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O presente trabalho foi de fundamental importância para que se entenda como se desenvolve a Política de Atenção a usuários de álcool e outras drogas, bem como fora primordial para o processo de conhecimento, e fortalecimento da ideia de ensino e aprendizagem.

Conforme Alarcon e Jorge (2012) arriscaria relacionar algumas práticas que considero importante para os profissionais da área álcool e outras Drogas atentos ao contexto de demanda por novas práticas para assistência da família. O primeiro ponto a ser destacado é que necessário desconstruir a cisão entre usuário de drogas e sua família, é fundamental apreender a família em sua unidade, mesmo que frágil, rompendo com delimitação entre membros que usam de forma nociva as drogas e aqueles que não as consomem.

Outro fator que o autor enfatiza, que é importante a ser considerado pelos os profissionais é atentar para os múltiplos fóruns de articulação das redes de política sociais públicas rompendo o histórico endogenismo das instituições dessa área. (Alarcon,2012)

Sendo assim, os atendimentos no complexo hospitalar HMWG/PSCS, muitas vezes constitui, a única política social a que teve acesso aqueles usuários, em que os que sobrevivem recebem cuidados quando internados, mas quando estão de alta se deparam com a incerteza quanto a continuidade da sua recuperação. Portanto, o Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo apesar das inúmeras dificuldades, tem sido a única política a que tem acesso grande parte dos usuários que chegam a aos serviços de urgência e emergência.

Os casos de politrauma associados ao uso de psicoativos revelam uma clara associação entre o contexto da produção da violência, tráfico de drogas e desigualdades sociais, portanto seu enfrentamento deve trilhar por medidas que incidam sobre tais problemas, o que requer a construção de uma rede de atendimento que trabalhe não apenas o usuário e sua família em todas as suas dimensões, mas a Sociedade organizada em prol da defesa dos direitos humanos e sociais e contra as desigualdades sociais.

É preciso formular políticas de saúde que dotem a rede SUS, especialmente os hospitais de urgência e emergências a atender esse público de forma integral, considerando que em geral traz como demanda não apenas a patologia, mas também os aspectos sociais que envolvem tal problemática, mas isso requer a estruturação de redes sócio institucionais que deem efetivo suporte, tanto para prevenir quanto para recuperar.

Na cidade do Natal/RN em 2014, ocorreu em média 65,89 assassinatos por grupo populacional segundo dados apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e faz parte do 9º anuário da segurança Pública, isto por sua vez está ligado à insegurança, ao medo, a violência urbana e dentre outros males que ganhou espaço com o processo de globalização e urbanização.

A notificação das violências tem revelado a necessidade de construção e efetivação de um trabalho em rede, principalmente porque geraria uma com- responsabilidade, possibilitando que um usuário de drogas atendido em um hospital, ao sair tenha uma rede de apoio para facilitar sua reinserção social.

O estudo acerca do entendimento do que é rede e como ela deve ser tecida ao se trabalhar com uma demanda que traz consigo questões sociais que por vezes são colocados como insolúveis na sociedade, proporcionou que fosse realizada uma análise crítica acerca da forma como os usuários de substancias psicoativas são visualizados na sociedade e nos próprios serviços de saúde, além disso, foi possível constatar que há uma forte associação entre drogadição e violência, e isto tem constituído umas das principais causas que concorrem para a superlotação nos hospitais, bem como de um elevado gasto na saúde.

Este trabalho conseguiu possibilitar que se tenha uma visão da importância de se existir de uma rede de atenção a usuários de álcool e outras drogas de forma integrada e interdisciplinar. Contudo, foi possível constatar que a rede que hoje existe no município de Natal, não conseguiu ser tecida de forma articulada e integrada e que muitos dos serviços não conhecem nem os dispositivos existentes para atender essa demanda. Além disso, a falta de informação impede que a rede seja construída ou consolidada.

