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O desenvolvimento da pessoa jurídica, da limitação patrimonial e das sociedades foi, ao mesmo tempo, causa e consequência do florescimento comercial desde a Antiguidade. Tais conceitos tornaram-se basilares no Direito Empresarial e a importância de sua evolução histórica pode ser retratada pela manutenção de tipos societários abandonados pelos comerciantes no texto do Código Civil de 2002.

A evolução descrita teve como base a união de pessoas em torno de um objetivo comum, buscando aglomerar recursos para atingi-lo. O negociante individual pouco participou do processo, sendo por muito tempo esquecido pela lei e pela doutrina. O panorama só viria a mudar no século XX, com um ambiente mais favorável ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas. Passou-se a discutir a possibilidade de estender o benefício da limitação patrimonial também aos empreendedores individuais.

Apesar de recente, o diploma civil brasileiro não acolheu originalmente essa ideia. Manteve-se o benefício somente a alguns dos tipos societários e perdeu-se a oportunidade de incluir no ordenamento importante ferramenta de estímulo ao micro e pequeno empresário, o que só seria feito quase dez anos depois.

A doutrina brasileira discutia modelos societários e não societários para a limitação da responsabilidade patrimonial do empreendedor individual desde a década de 1950, o que torna o atraso do legislador injustificável. Outros países de tradição jurídica romano-germânica, por sua vez, admitiram tal limitação já nas décadas de 1980 e 1990.

A inventividade dos comerciantes ultrapassou os obstáculos legais através das sociedades fictícias, com o auxílio de um testa de ferro, sócio que não participava dos desígnios da sociedade, apenas preenchia formalmente o requisito da pluripessoalidade, a fim de que se obtivesse a limitação patrimonial desejada.

A regra da responsabilidade ilimitada do negociante singular no Brasil admitia poucas exceções, as quais não serviam àquele que originalmente desejava empreender de forma solitária.

A Lei n.º 12.441/2011 finalmente permitiu a limitação patrimonial ao empreendedor individual, inserindo no Código Civil a previsão relativa à Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI. O novo dispositivo legal, porém, não parece conter elementos suficientes para ser uma opção mais atrativa do que as já utilizadas sociedades fictícias.

Os artistas, literatos e cientistas, por sua vez, devem beneficiar-se do novo texto legal, que não repetiu a restrição atinente a estes profissionais constante nas normas relativas ao empresário individual. Com a entrada da lei em vigor, lhes será permitido auferir individualmente remuneração por seus direitos autorais, de imagem, nome, marca ou voz através da pessoa jurídica constituída, ensejando tratamento tributário mais vantajoso.

Por todo o exposto, observa-se a Lei n.º 12.441/2011 não preencheu satisfatoriamente a lacuna no ordenamento brasileiro relativa às necessidades do empreendedor individual, tema que certamente continuará em pauta no Congresso Nacional e na sociedade.

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