• Nenhum resultado encontrado

A proposta deste trabalho objetivou o estudo da personagem sob a perspectiva de sua fragmentação e estreita relação com o seu outro - os aparatos tecnológicos, pretendendo evidenciar as consequências dessa interface na caracterização e construção de sua identidade nos contos “Zoom”, “O gravador” e “O quarto selo (Fragmento)” de Rubem Fonseca.

Para tanto, a análise dos contos considerou o princípio dialógico enquanto percepção da alteridade e as relações entre virtual e atual próprias do universo tecnológico. A máquina traz a realidade dos simulacros e como sujeito atuante, na interface com a personagem, possibilita a ela se multiplicar e expandir suas capacidades biológicas.

Desta forma, no estudo dos três contos, observou-se uma gradação em termos de virtualização que parte da potencialização do olho, em “Zoom”, e da voz, em “O gravador”, até a metamorfose completa da personagem em um ser ciborguesco como ocorre com o Exterminador em “O quarto selo”.

Conforme apontamos na análise dos contos, os aparatos tecnológicos ao mesmo tempo em que permitem às personagens a capacidade de expansão, também, aprisiona-as e aniquila com o que é inerente ao ser humano. As personagens, em interface com as máquinas, caracterizam-se, ainda mais, por sua inconstância, fragmentação e submissão aos aparatos tecnológicos que ganham autonomia, suplantando a vida humana.

O estatuto da personagem na narrativa contemporânea ganha uma nova abordagem, uma vez que o “outro”, agora também é a máquina e o discurso narrativo apresenta-se em íntima relação com as linguagens das novas mídias comunicativas como o rádio, a televisão e o cinema.

As personagens, como a própria narrativa, estão em processo de metamorfose, imiscuindo-se com as novas tecnologias. Personagens têm seus corpos expandidos ou aprisionados, num contracampo de diferenças simultâneas. A

narrativa também se transforma, ganhando mais dinamismo, visualidade e sonoridade.

Os contos analisados apontam para as contradições salientadas na relação homem e máquina, prenunciando os ciborgues dos anos 90 e suas consequências na invasão indiscriminada dos aparatos tecnológicos. Por isso, no corpus em estudo, não há uma supervalorização das máquinas, da tecnologia, mas discussões e reflexões que nos obrigam a pensar sobre as fronteiras entre a humanidade e a tecnologia e as conseqüência para a construção da subjetividade e corporeidade do homem, bem como, das personagens que habitam as narrativas contemporâneas.

O escritor tece, em suas narrativas, a relação paradoxal entre a máquina e o homem, entre a possibilidade de expansão e de aprisionamento o que nos permite refletir sobre o futuro dessa relação e consequentemente entender uma das facetas que caracteriza a personagem na narrativa contemporânea.

BIBLIOGRAFIA

Do autor:

FONSECA, Rubem. Contos Reunidos. Schnaiderman, Boris. (org). São Paulo: Companhia Das Letras, 2004.

______. Lucia McCartney: contos. São Paulo: Companhia Das Letras, 1995.

Sobre o autor:

DENSER, Márcia. Fenômenos estéticos & midiáticos do conto urbano brasileiro, 70/90: por uma poética da prosa. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2003.

FIGUEIREDO, Vera Lúcia Follain. Os crimes do texto. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

OTSUKA, Edu Teruki. Marcas da catástrofe, experiência urbana e indústria cultural em Rubem Fonseca, João Gilberto Noll e Chico Buarque. São Paulo: Nankin, 2001.

SANTOS, Nelma Aronia. A arquitextura do estranho na obra de Rubem Fonseca: contos. Dissertação (Mestrado em Literatura e Crítica Literária) – Pontifícia Universidade Católica. São Paulo, 2006.

______. A voz do Ciborgue-narrador no conto O gravador, de Rubem Fonseca. In: Kalíope, São Paulo. v. 2, n. 3, p. 31 – 41, janeiro/junho. 2006.

VIDAL, Ariovaldo José. Roteiro para um narrador: uma leitura dos contos de Rubem Fonseca. Cotia, SP: Ateliê, 2000.