Enfim, a dependência das drogas é um “transtorno” que predomina a heterogeneidade, já que afeta as pessoas de diferentes maneiras, por diferentes contextos e circunstâncias. São inúmeras as razões que levam muitos consumidores de drogas não compartilharem da expectativa e desejo de abstinência e

muitas vezes face às dificuldades, abandonam o tratamento e perdem os precários vínculos estabelecidos com os serviços, seja de saúde, de assistência social, de educação dentre outros. Ao mesmo tempo, estes serviços não dispõem de políticas e estrutura capaz de realizarem busca ativa com vistas ao retorno, tampouco para assegurar atendimento precoce.

Existem também aqueles que sequer procuram tais serviços, pois não se sentem acolhidos em suas diferenças. Assim, o nível de adesão ao tratamento ou a práticas preventivas e de promoção é baixo, não contribuindo para a inserção e/ou reinserção social e familiar do usuário.

No mundo contemporâneo, tem-se presenciado o aparecimento de novas substâncias e novas formas de consumo, que adotam características próprias e requerem modalidades de prevenção adaptadas aos consumidores e aos contextos em que são consumidas.

Por fim, esse estudo gerou inúmeras indagações acerca da atenção prestada no Complexo Hospitalar MWG, sendo possível observar que os próprios pacientes não se reconheciam como dependentes químicos impossibilitando por vezes alguns encaminhamentos. Além disso, sentimos na pele a angústia dos profissionais não terem clareza, treinamento e condições de trabalho para atenderem da forma como devem, assegurando respostas com eficácia plena como determina a legislação em vigor.

Um momento que marcou muito a execução das atividades nos momentos em que aplicamos a notificação social em usuários internados no 4º andar do HMWG, em que nos deparamos com vítimas tão jovens. São momentos em que o compromisso ético-político e a identidade de classes somam-se a técnica e nos instigam a vencer o desafio de aprofundar esse debate como condição para proporcionar uma maior qualidade do atendimento, inclusive preocupando-se com a atenção pós-alta hospitalar. Considerando que não existe neutralidade e que nos serviços de saúde a relação é íntima, pessoal e direta, a indiferença ainda existente, sem dúvida, também é um dos obstáculos.

Esses estudos, proporcionaram a compreensão da importância de a formação profissional discutir esse tema e da necessidade de nosso engajamento na luta pela eliminação de todas as formas de preconceitos, bem como desenvolver habilidades e competências ético-políticas e técnico-operativas para poder contribuir para a efetivação das políticas públicas defendendo o usuário e os direitos que lhes são garantidos.

Portanto, o presente trabalho possibilitou constatar a necessidade de construirmos instrumentos dinamizadores e tecedores de uma rede que embora exista com dificuldades, deve ter visibilidade na perspectiva de seu fortalecimento e da superação dos seus limites de forma que o usuário/dependente não tenha seu direito violado, e para que ele deixe de ser visto como parasita ou como incômodo político, econômico e social.

REFERÊNCIAS

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P,389-407.

[1] Monografia apresentada ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parcial requisito para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª

Luciana, Do Nascimento Simião

[2] Bacharel em Serviço Social Centro de Ciências Sociais Aplicadas Departamento de Serviço Social -Universidade Federal do Rio Grande do Norte

[3] Atendendo dispositivo na portaria GM/MS nº 336 de 19 de fevereiro de 2002, a configuração dessa rede de serviços em Natal apresenta a seguinte composição: CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) II -Oferecem atenção integral a pacientes, a partir dos 16 anos, portadores de transtornos mentais graves e persistentes. Disponibiliza atendimento clínico individual e de grupo, além de outros procedimentos terapêuticos, incluindo orientações aos familiares; CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) III - constitui-se em constitui-serviço ambulatorial de atenção contínua, durante 24 horas diariamente, com capacidade de acolhimento noturno, incluindo feriados e finais de semana. Desempenha o papel de regulador da porta de entrada da rede assistencial em saúde no âmbito do seu território e/ou do módulo assistencial.

---REVISTA CIENTÍFICA MULTIDISCIPLINAR NÚCLEO DO CONHECIMENTO NC: 13949 - ISSN: 2448-0959

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