Elementos da linguagem audiovisual
“Uma imagem vale mais que mil palavras”.
Quando se discutem os elementos que compõem a linguagem audiovisual, as seqüências, os planos, a angulação, o movimento de câmera, o som e a edição são os temas mais freqüentemente elencados55, e também os mais explícitos num produto audiovisual; mas eles não são os únicos56, e a nomenclatura utilizada para caracterizá-los não é padronizada, apresentando variantes para os mesmos termos, dependendo do autor consultado. Ainda assim é possível identificar nelas alguma convergência.
O plano é o elemento mais evidente da linguagem audiovisual, é o
conjunto de imagens captadas e registradas por uma câmera durante a tomada de uma cena, e está contido no espaço e no tempo. Ele também é o menor fragmento de um audiovisual após sua edição/montagem, tendo normalmente duração específica e um único enquadramento. No entanto com a evolução tecnológica e a criação de objetivas com foco variável, os planos podem apresentar dois ou mais enquadramentos (zoom), e isso depende da lente utilizada na captação. Há casos em que se dão denominações como plano-
55 Franco, 1987; Miléo, 1994; TV na Escola e os Desafios de Hoje: Curso de extensão, SEED/MEC,
Brasília, 2001.
56 Também podem ser encontradas referências ao argumento, tratamento, roteiro, ritmo, cenografia,
seqüência, para ressaltar que durante a tomada da cena há movimento de câmera acompanhando a ação por diferentes espaços ou cenários, sem a interrupção do plano.
A seqüência é um conjunto de planos que formam um bloco e apresentam
as informações que dão sentido à parte da narrativa; ela pode propiciar tanto uma unidade narrativa como uma unidade técnica, por exemplo, todos os planos realizados numa mesma locação.
O enquadramento de um plano
O enquadramento inclui uma série de elementos que compõem o campo
visual apresentado ao espectador, os quais formam o ponto de vista que o espectador terá da narrativa: entre eles a escolha da porção do cenário, o ângulo pelo qual a câmera exibe a ação, que imagens estão mais próximas ao expectador etc.
Os planos podem ser classificados de acordo com o enquadramento escolhido para a tomada de cena, e, de uma forma aproximada, o enquadramento pode ser pensado como a posição e a distância aparentes em que a câmera está em relação ao objeto principal da ação. Cada uma das categorias apresentadas a seguir para os planos exerce uma função específica na linguagem audiovisual.
No plano geral (PG), a câmera parece estar distante, tem como função contextualizar a ação no espaço e no tempo, apresentando uma visão ampla do cenário, rico em informações que ambientam o espectador no contexto em que ocorre a ação. Em alguns casos, é chamado de grande plano geral, quando se trata do plano mais abrangente que se pode ter numa tomada.
O plano de conjunto (PC) é um enquadramento um pouco mais próximo que um plano geral, mostrando os personagens e o ambiente em que se encontram. Ambienta o espectador na ação, valorizando o personagem e mantendo o ambiente como pano de fundo.
No plano médio (PM), a câmera parece estar próxima e acompanhar a ação, exercendo a função narrativa; sua forma mais comum apresenta a pessoa da cintura para cima, mas há variantes, como o plano americano, que mostra a pessoa do joelho para cima, ou plano aberto, que mostra a pessoa inteira, sempre privilegiando a ação, nunca cortando a pessoa nas articulações, mas logo acima delas.
No primeiro plano (PP), a câmera parece estar muito próxima da ação, dá destaque ao personagem ou objeto na narrativa, prende a atenção do espectador na ação individual.
No close-up (Close), a câmera parece estar extremamente próxima, podendo desvelar aspectos íntimos do que ocorre na ação, revelando pensamentos e o interior do personagem; tem a função de amplificar a intensidade dramática, apresenta nitidamente a expressão do ator ou detalhes dos objetos, enquadra o essencial para chamar a atenção e apresentar ao espectador, numa cena, detalhes importantes que poderiam escapar num enquadramento em primeiro plano.
