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Este trabalho pretendeu proporcionar um estudo sobre a tradução inserida em um ambiente de trabalho, bem como as relações entre os envolvidos no seu processo de produção, possibilitando que se explorasse a revisão enquanto fator que exerce influência na formação do tradutor como profissional. Na verdade, a possibilidade de trabalhar com tradução ainda durante o período de formação acadêmica estimulou uma maior reflexão sobre o ato de traduzir, além de ter permitido perceber que, na prática, o tradutor ainda é visto como um funcionário destinado a cumprir tarefas. Há, pelo menos no contexto da Página Internacional da Agência Senado, pouca abertura para o tradutor desempenhar seu papel com alguma autoridade sobre seu próprio trabalho.

De qualquer forma, a experiência do estágio na Página Internacional me possibilitou uma imersão, do ponto de vista laboral, nos procedimentos e etapas pelos quais um texto traduzido tem que passar até que chegue a seu público alvo. De fato, a tradução depende de outras questões que não só o tradutor e o texto. Nesse sentido, a análise proposta no primeiro capítulo de uma percepção do tradutor como um profissional se fez viável devido ao estudo realizado do ambiente de trabalho, no caso uma agência de notícias, onde existem interesses e diretrizes que são definidos e, em alguma medida, impostos ao tradutor. Obviamente, dentro de tal ambiente, o tradutor faz parte de um grupo de pessoas que também trabalham para a instituição e respondem às suas expectativas. Por isso, por meio da descrição das funções e perfis dos profissionais envolvidos com a Página Internacional, foi possível observar que a função do tradutor neste ambiente é condicionada àquilo que seus superiores desejam como produto.

Logo, esse trabalho condicionado é permeado por determinadas características próprias das práticas e diretrizes adotadas, inicialmente, pela Agência Senado em suas notícias em português, e, consequentemente, pela Página Internacional, por estar subordinada hierarquicamente àquela. O segundo capítulo, então, fez-se importante na medida em que explicitou como se dá o processo tradutório, destacando alguns elementos recorrentes nas traduções, como a tendência estrangeirizadora e o uso da tradução literal, além de mostrar como a revisão se faz presente na produção da Página e apresentar quais os parâmetros que o revisor e editor utilizam para avaliar as traduções.

Por sua vez, por meio da análise dos dados, o terceiro capítulo propiciou a verificação de que modo intervinham o revisor e o editor, quando de suas respectivas

revisões, e quais as naturezas dessas intervenções, bem como de que forma essas intervenções produziam mudanças nas traduções subsequentes. Com a ajuda do programa de computador AntConc, no caso de verificação terminológica, foi possível ainda perceber que, de fato, as revisões realizadas estabelecem alguns padrões tradutórios que passam a ser recorrentes em outras traduções. Mas, talvez, o aspecto mais relevante da análise dos dados seja evidenciado pela notação criada para simbolizar o processo de aprimoramento das traduções na Página Internacional.

Uma vez observadas as ocorrências de revisões, pude identificar, nas versões mais antigas, questões que posteriormente o revisor e o editor iriam modificar. Além disso, pude visualizar correções e outros aspectos que não foram modificados em nenhuma das instâncias de revisão existentes na Página Internacional. Tal fato demonstra que durante o estágio me aperfeiçoei enquanto tradutor com relação às práticas adotadas naquele ambiente e também com relação à língua espanhola, já que consegui sinalizar e sugerir melhorias em questões nas quais nem mesmo o revisor interferiu.

Dessa forma, é seguro afirmar que a revisão é condição sine qua non para o aprimoramento das traduções, além de influenciar positivamente a formação do tradutor. Mais que estimular a busca, por parte do tradutor, por evitar incorreções em seus textos, a revisão proporciona a prática da autorrevisão, não só como modo de buscar uma tradução de melhor qualidade, mas também como ato de reflexão das práticas e escolhas adotadas em seu trabalho. De fato, depois de analisar as 27 versões do recorte aqui proposto, concluí que algumas ocorrências de revisão poderiam ter sido evitadas se eu tivesse revisado com mais cuidado minhas traduções antes de enviá-las ao revisor.

Não obstante, se o tradutor não está isento de falhas, o revisor também não está.

Depois de evidenciadas inconsistências nas revisões das versões da Página Internacional, alguns questionamentos podem ser levantados. Se a revisão serve como maneira de aperfeiçoar um texto a ser publicado, não seria o caso de os envolvidos com a revisão terem formação na área? E se a revisão se mostra fundamental no desenvolvimento do tradutor, por que há pouco investimento em revisores ou mesmo nos estudos sobre a revisão? A discussão dessas questões parece ser relevante não só em ambientes profissionais, mas, principalmente, em ambientes acadêmicos, pois é onde o tradutor em formação pode ter a oportunidade de traduzir e, também, revisar, além de procurar métodos de integrar essas duas ações.

Com base na minha experiência e no que foi explorado até o momento, seria lógico afirmar que a formação de um tradutor deve estar necessariamente aliada à prática

profissional da tradução, ainda que em nível de estágio. Assim, o tradutor tem a oportunidade de enxergar como seu trabalho é inserido na sociedade.

Com relação à Página Internacional em si, mostra-se clara a necessidade de mudanças na abordagem que se dá às versões, cujo foco principal deveria ser sua pertinência funcional para com o público estrangeiro e não as estruturas estáticas promovidas pelas relações de poder desproporcionais institucionalizadas na Agência Senado. Acredito que, se houvesse um pouco mais de liberdade para os tradutores e se os estagiários não fossem vistos apenas como estudantes, mas como profissionais em formação, algumas das questões problemáticas apresentadas poderiam já ter sido tratadas de modo diferente, pelo menos do ponto de vista das questões tradutórias em si.

Por outro lado, há de se destacar que o fato de o editor procurar, para as vagas de estagiário da Página Internacional, estudantes dos cursos de Tradução, tanto de inglês quanto de espanhol, demonstra que, apesar de os tradutores serem pouco autônomos nesse âmbito, começa a existir, no campo profissional, demanda por pessoas cuja capacitação seja especializada. Tal fato valoriza a formação em Tradução, bem como o tradutor, cuja oportunidade de trabalho deve ser utilizada para mostrar que sua formação especializada lhe dá os atributos e autoridade de se legitimar como categoria profissional.

Portanto, este trabalho pretendeu contribuir, no contexto dos Estudos da Tradução, para traçar um panorama de um ambiente de trabalho no qual o tradutor pode atuar e em quais condições pode desempenhar sua função. Vale ainda ressaltar que a revisão ganha destaque enquanto ferramenta de aprimoramento da tradução quando explorada pelo tradutor tanto no momento em que produz suas traduções, quanto no momento posterior à tradução, ainda que seja a revisão feita por terceiros.