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Considerações Finais: As respostas institucionais à crise podem por em causa a Zona Euro?

Uma perspetiva sobre a prospetiva da Zona Euro.

5. Considerações Finais: As respostas institucionais à crise podem por em causa a Zona Euro?

Da observação do desenrolar dos acontecimentos ocorrido no cotexto da crise das Dívidas Soberanas cremos ser relevante salientar que as respostas institucionais revelaram-se muitas vezes tímidas, tardias e erráticas face aos problemas que então despontavam. Todavia, reconhece-se que alguma aprendizagem foi sendo produzida e algumas iniciativas podem ser consideradas como gérmen para futuras reformas estruturais para construir uma União Monetária mais sólida e eficaz.

Nesta ótica, realçamos que o Conselho Europeu de junho de 2012 constituiu um marco importante, pois sinalizou a intenção da UE criar um supervisor único para os bancos da zona Euro, como primeiro passo na criação de uma união bancária europeia. Admitia-se então que o papel desta instituição seria crucial para a estabilidade financeira e para a sustentabilidade das finanças públicas dos países do Euro, tornando a fiscalização mais credível e imparcial e promovendo um gradual regresso dos sistemas bancários à normalidade.

Foi apresentado depois em dezembro de 2012 pelos presidentes das quatro instituições comunitárias o relatório “Rumo a uma verdadeira União Económica e Monetária” que teve o mérito de equacionar um conjunto de iniciativas tendentes a assegurar a estabilidade e a integridade da UEM, apelando a um vigoroso impulso político e a um laborioso trabalho legislativo para o implementar. Este documento constituiu, em nossa opinião, uma profunda autocrítica em relação às falhas registadas na arquitetura da UEM, as quais não permitiram assegurar um bom desempenho económico aos seus membros e a estabilidade económica e financeira na Zona Euro.

Naturalmente que o avolumar dos efeitos da crise reavivou os debates sobre a viabilidade da moeda única, forçando as autoridades a reagir e tomar iniciativas para conter o alastramento da instabilidade6. Assim, o referido roteiro apontava para o estabelecimento de um percurso faseado em que, numa primeira fase, a prioridade seria quebrar a ligação Bancos/Estados como garantia da sustentabilidade orçamental dos membros da Zona (Sousa & Caetano, 2013). Seguiram-se ações orientadas para um reforço da integração financeira e para a promoção de reformas estruturais nos Estados, sendo considerada a concessão de apoio financeiro da UE a alguns países com caráter temporário. Finalmente, num horizonte temporal mais vasto, foi proposto um mecanismo central de absorção dos efeitos de choques económicos específicos para melhorar a resiliência da Zona.

O acordo do Conselho Europeu para uma gradual consolidação desta nova arquitetura institucional constitui o reconhecimento tácito de que para o bom funcionamento da União Monetária deverão ser estabelecidas bases mais sólidas, no sentido de reforçar as vertentes da união bancária, da união orçamental e da união económica. Em paralelo, deverão ser criados mecanismos para apoiar o reforço da legitimidade e da responsabilização democrática no processo de tomada de decisão.

Foi sobre este projeto que o Conselho Europeu assumiu alguns compromissos e tomou decisões relevantes que poderão criar condições para uma resolução mais rápida da situação de crise económica e financeira e relançar a construção europeia em bases mais firmes. Notamos com especial

6 Realçamos as meritórias intervenções do Banco Central Europeus que em alguns domínios de intervenção terá

roçado mesmo os limites das suas competências definidas no seu quadro legislativo e regulamentar, mas que eventualmente terá salvo o Euro da sua desagregação nas alturas de maior tensão e instabilidade.

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relevo as referências expressas para que os próximos passos promovam uma solidariedade reforçada entre os membros integrantes da Zona, sem a qual dificilmente haverá coesão política que permita avançar no processo de integração.

Provavelmente a criação do Mecanismo Único de Supervisão (MUS) com jurisdição sobre a maioria das instituições bancárias da UE tenha sido das decisões mais relevantes e, quiçá uma das mais promissoras, tomadas pelo Conselho. Posteriormente, o foco tem estado centrado na criação de um dispositivo comum de resolução com poderes para atuar sobre qualquer banco no seio da Zona. Este tipo de apoio deverá ancorar-se em transferências do setor financeiro, suportadas pelos seus clientes, pelo que a médio prazo a sua neutralidade em termos orçamentais deverá ser assegurada.

Constituíram um progresso significativo os passos para a criação de uma união bancária na Zona, sinalizando com o seu pleno funcionamento uma forma de evitar futuras crises financeiras e as inevitáveis interações com a sustentabilidade das dívidas soberanas, restabelecendo a normalidade nos canais do crédito ao setor privado. Todavia, continua por resolver a questão central da estabilização do financiamento público, pelo que será crucial que se equacione a viabilidade técnica e política dos diferentes cenários que sobre este aspeto se colocam.

Uma primeira solução poderá envolver a criação de um orçamento de cariz federal e com dimensão e capacidade de intervenção claramente superior à que o Orçamento comunitário tem assumido. Este poderia exercer uma função estabilizadora, em virtude de os fluxos de despesa e receita serem bastante sensíveis à conjuntura económica. Vários autores têm sustentado de forma profusa esta solução (Marzinotto, 2012), porém não se perspetiva que estejam já criadas condições políticas para este tipo de soluções no seio da UE e que em prazo curto viabilizem tentativas neste sentido.

Uma outra alternativa pode passar pela criação de um mecanismo de estabilização com efeitos macroeconómicos similares aos de um orçamento comum. Assim, em função da posição de cada país no ciclo económico, ocorreriam transferências orçamentais entre Estados, sob coordenação central. No desenho de um dispositivo neste formato será prudente para uma melhor aceitação pública evitar a cristalização dos efeitos que coloque países em posições permanentes de contribuintes ou de beneficiários do mecanismo.

Finalmente, uma terceira possibilidade pode ser a restauração da capacidade de financiamento dos países menos solventes, designadamente pela mutualização da emissão da Dívida Pública. Naturalmente terão que ser definidas regras que garantam que a cada Estado seja atribuída uma quota nos empréstimos em função de variáveis económicas. A vantagem deste instrumento é que os países com maiores dificuldades financeiras disporiam de juros mais baixos e mais tempo para promover reformas estruturais para repor a sua competitividade, sem sujeitar a economia a efeitos recessivos da austeridade. O eventual efeito negativo seria o aumento dos custos de financiamento dos países solventes, que têm recusado uma solução deste tipo, em particular a Alemanha.

A plausibilidade de cada uma das hipóteses atrás expostas depende da forma como as instituições europeias se adaptarem, ou mesmo se (re)construírem de forma a que os novos desafios sejam superados. Neste caso, as questões fiscais voltam a ganhar relevância – a qual tinha, aparentemente, sido menosprezada quando se apostou na vertente monetária (moeda única, Banco Central Europeu, inflação) – exigindo uma aposta forte na governação nestas matérias que permita

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um maior grau de integração fiscal e naturalmente um reforço do processo de convergência económica entre os países (Andrle et al., 2015).

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