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3. A tentativa de incorporar os Direitos Humanos nas políticas empresariais

3.1 O problema da vinculação dos Direitos Humanos às empresas

3.2.1 Considerações introdutórias

As fontes da RSE são principalmente os textos de Direito Internacional Público, emanados de organizações internacionais e organizações não governamentais, códigos de conduta de determinadas empresas e ainda a legislação nacional de cada Estado. O primeiro instrumento internacional, que vem especificamente debruçar-se sobre a internacionalização e respeito pelos Direitos Humanos, é a Carta das Nações Unidas.89 Com o decorrer dos anos, e inspirados neste documento, vão surgindo outros instrumentos específicos para a responsabilidade social das empresas, uns mais focados no ambiente e outros focados nos direitos dos colaboradores. A ONU tentou, pela primeira vez, na década de 70, criar regras vinculativas que regulassem as operações das organizações no que diz respeito aos Direitos Humanos, através da criação de um Grupo de Trabalho Intergovernamental das Nações Unidas sobre Códigos de Conduta90. Como era de esperar, o seu carácter vinculativo fez com que apenas alguns Estados estivessem dispostos a aceitar este documento. Contudo, a importância atribuída à promoção e respeito dos Direitos Humanos por parte das empresas é cada vez maior, fazendo com que certos organismos se debrucem sobre esta temática, através da criação de instrumentos que ajudem as empresas a desenvolver o seu negócio de forma a prejudicarem, o mínimo possível, o ambiente que os rodeia e a violação de Direitos Humanos. Pela sua complexidade, começou a haver a necessidade por parte das organizações empresariais de escrever, ou positivar, os seus códigos de conduta devido à necessidade de contacto com os seus fornecedores espalhados por todo o mundo, de forma a transmitir os princípios de determinada organização91 e de forma a responder aos desafios nascidos da globalização. Na hora de criar códigos de conduta é importante a presença de todos os stakeholders, assumir compromissos, estabelecer objectivos e

89 GUERRA MARTINS, Direito Internacional… cit., p.100.

90 John Gerard RUGGIE, “Business and Human Rights: The Evolving International Agenda”, The

American Journal of International Law, vol. 1, Nº4, 2007, p.819. Disponível em http://www.jstor.org/stable/40006320.

91 Rosa SATORRAS, Responsabilidad Social Corporativa – La nueva conciencia de las empresas y

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mecanismos de acompanhamento e avaliação para posteriores melhoramentos, através da instauração de um sistema de responsabilização.92 Ao analisar artigos escritos na década de 90, podemos identificar já alguns passos dados por algumas empresas na criação e adopção de códigos de conduta. A empresa Levi Strauss & CO, conhecida pelas suas calças de ganga, foi a primeira empresa no mundo a incorporar um código de conduta na sua organização com o objectivo de "select partners whose practices are compatible with our aspirational and ethics values" mas também para "protect the company's valuable brand image".93 Não só a Levi Strauss & CO94 se começou a preocupar com as questões da reputação mas também empresas como a Wal-Mart, Timberland, Reebok e Starbucks começaram a tomar medidas internas e também aplicáveis aos seus fornecedores.95

As organizações percebem a necessidade de criar códigos de conduta que as guiem, e que, apesar de não serem juridicamente vinculativos, são compromissos vinculativos para as sociedades onde têm impacto directo.96 É importante perceber que, pela falta de consenso, dificilmente se criará um documento vinculativo sobre esta temática. Contudo, tal como outros documentos de Direitos Humanos começaram por ser declarações, princípios ou recomendações, é necessário a criação de instrumentos de soft law para se obter conclusões e, mais tarde, servirem como base para elaboração de documentos vinculativos.97

92 COMISSÃO EUROPEIA, Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu … cit., p.12.

93 Lance COMPA, Tashia DARRICARRERE, "Enforcing International Labor Rights through Corporate

Codes of Conduct", Cornell University Digital Commons, 1995, p. 676. Disponível em: https://digitalcommons.ilr.cornell.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://www.google.pt/&httpsredir=1 &article=1178&context=articles

94 Em 1991 a Levi Strauss criou um grupo de trabalho para preparar a redação deste código de conduta e o

mesmo foi aprovado em 1992. Inspirada na DUDH, e em outros documentos internacionais, o código de conduta divide-se em duas partes. A primeira sobre direitos ambientais, éticos, saúde, segurança e direitos laborais. O segundo, mais direccionado para os seus fornecedores, continha uma lista de parâmetros/práticas que os seus fornecedores deveriam cumprir ou aceitar para continuarem a ser seus parceiros. Uma dessas práticas inovadoras para a altura era a possibilidade de auditorias surpresa. Caso se concluísse que essas empresas não cumpriam os seus requisitos e filosofia empresarial, a Levi Strauss & CO tinha o direito de “withdraw production from that factory or require that a contractor implement a corrective action plan”. Para perceber melhor este código de conduta, COMPA, DARRICARRERE, "Enforcing International Labor Rights…” cit., pp.677-679; e NEHME, WEE, “Tracing the Historical Development …” cit., p.143. Depois de aplicado o seu código de conduta, a Levi Strauss terminou contractos com 30 dos seus fornecedores e forçou mais de 100 fornecedores a reverem ou mudarem algumas práticas laborais sob pena de terminar os seus contractos. Sobre este código de conduta, consultar: Levi Strauss, “Levi Strauss & Co. Code of Conduct”, Human Rights Library, University of Minnesota, Disponível em: http://hrlibrary.umn.edu/links/levicode.html.

95 COMPA, DARRICARRERE, "Enforcing International Labor Rights…” cit., p.686. 96 DICKERSON, “Best Practices” cit., p.3.

97 David WEISSBRODT, Muria KRUGER, “Norms on the Responsibilities of Transnational Corporations

and Other Business Enterprises with Regard to Human Rights”, The American Journal of International Law, vol. 97, Nº4, 2003, p.914. Disponível em http://www.jstor.org/stable/3133689

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