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Conclusões e recomendações

Este trabalho procurou contextualizar a incorporação das noções de responsabilidade social pelas empresas a partir da consciência dos problemas ambientais no mundo e, nesse sentido, foi possível perceber que, no Brasil, temos uma forte tendência a seguir os caminhos da sustentabilidade. Entretanto, se pensarmos nas questões relacionadas ao consumo, ao fenômeno do individualismo e à falta estratégias de sustentabilidade definidas para gestão das empresas, falta de articulação entre os poderes públicos e privados, podemos afirmar que não haverá, pelo menos nos próximos anos, uma mudança significativa em relação às práticas de sustentabilidade.

Vale lembrar um dos paradoxos do século XX apontado por Morin. A gigantesca produção científica em todas as áreas de conhecimento e da técnica coexiste com a cegueira global para os problemas fundamentais e complexos que impedem o homem de compreender o que está tecido junto, ou seja, aprender a conjugá-los.( MORIN, 2000:45)

Do ponto de vista da sustentabilidade, este paradoxo se confirma, pois são muitos os programas e iniciativas que estão em busca da sustentabilidade, entretanto, existe uma fragmentação e desarticulação entre os atores do processo, ou seja, governos, empresas fornecedoras da construção civil e empresas de desenvolvimento imobiliário, o que coloca obstáculos à religação, e, portanto, não conduz à solidariedade. Isso se deve ao fato de que o ser humano tem um pensamento fragmentado em função do conhecimento, pois até mesmo as ciências

humanas são elas próprias fragmentadas, e o novo saber, por não ter sido religado, não é assimilado nem integrado.

Aspectos como a educação, ou formação de redes de conhecimento, se apresentaram como estratégicos para a cultura da sustentabilidade, e, no geral, isso também foi confirmado nas entrevistas realizadas com os profissionais do setor da construção civil, mas será necessário integrar a multidimensionalidade e a complexidade humana para a educação do futuro.

O homem é, portanto, um ser plenamente biológico, mas se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível. A cultura acumula em si o que é conservado, transmitido, aprendido, e comporta normas e princípios de aquisição. (MORIN, 2000: 52).

O fenômeno do consumismo, conforme apontado neste trabalho, institucionaliza-se através de hábitos e confirma o comportamento individualista que tem levado ao esgotamento os recursos naturais, consequentemente, ao aumento do lixo, piorando a qualidade de vida nas cidades.

Em São Paulo, este fenômeno individualista tem proporcionado problemas ligados, por exemplo, à mobilidade urbana, pois a quantidade de veículos na cidade tem aumentado significativamente e de acordo com o caderno Conjuntura Urbana, em 2009, a maior parte dos domicílios da Região Metropolitana de São Paulo tem acesso aos bens de uso difundido (rádio, televisão, geladeira, freezer), e dois bens de consumo de média difusão (automóvel, dvd, máquina de lavar e linha telefônica).

As cidades no contexto apresentado acumulam um conjunto de significações e representações que integram um universo simbólico hoje idealizado através de condomínios fechados de médio e alto padrão que

conduzem as pessoas pertencentes a essa classe média alta ao isolamento, apontando para novas formas de sociabilidade que lhes proporcionem status e aceitação.

Por outro lado, as pessoas que estão habitando as regiões periféricas da cidade em áreas de vulnerabilidade também reafirmam sua condição desigual e é necessária a ampliação de programas de habitação que prestigiem aspectos que vão desde a escolha dos terrenos até a viabilidade de acesso a serviços de infraestrutura como redes de água, energia, tratamento sanitário, coleta de lixo, saúde, transporte e educação.

Hoje, apesar das inovações tecnológicas e conhecimentos sobre a influência dos espaços na concepção das metrópoles, não há sintonia entre o planejamento urbano e desenvolvimento das cidades, talvez porque o desenvolvimento das cidades não está sendo pensado como um sistema aberto e sistêmico.

A complexidade humana não poderia ser compreendida dissociada dos elementos que a constituem: todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. (MORIN, 2000: 55).

O setor da construção civil, apesar de apresentar avanços significativos nas tecnologias capazes de transformar os edifícios em ambientes mais eficientes do ponto de vista da economia de recursos naturais, como água e energia, apresenta uma dificuldade de compreender que as edificações são produzidas para as pessoas e, portanto, elas também deverão apreender como operar e o porquê da incorporação desta tecnologia no processo. O processo deverá ser de “dupla pilotagem” entre o edifício tecnológico, chamado Green Building, e os seus habitantes.

Este novo casamento entre natureza e a humanidade, necessitará, sem dúvida, como acabamos de dizer, de uma dupla superação da técnica atual que por sua vez, necessita de uma superação do modo de pensar atual, inclusive científico. (MORIN, 2005: 116).

Ceotto afirmou que é necessário contar com dois fatores nos empreendimentos verdes, para seu perfeito funcionamento: o fator humano e o tecnológico. “Você tem todo um processo de educação, mas a grande parte das empresas não liga muito para isso. As pessoas têm de entender que não existe um sistema perfeito: o ser humano tem que colaborar” (Entrevista à pesquisa de campo).

