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Considerações finais sobre a pesquisa realizada

5. A PESQUISA REALIZADA

5.9. Considerações finais sobre a pesquisa realizada

Utilizar diferentes vídeos para a aprendizagem de conceitos científicos ligados a um mesmo tema mostrou-nos que a natureza do aprendizado é distinta para os diferentes vídeos, o que os torna complementares. Há uma grande variedade de vídeos produzidos para o ensino da Física, desde aqueles realizados dentro de projetos de ensino, vídeos comerciais e até projetos de produção amadora, que podem ser utilizados pelos professores em sala de aula.

Isso mostra que devemos explorar a linguagem audiovisual de diferentes maneiras e assim enriquecer o ambiente escolar. Trazer para dentro do ambiente escolar as tecnologias nas quais já estamos imersos em nosso cotidiano também traz a pluralidade de leituras.

Foi possível estudar temas que usualmente estão fora do ambiente escolar, como os conceitos científicos de Aerodinâmica, além de temas tradicionais do Ensino Médio, como alavancas, ao utilizarmos audiovisuais.

Foi possível identificar que o conhecimento apresentado no pré-teste dos alunos avançou na direção do conhecimento científico nos pós-testes. Isso indica que os vídeos puderam ser assimilados pelos alunos que se apropriaram dos elementos presentes nos vídeos para transformar seus conhecimentos, revelando que esses vídeos atuam na zona de desenvolvimento proximal (Vygotsky, 1984) dos adolescentes em idade

escolar, propiciando a construção do conhecimento na direção do saber científico.

Os vídeos exploram os elementos da linguagem audiovisual de formas diferentes, tanto em relação ao enquadramento, como em relação ao áudio, que em “O Professor” fica restrito quase exclusivamente aos diálogos. “Beakman” explora melhor os recursos da linguagem audiovisual, e foi dele que os alunos mais gostaram.

Um professor que optar por exibir apenas um vídeo em sua programação de atividades, deve utilizar os mais divertidos, que valorizam os elementos da linguagem audiovisual e valorizam a fruição dos alunos (espectadores), pois eles apresentam desempenhos equivalentes aos mais monótonos e parecidos com a aula tradicional.

O professor deve estar ciente de que as diferentes formas de tratar o argumento levaram a diferentes interpretações dos conceitos científicos tratados nos vídeos.

Ao exibir vídeos para os alunos, a utilização de dois vídeos distintos mostrou-se mais eficiente, pois juntos eles obtêm resultados melhores que cada um deles individualmente. Assim, a pesquisa apresenta resultados que permitiram identificar em audiovisuais de diferentes naturezas a cooperação que ocorre quando são mesclados momentos de sistematização e momentos de prazer, e os realizadores de audiovisuais educativos devem ter consciência disso.

Identificamos que, em relação à maioria dos testes, não há alteração significativa causada pela inversão da ordem de apresentação dos vídeos, o

que contrariou nossas expectativas, já que nos parecia relevante a seqüência de apresentação deles.

Nos casos em que pudemos identificar pequenas diferenças, a ordem de apresentação que produziu um maior avanço no conhecimento científico foi “O Professor”—”Beakman”; mas nesses casos também identificamos que, no 1.º pós-teste, “Beakman” teve um melhor desempenho individual, e o resultado final pode estar mascarando esse fato observado no desempenho individual.

Dessa forma, entendemos que a ordem de apresentação pode ser escolhida pelo professor em função de suas prioridades, já que não foi possível determinar um fator relevante na ordem da apresentação.

Os dois conjuntos de vídeos utilizados apresentaram resultados que mostraram a aprendizagem de conceitos científicos por meio de visões complementares, mas não identificamos nenhum caso em que fosse possível identificar que eles estivessem competindo; no segundo pós-teste ocorreu um significativo progresso em relação às generalizações.

A pesquisa mostrou que há limitações em relação ao aprendizado, porém isso pode ser superado se utilizadas as metodologias existentes para uso dos audiovisuais, como as discutidas por Miléo.

Em nossa pesquisa identificamos a dificuldade de comparar e extrapolar o conceito de perfil de asa para o perfil de um carro; esse tipo de abstração não parece ter sido possível por meio dos vídeos utilizados, o que reforça a importância do professor nos processos educativos, identificando limitações e propondo outras formas de interação com os conhecimentos científicos, permitindo-se superar as dificuldades.

O pré-teste indicou diferenças no mundo vivencial dos alunos das escolas públicas e particulares, como o medo associado ao avião entre os alunos da escola pública — o qual não ocorre entre alunos da escola particular, mais familiarizados com esse meio de transporte.

Os alunos da escola pública têm maior interesse em conhecer o princípio de vôo do avião, enquanto que na escola privada o maior interesse está na utilidade ou na diversão que o avião pode-lhes proporcionar.

Os alunos da escola particular apresentaram em alguns casos desempenhos melhores que os alunos da escola pública, o que pode estar relacionado ao maior uso de vídeos didáticos para fins educativos em escolas particulares, pois que os alunos de escola particular estão mais habituados a identificar quais respostas se esperam deles, principalmente em situações de avaliação. O pré-teste também indicou uma maior familiaridade com esses temas entre os alunos da escola particular.

Acreditamos que os professores, ao utilizar audiovisuais em salas de aula, passam a mediar as situações de aprendizagem de forma mais prazerosa, e os alunos experimentam o sentido da fruição explicitamente explorada em audiovisuais que se expressam adequadamente por meio da linguagem audiovisual.

O audiovisual é uma entre as diversas formas de recuperar a fruição nas estratégias de aprendizagem, o que nunca deveria ter deixado de estar presente na escola, pois a fruição também está presente numa educação problematizadora e transformadora, em que o educando é protagonista e o professor tem o papel de educador e especialista, identificando e

promovendo meios plurais de aprendizagem, construindo o conhecimento em comunhão.

Muitas perguntas ainda permaneceram abertas. É preciso explorar mais profundamente a linguagem audiovisual e seus usos no ensino da Física, sendo também necessário investigar metodologias e formas de inseri-la na formação de educadores, nos centros de formação inicial e na formação continuada. A falta de habilidade e de desenvoltura na utilização e na produção de atividades educacionais que explorem o potencial dessa linguagem, contribui para que os professores atuem de forma preconceituosa e inadequada em relação ao uso de audiovisuais em sala de aula, pelo que precisamos buscar novos caminhos para superar essa postura e trazer para a sala de aula as contribuições e a interatividade desse meio de comunicação.