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SENTIMENTO DE ORGULHO AFETO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desta pesquisa pode-se concluir que há uma interação entre as estratégias de memória do colégio e as memórias construídas pelos ex-alunos. Os elementos simbólicos de memória são incorporados e significados, transcendendo o que se é esperado pela instituição. A incorporação dos seus significados ocorre de modo dinâmico e reflexivo no processo de construção da identidade ex-aluno, enquanto parte de um grupo social mais amplo, com o qual suas lembranças são compartilhadas no ato mesmo de rememoração. Assim, não se encontram prontas e armazenadas, mas são construídas durante o processo de rememoração. Nesses momentos sentidos, questionamentos e problematizações ganham forma e densidade. Foi possível verificar também que a despeitos das concordâncias, consensos e pontos compartilhados, há questões em disputa, zonas nebulosas, de tensão e conflito. Notou-se também que a própria instituição passa por mudanças em seu projeto político pedagógico, e, portanto, em um momento de revisão da sua tradição e do legado imperial. Este processo, por sua vez, provoca repercussões nas visões dos ex-alunos que reorganizam suas memórias para dar sentido à identidade social construída e valorizada.

O Colégio Pedro II se empenha através da sua tradição em manter a aura em torno do seu aluno, como um indivíduo que tendo passado pela instituição é alguém diferenciado. Os ex-alunos se reconhecem como parte dessa história e memória oficial mostrando como símbolos que marcam o pertencimento à escola continuam sendo lembrados e valorizados. As páginas criadas nas redes sociais também demonstram o esforço de manter vínculos afetivos e trocas entre indivíduos que se identificam com esse pertencimento e desejam perpetuar esse passado e compartilhar suas experiências.

É interessante notar que a imagética da escola- através do papel institucional e histórico na educação brasileira e da figura dos seus alunos e ex-alunos -, transita no imaginário social. Tanto que as mais recentes notícias sobre a polêmica dos uniformes

ganhou repercussão em diversos meios de comunicação, gerando debates e discussões que transcenderam os campi do Pedro II, sendo considerados socialmente relevantes.

Por outro lado, esta pesquisa também revelou conflitos e divergências em relação à representação tradicional da escola, alguns egressos manifestaram opiniões divergentes em relação à memória institucional e ao que é discursado por integrantes deste grupo, como por exemplo, o questionamento do ritual do hino da escola.

Outro ponto conflitante entre memória institucional e dos ex-alunos ficou evidenciado na polêmica sobre a confraternização anual no campus de São Cristovão, conhecida como “Feijoada dos ex-alunos”, evento celebrado há 20 anos, organizado pela associação de ex-alunos do colégio. No dia 30 de outubro de 2017, a reitoria emitiu uma portaria, cancelando o evento alegando entre outros motivos, a falta de estrutura da organização para a sua realização. Tal posição ocasionou muita insatisfação na rede de ex-alunos, pois também foram canceladas outras comemorações dessa natureza em outros campi. O posicionamento institucional parece funcionar como medida preventiva tendo em vista possíveis transtornos que comprometeriam a imagem da instituição. Mas este episódio expôs uma situação de conflito, em que a decisão da reitoria comprometeu a realização de um evento importante para a manutenção do grupo de ex-alunos, de suas tradições e memórias. Entretanto, como já foi dito anteriormente, esta decisão do colégio pode ser interpretada como uma estratégia de preservação da memória oficial da instituição, que naquele momento considerou o evento uma situação que traria riscos para a tradição oficial.

“Porém um acontecimento realmente grave sempre causa uma mudança nas relações do grupo com o lugar, seja porque modifique o grupo em sua extensão, por exemplo, uma morte, ou um casamento, seja porque modifique o lugar, quer a família enriqueça ou empobreça, quer o chefe da família seja convocado para um outro posto ou passe a ter outra ocupação. A partir desse momento não será mais exatamente o mesmo grupo, nem a mesma memória coletiva; mas, ao mesmo tempo, o ambiente material não será o mesmo” (HALBWACHS,1990, p. 93).

A permanência das redes de contato através da confraternização entre os ex- alunos, e a manutenção de seus vínculos com o lugar de memória são fatores decisivos para a preservaçãoda rede de afetose laços constituídos durante a trajetória escolar.

O colégio tem a sua memória institucional marcada por essas redes afetivas estruturadas em torno da valorização desse pertencimento, da sua singularidade

histórica no cenário educacional, das suas tradições e símbolos e experiências partilhados. Desse modo, a memória é um elemento estruturante da sua tradição, que remete o passado, ao presente e ao futuro.

A escola como instituição, apresenta para os alunos um modelo a ser seguido. Através das suas regras, avaliações, práticas, simbolismos e ritos. Um dos símbolos mais forte é o uniforme, que possibilita identificar e ser identificado. Esta identidade é motivo de distinção e orgulho. Ao mesmo tempo, o reconhecimento desta identidade de aluno do CPII, a qual está repleta de significados e há expectativas na interação coletiva com os seus pares de ser compreendido e reconhecido pelo o outro. Eles têm a oportunidade de pensar sobre si mesmos de maneira coletiva, e no seu papel social.

É importante dizer que o sentido de pertencimento ao Colégio Pedro II não se não se encerra finda a trajetória escolar, mas se perpetua e se manifesta em outros espaços sociais, reafirmando o laço afetivo que liga esses indivíduos à escola. Como encontrei em alguns depoimentos “quem é aluno do CPII, nunca deixa de ser aluno do CPII”.

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