Geral:

BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoievski. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1981.

______. Estética da Criação Verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

______. Questões de Literatura e de Estética: Teoria do Romance. 5ª. ed. São Paulo: Hucitec, 2002.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação.Trad. Maria João da Costa Pereira. Lisboa: Relógio d’Água, 1991.

______. Tela Total: mito-ironias da era do virtual e da imagem. Porto Alegre: Sulina, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentizien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

BOOTH, Wayne. A retórica da ficção. Trad. Maria Teresa H. Guerreiro. Lisboa: Arcádia, 1983.

BOSI, Alfredo. O conto contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 2002.

CANDIDO, Antonio. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2002.

______. A nova narrativa. In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989.

CLARK, Katerina e Holquist. Mikhail Bakhtin. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2004.

GENETTE, Gerard. Discurso da narrativa. Trad. Fernando Cabral Martins. Lisboa: Vega, 1995.

HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia: ensinamento das formas de arte do século XX. Trad. Teresa Louro Perez. Lisboa: Edições 70, 1989.

LÉVY, P. A Máquina Universo: criação, cognição e cultura informática. Porto Alegre: Artmed, 1998.

______. O que é o virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed.34, 1996.

LIMA, R.S. A literatura e a virtualização do texto literário. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada. Rio de Janeiro: Abralic, v. 1, n. 9, p. 191-212, 2006.

MACHADO, Irene A. O romance e a voz: a prosaica dialógica de M. Bakhtin. Rio de Janeiro: Imago Ed., São Paulo: FAPESP, 1995.

MCLUHAN, Marhall. Os meios de comunicação como extensões do homem. Trad. Décio Pignatari. São Paulo: Cultrix, 2003.

MURRAY, Janet H. Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. Trad. Elissa Khoury Daher e Marcelo Fernandez Cuzziol. São Paulo: Unesp, 2003.

PALO, Maria José. A página-palco de “Entrevista”, em Contos Reunidos, de Rubem Fonseca. Cultura Crí - ti – ca. São Paulo: Apropuc, n. 5, 1º semestre de 2007.

POUND, Ezra. ABC da literatura. Trad. de Augusto de Campos. 10ª. ed. São Paulo: Cultrix, 2003.

SANTAELLA, Lucia. Corpo e Comunicação sintonia da cultura. São Paulo: Paulus, 2006.

_______. Culturas e artes do pós-humano. Da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.

_______. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

SIBILIA. Paula. O Homem Pós-Orgânico: Corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Antropologia do ciborgue – as vertigens do pós- humano. Org. Trad. de Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

SÜSSEKIND, Flora. Ficção 80 – dobradiças e vitrines. In:______. Papéis colados. Coleção crítica & arte – 2ª ed. Rio de Janeiro, UFRJ, 2003.

ZUMTHOR, Paul. Introdução à Poesia Oral. Trad. Jerusa Pires Ferreira e outros. São Paulo: Hucitec, 1993.

______. Escritura e Nomadismo. Entrevistas e Ensaios. Trad. Jerusa Pires Ferreira e Sonia Queiroz. São Paulo: Atleliê Editorial, 2005.

______. Performance, recepção e leitura. Trad. Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

Artigos eletrônicos

OLIVEIRA, Maria Rosa Duarte; DANIEL, Juliana; VIEIRA, Marilene; PAIVA, Natascha. Um fantsama invade a narrativa contemporânea de Nelson de Oliveira. In: Revista Fronteiraz. São Paulo, v. 1, n. 1, mar. 2008. Disponível em: <http://www.pucsp.br/revistafronteiraz/territorio_contemporaneo.html> Acesso em: 1 outubro 2008.

PALOMBINI, Carlos. A música concreta revisitada. In:Revista Eletrônica de Musicologia. Departamento de Artes da UFPr. Vol. 4/Junho de 1999. Disponível em http://www.rem.ufpr.br/REMv4/vol4/art-palombini.htm Acesso em: 11 junho 2009.

Documentos relacionados