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docentes que poderão subsidiar outros trabalhos de investigação, a fim de que se possa refletir, minimizar ou mesmo sanar as dificuldades pontuadas aqui. Fica, então, uma lacuna, uma proposta para novos estudos.

A pesquisa também mostrou que o input linguístico oferecido às crianças no contexto escolar é rapidamente adquirido, seja ele oportunizado pelas canções, pelas histórias ou pela fala das alunas-professoras. Nessa perspectiva, é preciso que o docente, que atue com crianças das séries iniciais do fundamental, tenha fluência na língua que ensina, oferecendo, assim, um input de excelente qualidade a seus alunos, pois o input dado influenciará diretamente no output produzido.

Portanto, urge a realização de outras investigações sobre a formação inicial de professores de língua espanhola, principalmente no que diz respeito ao trabalho com crianças, estudos ainda tímidos, pelo menos em relação à quantidade, na realidade brasileira.

Os achados apontam os benefícios da inovação, seja ela no contexto universitário como no contexto escolar. Quanto ao contexto universitário, as reflexões das alunas-professoras demonstram que as disciplinas optativas: “O ensino da língua espanhola através de canções” e “O ensino de língua espanhola para as séries iniciais do fundamental”, contribuíram, não só para as suas práticas docentes com as séries iniciais, como para sua formação em um sentido mais amplo. Isso me leva a confirmar que um trabalho inovador, ainda que sofra críticas e mesmo preconceito em seu início, pode ser mantido se estivermos seguros de suas contribuições. Cabe ressaltar que a disciplina “O ensino da língua espanhola para as séries iniciais do fundamental” deixou de ser optativa, de dois créditos, passando, então, a ser uma disciplina obrigatória de quatro créditos no currículo do Curso de Letras, devido a sua repercussão e ao reconhecimento de sua importância, já que o contexto é uma região de fronteira, e uma universidade criada nesse contexto apresenta um diferencial que deve ser reforçado do currículo dos cursos.

As inovações geram, seguramente, desconstruções e, portanto, necessidades de mudanças em práticas arraigadas. Refiro-me aqui a um problema gerado no curso de Letras em relação aos estágios. Devido à motivação das alunas-professoras pelo ensino de Espanhol para crianças e a obrigatoriedade dessa disciplina no currículo, houve a solicitação, neste primeiro semestre de 2010 de que o estágio de conclusão de curso na área de língua espanhola seja realizado nas séries iniciais, prática essa exclusiva do Curso de Pedagogia. Essa solicitação está

causando novas discussões, sem que se tenha chegado ainda a nenhuma conclusão. Em consulta ao MEC, realizada pela coordenadora do Curso de Letras, foi obtida a seguinte resposta emitida via e-mail no dia 29 de abril de 2010:

Prezado (a) Sr (a) [coordendor do Curso de Letras], Solução:

informamos que a normatização do Estágio Supervisionado é de COMPETÊNCIA E AUTONOMIA das Instituições de Educação Superior (IES), e é indispensável ao PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO - PPC.

As IES possuem liberdade para realizar alterações de menor relevância em seus Projetos Pedagógicos de Curso (PPC), nos termos do Artigo 61, combinado com o 56, parágrafo 3º da Portaria Normativa MEC nº 40/2007.

As alterações de menor relevância, como a adaptação do Estágio Curricular do Curso de Administração à realidade de determinado aluno, devem ser SANCIONADAS PELOS ÓRGÃOS COLEGIADOS DO CURSO E DA INSTITUIÇÃO, sendo esses normatizados, em princípio, pelo Regimento Interno da IES. Resta às tais acomodações adequarem-se ao Artigo 7º da Lei nº 11.788/2008, o que APENAS pode ser feito pela própria Instituição, visto que esta conhece a sua realidade, a do aluno, bem como o contexto regional em que se inserem. NÃO CABE ao Ministério da Educação ( MEC) prescrever como dar-se-ão aquelas, mas sim, no momento da renovação do ato autorizativo, analisá-las segundo a legislação vigente.

