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5.1 RISCO TEMPORAL DE INCÊNDIOS

A análise do risco temporal de incêndios por meio do estabelecimento do histórico do fogo, da avaliação dos focos de calor e da determinação dos índices de perigo de incêndios permitiram a identificação de quando os incêndios podem ocorrer no Parque Estadual do Cerrado. O histórico do fogo e a análise dos focos de calor indicam a importância do fogo antropogênico mesmo em ambientes onde o fogo é considerado como um elemento natural do ambiente, como é o caso do cerrado brasileiro. A análise do histórico do fogo por meio de entrevistas é pouco realizada no Brasil. No entanto, esse tipo de análise deve ser incentivada pois, ressalta a importância do conhecimento da cultura do fogo, já que o mesmo é utilizado pelas pessoas para modificar a paisagem e afeta tanto biotas, quanto sociedades.

5.2 RISCO ESPACIAL DE INCÊNDIOS

A análise do risco espacial de incêndios por meio da elaboração do zoneamento do risco de incêndios, da caracterização do material combustível e do estabelecimento de correlações entre os riscos de incêndios e ameaças sobre a fauna, permitiram a identificação de onde os incêndios podem ocorrer, qual o material combustível presente nas áreas de risco e onde as comunidades correm maior perigo. A caracterização do material combustível pelo método direto, realizada pela amostragem da vegetação por meio de 85 parcelas destrutivas, representou uma amostragem significativa da vegetação do Parque e possibilitou o estabelecimento das relações do material combustível com o risco de incêndio. Além disso, os dados das cargas possibilitaram a avaliação da utilização de uma série de estereo-fotografias para caracterizar o material combustível de uma área de cerrado no sul do Brasil. A análise da viabilidade da série de estereo-fotografias ressalta a

importância da utilização de métodos indiretos, facilmente compreensíveis, práticos, baratos e rápidos para a avaliação do material combustível.

5.3 FOGO, DIVERSIDADE BIOLÓGICA E SAÚDE ECOLÓGICA

No Parque Estadual do Cerrado o entendimento dos riscos de incêndios fornece subsídios não somente para a supressão dos eventos, mas também para a manutenção da unidade, já que o fogo deve fazer parte desse ecossistema de cerrado. A partir dos dados encontrados pode-se inferir que a produção da biomassa no Parque não é elevada como no cerrado do Brasil central. Além disso, o mosaico das fitofisionomias apresenta uma tendência à homogeneização da vegetação com áreas abandonadas descaracterizando as fitofisionomias tanto devido ao acúmulo de material combustível perigoso, quanto pela presença de espécies exóticas que aumentam a flamabilidade em termos absolutos e relativos.

A exclusão do fogo vai contra os objetivos da criação da unidade, destinada prioritariamente à proteção de um remanescente de cerrado no estado do Paraná. Considerando a diversidade biológica, a ausência do fogo interfere na manutenção da complexidade biológica e sustentabilidade do meio. A sua exclusão impede a modelagem da paisagem para a manutenção de padrões de alta diversidade ecológica e resulta no abandono e perda de valor da diversidade. Consequentemente, aumenta os riscos para a vida selvagem, para a vegetação e para as comunidades rurais, pois afeta a manutenção do equilíbrio da saúde.

Por outro lado, no caso da ocorrência de um incêndio no cenário atual, o fogo teria facilidade de propagação por toda a unidade devido à distribuição espacial e continuidade de material combustível entre as fitofisionomias e à sua extensão reduzida. Os 430 hectares seriam rapidamente consumidos e seriam produzidos impactos negativos sobre a flora e a fauna locais. O fogo sem controle contribuiria para o crescente número de desastres observados e pouco reconhecidos e documentados em áreas naturais protegidas nacionais.

Eventos que se caracterizem por comportamentos extremos do fogo podem registrar elevadas taxas de mortalidade das espécies vegetais, ameaçando a manutenção da diversidade biológica e atuando na extinção de espécies endêmicas

como o Cryptangyum sp. Com relação à fauna, uma taxa de 15 % de mortalidade dos tatus, como a registrada em comportamentos extremos do fogo no Parque Nacional de Ilha Grande, também situado no estado do Paraná, deve ser considerada elevada e um indicativo do possível impacto negativo do fogo sem controle na área. Altas taxas de mortalidade da vegetação e da fauna evidenciam a fragilidade da manutenção do equilíbrio da saúde ecológica no Parque Estadual do Cerrado.

Sendo assim, um programa de manejo do fogo com objetivos conservacionistas deve ser estabelecido em caráter de urgência, onde devem ser implementadas técnicas para a gestão dos combustíveis, como a execução de queima prescrita. Considerando as políticas e tendências atuais mundial com relação às mudanças climáticas e ao uso do fogo, as queimas com o objetivo de conservação da natureza, manutenção da diversidade biológica e equilíbrio da saúde ecológica devem ser executadas visando à redução das emissões de gases de efeito estufa. Portando, recomenda-se que as mesmas sejam executadas no início da estação seca de acordo com Goldammer, Montag e Page (1997), Goldammer, Prüter e Page (1997) e Russel-Smith et al. (2006), para a comprovação da redução de emissões de gases de efeito estufa.

Pesquisas científicas sobre controle e ecologia do fogo devem ser continuamente realizadas para que se determinem os efeitos do fogo sobre os componentes bióticos e abióticos do meio, e consequentemente o papel ecológico do fogo na unidade. Estudos sobre os efeitos do fogo sobre a fauna devem ser realizados em médio e longo prazo, com ênfase nos que abordem os efeitos do fogo sobre espécies-chave para a correlação dos efeitos do fogo (KFRS – key fire response species). A técnica de biotelemetria pode ser empregada para a identificação das áreas utilizadas por essas espécies durante os incêndios e após os eventos, bem como para a determinação de rotas de dispersão da fauna no caso da ocorrência dos incêndios. Essa técnica poderá auxiliar também a identificação e seleção de remanescentes florestais significativos próximos ao Parque para se tornarem áreas protegidas.

A análise dos riscos temporal e espacial de incêndios possibilita o entendimento de aspectos ecológicos do fogo que fornecem subsídios para a reconsideração das práticas de exclusão do mesmo em áreas protegidas, quando se objetiva o manejo da paisagem e gestão das áreas para a conservação da natureza.