O conceito de construção sustentável, bem como os modelos de certificações dos empreendimentos, afasta e distancia os usuários e seus vizinhos da fase de planejamento urbano. Além disso, fica evidente que este movimento no Brasil está mais voltado para a tecnologia do empreendimento, ou seja, para o consumo de materiais sustentáveis do que planejamento urbano propriamente, ou para a fase de pós-ocupação do edifício, fase em que permanecemos a maior parte do tempo e consumimos mais recursos como água e energia.

O setor imobiliário, em São Paulo, é um importante agente indutor do processo de concepção da cidade, pois ele articula, através das parcerias público-privadas, as operações urbanas de maneira coordenada com os investidores dos mega projetos, excluindo-se as regiões periféricas da cidade ou as populações das favelas da região, dificultando o acesso dessas pessoas aos serviços de infraestrutura como transporte, lazer, saúde e educação. Isso nos leva a perceber que existe uma lacuna nos aspectos de planejamento urbano da cidade, como se deu no nascimento da nova cidade localizada às margens do rio Pinheiros.

Iniciativas como a da secretaria de Habitação do Governo do Estado de São Paulo, que hoje conta com um projeto de Habitação de Interesse Social Sustentável, deverão ser amplamente incorporadas ao programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida, mas, para que isso aconteça, será necessária uma articulação entre os governos e a iniciativa privada de maneira urgente para atendimento do déficit habitacional brasileiro, incorporando também aspectos de sustentabilidade.

As mídias e os meios de comunicação de massa devem ser consideradas importantes variáveis no processo de consolidação de uma nova cultura para a sustentabilidade. Elas retroalimentam as expectativas e desejos dos consumidores, e no caso do setor imobiliário atua como grande influenciadora de hábitos de uma sociedade.

Conforme apresentamos anteriormente, a propaganda do condomínio residencial Genesis, em Santana do Parnaíba, município na região metropolitana de São Paulo, levou os compradores a criarem uma nova expectativa sobre os aspectos ambientais incorporados ao empreendimento, e de maneira positiva contribuiu para que a Takaoka revisasse o projeto e buscasse alternativas mais ecológicas que pudessem atender a essa nova demanda do mercado.

É necessário, portanto, uma religação das pessoas com o universo, um novo modelo de pensamento multidimensional que rompe com o paradigma tradicional e apresente soluções práticas e passíveis de implantação.

Vale destacar que foi percebida uma confusão entre os conceitos de sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social e a tendência geral das pessoas é buscar um conceito reducionista que simplifique ou integre todos estes aspectos e, no geral, o entendimento

das empresas é o de que responsabilidade social ou sustentabilidade tenham um mesmo significado.

Michael Serres propõe que a Hominesciencia seja um processo evolutivo continuo, um diferencial para um homem que precisa se reinventar, assim como as cidades, que hoje precisam de novas formas de urbanização talvez por bairros, ou microrregiões, onde seja possível a aplicação de modelos de desenvolvimento que priorizem aspectos de sustentabilidade. Projetos de requalificação de espaços públicos e incorporação de elementos como as ciclovias para melhorar a qualidade do sistema viário são alguns exemplos que podem ser incluídos nestes aspectos de concepção de espaços.

Conforme os resultados gerais apresentados neste trabalho podemos perceber que será necessário um esforço conjunto entre os diversos atores da sociedade para articular uma rede favorável para que as metrópoles sejam mais sustentáveis e que as populações em situação de vulnerabilidade das cidades se integrem aos espaço físico que ocupam com acesso aos serviços de infraestrutura, lazer, transporte, educação e saúde.

Mediante estes dados, é possível constatar que mudanças significativas no setor têm ocorrido através de articulações entre, empresas, fabricantes, sindicatos, ONGs, governo e sociedade, entretanto, o aspecto da responsabilidade social nas empresas do setor, do ponto de vista prático, ainda tem deixado a desejar.

Recomendações

A partir dos aspectos apontados por este trabalho sugerimos três medidas para os problemas levantados: difusão do conceito de

sustentabilidade, implantação de política pública e desenvolvimento de uma agenda sustentável para o setor da construção civil.

1 - Difusão do conceito de sustentabilidade

Entendemos que para este item sejam necessárias articulações entre academia e a sociedade para que a grade curricular dos sistemas de ensino formais sejam revisados desde a educação infantil até a educação universitária com a intenção de proporcionar às pessoas em formação conhecimento sobre a natureza humana, ciências naturais, além de literatura, música e conceitos ligados à ética e à moral. Além disso, o fortalecimento de redes de conhecimento facilitará permitirá que este conhecimento seja ampliado, retroalimentado e transformado pela sociedade.

2 - Implantar políticas públicas

Podemos perceber que tanto o setor público como o setor privado, bem como entidades da sociedade civil, deverão atuar em conjunto para que a sociedade caminhe rumo à construção de cidades mais sustentáveis, pois se essa parceria é capaz de prover operações urbanas para valorização de áreas e transformação de espaços, também será possível estabelecer uma política inclusiva de planejamento que priorize a sustentabilidade

3 - Agenda da construção sustentável

O setor da construção civil está desarticulado em suas estratégias de sustentabilidade. Por outro lado apresenta uma série de iniciativas que precisam ser integradas a um programa que vise a implantação de política pública para que a cidade de São Paulo tenha uma agenda própria da sustentabilidade com metas de desenvolvimento local por bairros e microrregiões e metas globais por município a fim de alinhar o planejamento urbano da cidade rumo à sustentabilidade.