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CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1- INTRODUÇÃO

Os processos de alteração superficial, notadamente conhecidos como processos intempéricos, ou ainda alteração intempérica, são responsáveis pela desagregação e decomposição dos constituintes da parte superior da crosta terrestre. São vários os mecanismos pelos quais os agentes intempéricos, tais como água, vento, gelo, radiação solar, organismos, etc., agem transformando a crosta em mantos de alteração com características químicas, mineralógicas e texturais bastante particulares. Nas regiões tropicais, por exemplo, onde esses processos são mais intensos devido à permanência de condições climáticas quentes e úmidas, grande parte do substrato rochoso está coberto por espessos mantos de alteração hidrolítica, conhecidos como lateritas.

As lateritas são definidas, conforme Tardy (1993), como materiais soltos ou endurecidos que constituem os solos e os horizontes superficiais, bem como os horizontes inferiores dos perfis de alteração das atuais regiões intertropicais ou de paleoambientes tropicais. Neste sentido, representam produtos diretos dos processos de alteração intempérica, comumente caracterizadas por cores avermelhadas a amareladas, mineralogia predominantemente secundária e diferentes estruturas e texturas como, por exemplo, as compactas couraças ferruginosas e os friáveis mantos latossólicos. Por estarem relacionadas a um condicionante climático em sua formação, as lateritas podem ser utilizadas como importante indicador paleoclimático (Delvigne & Grandin, 1969; Grandin, 1976; Leprun, 1979; Nahon, 1991; Tardy, 1993), e, além disso, contribuem para compreender a evolução geomórfica das paisagens onde estão localizadas. No Brasil são encontrados diversos tipos de lateritas e, embora sejam menos espessas que no continente africano, é possível que cerca de 65% do território esteja coberto por elas (Melfi et al., 1979; 1988). Dentre elas, destacam-se as bauxitas.

Reconhecidas como produtos secundários dominantemente ricos em óxidos e hidróxidos de alumínio, as bauxitas tem sua origem relacionada à alteração hidrolítica de diferentes tipos de rochas. Tendo em vista o histórico da descoberta e evolução dos conhecimentos sobre as bauxitas brasileiras (Melfi, 1997), os estudos até agora efetuados revelam sua existência na região amazônica, que detém as maiores reservas, e nas regiões sudeste e sul do Brasil.

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região Centro-Oeste do Brasil. Trata-se das bauxitas da região de Barro Alto, estado de Goiás, que são desenvolvidas sobre anortositos da Série Superior do Complexo Máfico-Ultramáfico Acamadado de Barro Alto (CBA), cujas primeiras análises realizadas pela empresa detentora da área (Reis, 2007; Veiga, 2008) revelaram a existência de jazidas com alto potencial no que se refere aos elevados teores de minério. Sem dúvidas, após a descoberta das bauxitas da região de Cataguases (MG), trata-se da maior descoberta de bauxita no Brasil, nos últimos 30 anos. Nesse contexto, este trabalho se torna fundamental por proporcionar o conhecimento e avaliação destes depósitos e por permitir a obtenção de subsídios para prospecção de novas ocorrências.

A bauxita de Barro Alto traz consigo uma mudança no quadro econômico mineral brasileiro, colocando a região centro-oeste do Brasil como detentora de um grande potencial para a produção do minério de alumínio, destinado a usos diversificados. Embora seja reconhecida a existência de um depósito de bauxita originado de anortositos em Porto Loko, Serra Leoa (Hains, 2005), não foram encontrados na literatura trabalhos que descrevessem a gênese e evolução de lateritas aluminosas a partir de tal rocha, tornando este estudo pioneiro e de grande interesse científico e econômico. São reconhecidos depósitos bauxíticos originados de rochas semelhantes, como sienitos em Loos Islands (Guinea), Poços de Caldas e Passa Quatro (Brasil) e Arkansas (EUA). Há também estudos sobre o intemperismo de anortositos que deram origem a depósitos argilosos, principalmente cauliníticos, tais como em Malawi (Ministério de Minas e Energia de Malawi, 2009) e no estado do Rio Grande do Sul, Brasil (Formoso & Pintaude, 1978; Schenato & Formoso, 1993).

