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1 INTRODUÇÃO 27 2 REVISÃO DE LITERATURA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Todos os 25 componentes da equipe de SST foram convidados a participar do estudo. No entanto, por questões logísticas – alguns trabalham em municípios distantes do local de desenvolvimento do estudo; alguns atuavam em turnos diferenciados; férias; alguns já estavam envolvidos em outros projetos – apenas 12 aceitaram e conseguiram participar. Ainda assim, nem todos os 12 participantes puderam estar presentes em todos os momentos, apesar dos esforços para tal, conforme elucidado na Tabela 2.

Tabela 2 - Demonstrativo no número de participantes por encontro Os encontros realizados eram dinâmicos no sentido de que aceitavam novos participantes em cada momento, mesmo que esses tivessem deixado de participar de uma ou mais atividades anteriores. Para Freire (1993), a participação voluntária exercida enquanto um direito e não um dever é intrínseca a prática educativa problematizadora, e exprime a vontade do participante em ter voz, em se posicionar, em refletir, e isso pode ocorrer em qualquer etapa do processo educativo. Então, eram sempre bem vindos novos participantes no bojo das discussões do dia.

Como pode ser observado no Quadro 1 essa entrada de participantes em encontros sem que tivessem participado de um ou mais encontros anteriores ocorreu com 07 dos 12 participantes, tendo apenas 04 deles participado na íntegra de todos os encontros. O ocorrido não impediu a realização, bem como não interferiu na qualidade do resultado, haja vista que ao início de cada momento a facilitadora resgatava com o grupo todas as atividades feitas até ali, inclusive levando os materiais produzidos pelo próprio grupo ao longo dos encontros.

Os encontros foram planejados para seguirem as etapas do Método do Arco de Maguerez. Como a proposta metodológica proposta era a mesma utilizada pela Educação Corporativa da empresa onde atua, o grupo já estava familiarizado com essas etapas. Porém, ainda havia certa desconfiança por parte de alguns participantes de que essa forma de método poderia de fato dar resultados aplicáveis à prática, transformadora da realidade, provavelmente pelo fato de estarem por anos recebendo treinamentos e cursos bancários, e que de certa forma conseguiam responder as necessidades até o presente momento.

Essa resistência pode ser vista como uma acomodação, uma desistência da vontade de mudar, representativa de conseqüências de uma experiência de educação opressora, impositiva, que acomoda os participantes naquela condição de se adaptar ao sistema e não vislumbrarem mudanças. Assim, coube a facilitadora o tácito desafio de cumprir bem com o seu papel, no sentido de ajudar o grupo a perceber que o método pode ser utilizado para abrir espaço para o diálogo, para a troca de conhecimentos, para a valorização dos profissionais da equipe e para mudanças significativas na realidade encontrada (FREIRE, 2000; 2002).

Dessa forma, em meio a leituras acerca do assunto, optou-se por utilizar um pouco do lúdico em alguns momentos com objetivo de quebrar o gelo, promover o diálogo e facilitar o processo de coleta de informações. Freire já utilizava ferramentas de incentivo aos educandos para realizarem atividades de preparo do próprio material de estudo, que tem um cunho voltado ao universo vocabular e contextualizado do grupo e foge de materiais pré-concebidos (BRANDÃO, 2008).

Desde a primeira conversa, quando houve o convite inicial e a apresentação da pesquisa, carinhosamente o grupo passou a chamar as reuniões de ‘encontros’, e dessa forma, por ser um nome dado tão naturalmente pelos próprios participantes, o mesmo foi oficializado para cada reunião de coleta de dados: Encontro!

Apesar de o grupo já se conhecer por trabalharem juntos ficou muito claro no Primeiro Encontro que havia um clima de ‘estamos em

momento de coleta de dados’ e ‘estamos sendo gravados’ e o uso do lúdico ajudou a mudar um pouco o foco desses pensamentos e voltá-los para os assuntos a serem discutidos. Na medida em que as conversas seguiam, bem como nos encontros seguintes, já foi possível perceber uma fluidez nos diálogos, uma verdadeira e franca problematização dos temas e a forte troca de idéias, o que posteriormente foi avaliado pelos próprios participantes como uma rica experiência que a pesquisa lhes conferiu: melhorar as relações entre o próprio grupo por meio do diálogo.

Para Paulo Freire, o diálogo é a fonte da democracia, gera a curiosidade, a crítica e transforma as pessoas. É possibilitado por uma relação horizontal que permite a abertura aos outros no momento em que comunica. Engajada com o conflito é ferramenta que propicia aos educandos expressarem sua ótica da realidade, e ao dizê-la refletem e constróem novos saberes, superando as condições em que se encontravam anteriormente (FREIRE, 1999; 2002).

Na medida em que os Encontros ocorriam foi possível compreender que as etapas do Método do Arco são tão dinâmicas quanto a própria formação da idéia/pensamento que surge nas conversas, o que foi uma surpresa para a facilitadora. Inicialmente, de modo ingênuo, imaginava-se a sistematização do método parte por parte, como momentos estanques e quase descolados, apesar da continuidade esperada no fluxo de informações. Essa representação ficou muito clara desde o primeiro Encontro, pois na medida em que o grupo dialogava, lia, discutia, já aconteciam concomitantemente todas as etapas, em todos os encontros. Assim, a Observação da Realidade e o Levantamento de Pontos-chave acontecia em todos os momentos de discussão, ao mesmo tempo em que a Teorização e as Hipótese de Solução também aconteciam paralelamente.

O tema proposto para a ação de educação problematizadora – a NR-35 - provocou insegurança na facilitadora por se tratar de uma norma, de uma legislação, que se apresenta com alto grau de rigidez e com um ar de ‘faça-se cumprir!’. No entanto, acabou sendo um tema instigante, motivador, revelador de uma peculiaridade fortemente relacionada ao trabalho da equipe de SST e que provocou a reflexão acerca de tantas outras demandas e necessidades da equipe a serem discutidas e transformadas.

No entender de Freire (1921), existem sempre dois contextos inseparáveis: a ação e a reflexão. O ato de os participantes refletirem sobre a realidade em que estão inseridos leva a uma intencionalidade de projetarem ações para transformar essa mesma realidade, e atuarem

sobre ela. Esta reflexão-ação exercida pelos participantes é entendida como práxis. Como explica Rossato (2008, p.331), “práxis (...) é a relação que se estabelece entre um modo de interpretar a realidade vivida e a consequente prática que decorre desta compreensão levando a uma ação transformadora”.

Enquanto enfermeira do trabalho da equipe de SST e facilitadora do processo de construção manifestou-se o interesse genuíno em estimular o diálogo e a transformação coletiva ao longo das etapas previstas no Arco de Maguerez. Por conhecer a equipe e ser integrante da mesma, a tentativa foi a de potencializar e enriquecer as discussões, fortalecendo o diálogo, tentando horizontalizar e valorizar as opiniões, conduzindo as atividades conforme a fluidez das discussões, percebendo a dinâmica de construção do grupo e respeitando o seu tempo.