Essa resposta nos motivou e nos fez acreditar na possibilidade de inserir, no PPC, uma forma de viabilizar o estágio curricular nas séries iniciais, desde que não infrinja a legislação pertinente. Infelizmente outras demandas na universidade nos impediram de seguir discutindo e verificando as reais possibilidades, o que deverá ser retomado em breve.

A inovação no contexto escolar, neste caso, o oferecimento da disciplina de língua espanhola para as séries iniciais na rede pública – lembrando que esse ensino somente ocorria na escola particular da cidade de Jaguarão e em algumas pré-escola particulares –, mostrou-se, também, possível de ser realizado na rede pública, seja através de projetos, de oficinas, de clubes de línguas ou, ainda, com mais otimismo, na grade curricular obrigatória das escolas públicas (pelo menos as municipais). Segundo os achados desta pesquisa, esta inovação mostrou-se motivadora, produtiva e instigante, apontado não só pelo interesse e motivação das crianças e das alunas-professoras, como também nas repercussões encontradas que foram além dos muros da escola.

Outra reflexão que este trabalho me oportunizou foi em relação à articulação teoria-prática bem como quanto à necessidade de maior organização das disciplinas no contexto universitário. O tempo na aula universitária deve ser mais bem dividido, evitando a distância entre teoria-prática. As práticas em terreno, isto é, na sala de

aula escolar devem estar presentes no decorrer de toda a disciplina, favorecendo a retroalimentação e a construção dos saberes docentes de forma articulada. A fim de que haja maior organização da estrutura curricular, maior número de práticas em terreno, essa articulação deve estar presente em todos os momentos, evitando que, como ocorre na maior parte dos cursos de licenciatura, essa prática, isto é, os estágios, fique restrita ao final dos cursos. Como aponta Cunha (2005, p.110), “a prática é o ponto de partida e de chegada no processo de teorização. Não serve para comprovar a teoria, mas para pô-la em questão, realimentando suas bases e favorecendo sua condição”. e disso, nós, professores universitários, devemos estar conscientes oportunizando esse entrosamento.

As disciplinas optativas proporcionaram construção de saberes, o aprendizado de outras possibilidades de ensinar – novas metodologias que propiciaram uma didática específica para o ensino de espanhol para crianças das séries iniciais. Quando desvelo, através dos achados da investigação, os benefícios de uma didática específica, me refiro a uma abordagem para o ensino de língua espanhola para crianças e não a fórmulas ou receitas, mas sim a uma maneira natural, como o que ocorre na aquisição de língua materna. Os benefícios do ensino ancorado na oralidade, no lúdico e nos saberes cotidianos das crianças, mostraram-se significativos e motivadores, devendo, portanto, mostraram-ser mais bem refletido na universidade.

O desenvolvimento de um trabalho coletivo que compartilhou vivências, experiências, discussão e troca de ideias, também mostrou-se beneficioso e reconhecido pelas alunas-professoras, no contexto escolar. Elas referem a importância da partilha e do coletivo da troca e na troca de materiais, ainda tão escassos no mercado. As alunas foram partícipes na construção das aulas, pois ajudavam a construí-las, analisá-las e reconstruí-las e tiveram o professor como orientador do processo, tendo o conhecimento como o eixo articulador. Da mesma forma o fizeram com seus alunos, isto é, com as crianças, opotunizando um trabalho comunicacional.

Quando as alunas-professoras foram para a prática, foi possível observar que elas sabiam analisar criticamente sua ação e reconstruí-la quando necessário;

que elas romperam com o instituído para o ensino de Espanhol nas escolas, tendo coragem para construir propostas alternativas que mesclaram o conteúdo trabalhado nas disciplinas optativas. Elas foram desafiadas pelo “novo”/inesperado e tiveram