1.2- OBJETIVOS

O trabalho teve como objetivo geral caracterizar o depósito de bauxita da região de Barro Alto (GO) através do estudo da sua formação e evolução. A especificidade deste estudo residiu em:

- Realizar a caracterização geral da área, incluindo a descrição macromorfológica das fácies de alteração e de sua distribuição na paisagem, buscando apontar as implicações geomorfológicas e paleogeográficas da presença da bauxita no Complexo Máfico-Ultramáfico Acamadado de Barro Alto;

- Compreender a gênese da bauxita de Barro Alto, sobretudo face às transformações mineralógicas, geoquímicas e morfológicas (macro e micro) presentes no processo de bauxitização dos anortositos; - Compreender a evolução da bauxita de Barro Alto a partir da identificação e caracterização

Contribuições às Ciências da Terra – Série D, vol. 27, 149p.,2011

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mineralógica, geoquímica e micromorfológica das suas diferentes fácies de alteração, estabelecendo a relação genética entre elas;

- Identificar e caracterizar os processos de degradação geoquímica da bauxita de Barro Alto, com destaque para a formação de produtos argilosos;

- Compreender a influência do meio biótico na evolução da bauxita de Barro Alto, sobretudo em relação às transformações mineralógicas e texturais envolvidas.

1.3- HIPÓTESES

Este trabalho buscou testar as seguintes hipóteses:

- A bauxita de Barro Alto é o produto da alteração hidrolítica dos anortositos submetidos a condições de umidade bastante elevadas, possivelmente verificadas durante o Eoceno e/ou Mioceno, períodos em que é datada a maioria das bauxitas no mundo. Na sua formação, minerais primários como os plagioclásios, muito abundantes em anortositos, foram transformados em formas minerais secundárias como a gibbsita, e os minerais máficos em óxidos e/ou hidróxidos de ferro.

- Após ser formada, a bauxita de Barro Alto passou por diferentes contextos pedobioclimáticos responsáveis por sua evolução. Como resultado, formaram-se diferentes fácies de alteração representadas por variações texturais e morfológicas, tais como as fácies de acumulação de alumínio remobilizado pela circulação da água nos perfis em regimes climáticos mais úmidos e as fácies de bauxitas transportadas e depositadas em pedimentos, características de períodos mais secos.

- A evolução da paisagem esteve intimamente relacionada à evolução das fácies de alteração da bauxita, acrescido de outros fatores, tal como tectônica. A resistência mecânica da couraça bauxítica dificultou a atuação dos processos de dissecação, possibilitando que a área bauxitizada se transformasse no topo da paisagem.

1.4- LOCALIZAÇÃO E ACESSO À ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está localizada na parte central do estado de Goiás. Trata-se de um maciço bauxítico próximo ao distrito de Souzalândia, entre os municípios de Barro Alto e Santa Rita do Novo Destino. O maciço é compartimentado em dois morros, intitulados Morro da Torre (nomenclatura local) e Morro do Buraco, conforme levantamento topográfico do Ministério da Defesa (Folha Goianésia – SD-22-

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Z-D-I). As referidas elevações apresentam topos com altitudes aproximadas, respectivamente, de 1500 e 1300 m; bastante contrastante com o entorno, no qual as cotas variam entre 550 e 900 m.

O acesso à área a partir de Goiânia é feito pela rodovia BR-060 até a cidade de Anápolis, a partir de onde se deve seguir pela BR-153 até Jaraguá. Em Jaraguá segue-se pela rodovia GO-080 até o Distrito de Souzalândia. O percurso total é de 205 km. A partir de Souzalândia, percorrem-se mais 13 km por asfalto e 4 km em estrada não pavimentada, até estrada secundária que dá acesso às torres de telecomunicações existentes no Morro da Torre.

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