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Esse trabalho buscou contribuir na formulação de um termo de referência modelo para aquisição de medicamentos, buscando contemplar de forma abrangente aspectos sanitários a serem abordados com vistas a aquisição de itens com a melhor qualidade possível sem prejuízo do custo.

A busca bibliográfica e das normas possibilitou a construção de um modelo lógico de como está estruturado o processo de compras e quais as normas que regem esse processo. Como se trata de medicamentos, esse processo foi enriquecido com as normas sanitárias brasileiras. Ao submeter as propostas ao consenso de especialistas, todo arcabouço foi sendo melhor estruturado e fundamentado com o conhecimento dos profissionais. Essa discussão abordou questões importantes que mereceram destaque.

Um dos tópicos que permeou todas as rodadas de discussão com os especialistas foi sobre os critérios para aceitação/recebimento dos medicamentos. Pode ser uma das questões mais importantes a constar em um TR, pois é nesse tópico que melhor se pode explorar a respeito dos quesitos de qualidade a serem exigidos sobre o medicamento. Houve consenso em quase todas as questões expostas para esse quesito. A única exceção foi a exigência de equipamentos (como paleteiras ou empilhadeiras) em tipo e número suficientes para realização da entrega. Talvez tenha sido considerado excessiva essa exigência por não interferir diretamente na qualidade do medicamento, embora tenha sido sugestão de um dos especialistas.

Foi possível verificar que uma das principais preocupações dos especialistas foi quanto à descrição dos medicamentos, tendo em vista o consenso sobre a etapa do termo de referência mais importante dentro de um processo. Aliado a isso, foi possível verificar também o destaque dado à importância de adquirir itens registrados nos órgãos sanitários e de empresas autorizadas a fornecê-los, uma vez que foram as legislações mais citadas como importantes a serem consideradas.

Uma categoria de medicamentos que mereceu destaque foi a de biológicos, tendo sido citada nas duas primeiras rodadas pelos especialistas. É uma categoria de medicamentos que normalmente tem alto custo e requer cuidados especiais tanto na armazenagem quanto na aceitação. Apresentam a peculiaridade de não apresentarem genéricos, precisam apresentar suas indicações clínicas bem definidas e com comprovações de eficiência e efetividade, além de possuírem uma legislação diferenciada para registro.

Outra questão abordada foi a importância do cadastro de fornecedores. Embora se reconheça a importância de se conhecer os fornecedores dos medicamentos, não é um item que se tenha como exigir em um termo de referência. A exceção é se o programa utilizado para realização de um pregão eletrônico somente permita a participação de licitantes previamente cadastrados. Contudo, essa atribuição depende principalmente da organização do Órgão licitante em desenvolver a ferramenta, a exemplo do que acontece na esfera federal que tem se expandido para todas as esferas do governo.

Nas primeiras rodadas foi muito abordada a questão de a importância do farmacêutico participar ativamente da elaboração do termo de referência para aquisição de medicamento. É inegável que tal profissional pode contribuir de forma fundamental na elaboração desse documento. No entanto, não é possível exigir que se tenha tal comprovação em um termo de referência.

Embora a construção de um termo de referência seja uma conjunção de saberes, tendo em vista a gama de informações necessárias para elaborá-lo, o farmacêutico é um ator primordial para a construção desse documento. É ele quem reúne os saberes técnicos relacionados a medicamento que são tão importantes para a fundamentação dessa etapa de aquisição. Contudo, por não depender apenas de um profissional, uma aquisição bem realizada precisa contar com uma equipe bem estruturada e bem treinada para a obtenção de resultados satisfatórios. As aquisições de medicamentos se diferenciam das compras de outros bens em função da importância social, das especificidades técnico-sanitárias desta categoria de produtos e das peculiaridades do mercado em que estão inseridos.

É cada vez mais desafiador conseguir alinhar o binômio custo – qualidade para aquisição de medicamento dentro de um sistema tão engessado como o encontrado. Sistema esse que, por vezes, considera alguns argumentos técnicos como dispositivos infralegais que julgam comprometer a concorrência do certame. Nesse contexto, o fator preço parece ter um peso mais significativo que o fator qualidade.

Devido ao exposto, é muito importante que esse tema esteja sempre em pauta. Pois, somente uma discussão pautada em argumentos técnicos e bem fundamentados poderá elevar a importância do aspecto qualidade em detrimento do custo. Faz-se mister, portanto, que os profissionais da saúde, em especial o farmacêutico, se atentem para a etapa de aquisição do ciclo da assistência farmacêutico, por vezes tão negligenciada por esses profissionais.

Essa pesquisa pode ter continuidade com a análise dos termos de referência para aquisição de medicamentos de instituições públicas, objetivando identificar oportunidades de

melhorias para as compras desse tipo de material nos órgãos públicos, com a finalidade de buscar o melhor produto ao menor custo.

Limitações do estudo

Optou-se por realizar o consenso usando o método Delfos, pois não precisaria de deslocamento geográfico e seria mais fácil contar com a disponibilidade dos especialistas por forma virtual. No entanto, por considerar a participação dos respondentes anônima, não é permitido uma discussão mais aprofundada sobre os diferentes temas abordados.

Outra limitação foi não ter atribuído pesos a cada item considerado importante a constar no documento em análise. Dessa forma, não foi possível distinguir itens que seriam mandatórios ou os recomendatórios, baseado na opinião dos especialistas.

Não se pode deixar de mencionar que, até o final desta pesquisa, o Modelo Analítico proposto não foi aplicado a nenhum termo de referência disponibilizado, sendo essa uma proposta para seguimento deste estudo.