Plano detalhado ou plano de detalhe (PD), por meio do qual a câmera
parece estar junto ao objeto ou ao personagem, a poucos centímetros ou até mais próxima, mostrando em pormenores uma parte essencial do assunto; apresenta grande impacto visual e tempo de leitura muito curto.
Os movimentos de câmera num plano
Durante a captação, a câmera pode permanecer fixa e a ação se passar diante de seu campo visual, ou apresentar movimentos que acompanham e enriquecem as imagens do ponto de vista que se quer apresentar.
A panorâmica (PAN) é o movimento de câmera que se dá sem que ela saia do lugar, apenas rotacionando, na vertical ou na horizontal; é equivalente a girar a cabeça para os lados ou para cima e para baixo, varrendo o cenário para trazer informações que estavam ocultas, fora do campo visual. A
panorâmica invertida tem a mesma função da panorâmica, mas ocorre com o movimento da câmera ao redor do personagem ou do objeto central, de tal forma que se modifica o campo visual, mas o personagem ou objeto permanece nele.
O travelling é o movimento em que a câmera se desloca, movendo-se ao longo de trilhos, ou presa à grua, ao carro ou ao corpo do operador de câmera; ela é fixada a algum objeto móvel, permitindo que a câmera acompanhe o movimento dos objetos. O dolly é o deslocamento da câmera em que a pessoa ou objeto está parado e o movimento que se vê é o movimento da câmera.
O zoom é um movimento de câmera que não corresponde a nenhum movimento físico dela; trata-se de um efeito óptico que ocorre quando se utiliza uma objetiva que permite a variação da distância focal de seu conjunto de lentes, variando o campo visual e o aumento da imagem, o que é normalmente interpretado pelo espectador como movimento de aproximação ou de afastamento da câmera.
O ângulo e a posição da câmera num plano
As posições relativas entre a câmera e o personagem ou objeto presentes na ação produzem efeitos expressivos, estéticos e de reforço de significado, os quais influenciam a leitura da imagem; assim, a angulação dá força à narrativa, adicionando o ponto de vista que se impõe à imagem, na escolha feita pelo diretor.
A câmera alta (plongée) corresponde à câmera posicionada acima da ação, com tomada de cena de cima para baixo; ela minimiza o personagem e demonstra o predomínio da ação, sendo um ponto de vista que normalmente reforça a inferioridade do personagem, diminuindo sua força e sua importância.
A câmera baixa (contraplongée) corresponde à câmera posicionada abaixo do personagem ou objeto, muitas vezes no chão; com tomada de cena de baixo para cima, ela dá austeridade e força ao personagem, colocando-o em posição dominante.
A câmera normal capta a ação à altura dos olhos de uma pessoa, como a visão normal que temos do mundo, sem trazer uma carga expressiva do ponto de vista do observador à cena.
A edição dos planos
Esse é o momento de recriação do que foi captado: de todos os planos filmados, escolhem-se quais partes deles serão incluídas no produto final, no audiovisual que será veiculado e também em que ordem, podendo-se alterar as seqüências filmadas, recriando-se novas seqüências57 e até apresentando-se duas ou mais seqüências ao mesmo tempo na tela58, recurso muito utilizado em videoclipes musicais. É na edição que se inserem no produto audiovisual o som, a trilha sonora e os efeitos especiais.
57 O filme Blade Runnerde Ridley Scott foi editado em quatro versões já exibidas: o original americano
e a versão internacional lançados em 1982, com final modificado por imposição do estúdio (narrativa em
off de Harrison Ford, “final feliz” e cenas de arquivo de O Iluminado, do Kubrick). A versão do diretor,
lançada em 1992, e a versão final do diretor lançada em 2007 têm o unicórnio e o final original do diretor.
58 O filme Hulk de Ang Lee, 2003, em vários momentos, utiliza a divisão da tela em duas ou mais partes,
cada uma apresentando uma seqüência. São apresentados ao mesmo tempo ao espectador diferentes ângulos de um mesmo fato, ou diferentes tramas correlacionadas.