Está presente simultaneamente nas telas, no ar, no asfalto, nos muros, na família, no contato com amigos e nos deslocamentos, que adquirem peso de agentes socializadores. Se tais elementos alcançam a capacidade de ser formadores, retomamos as questões apresentadas no início desta tese para ressaltar que ganha força a ideia de que na sociedade contemporânea educação e comunicação são indissociáveis e ininterruptamente presentes no cotidiano, ainda que, muitas vezes, manifestem-se de maneira silenciosa e quase imperceptível nas vidas e, como vimos, nos trajetos de formação dos jornalistas com os quais tivemos contato por meio desta pesquisa.