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3. A tentativa de incorporar os Direitos Humanos nas políticas empresariais

3.1 O problema da vinculação dos Direitos Humanos às empresas

3.2.2 A nível global

3.2.2.2 Organização Internacional do Trabalho:

3.2.2.2.1 Declaração Tripartida de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social de 1997 (revista em 2017)

A declaração foi inicialmente aprovada em 1977 e emendada em 2006, 2010 e 2017, sendo que será esta última versão a que utilizaremos para análise, tendo em conta novas declarações e directrizes criadas por outros organismos e tendo em conta os últimos documentos da ONU do qual foram alvo de análise para a actualização deste documento.

145 O relatório pode ser consultado na íntegra no sítio electrónico da ONU. Contém 31 princípios e 31

comentários ou orientações de como melhor implementar cada princípio. Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Guiding principles on Human Rights – Implementing the United Nations “Protect, Respect and Remedy” Framework, Documento A/HRC/17/31, 2011, Disponível em: https://www.ohchr.org/Documents/Publications/GuidingPrinciplesBusinessHR_EN.pdf.

146 Nicole TUTTLE, “Human Rights Council Resolutions 26/9 and 26/22: Towards Corporate

Accountability?”, The American Journal of International Law, vol. 19, Nº20, 2015. Disponível em: https://www.asil.org/insights/volume/19/issue/20/human-rights-council-resolutions-269-and-2622- towards-corporate.

147 Christiana OCHOA, “The 2008 Ruggie Report: A Framework for Business and Human Rights”, The

American Journal of International Law, vol. 12, Nº12, 2008. Disponível em: https://www.asil.org/insights/volume/12/issue/12/2008-ruggie-report-framework-business-and-human- rights.

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Tal como os outros documentos, também este tem como principais fontes a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e os seus Pactos Internacionais de 1966, bem como outras Convenções e Recomendações anteriores da própria organização.148

A Declaração Tripartida de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social (Tripartite Declaration of Principles concerning Multinational Enterprises and Social Policy) da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é constituída por um conjunto de artigos de cariz mais social que, como consta no seu preâmbulo, são apenas directrizes estipuladas pela OIT no que diz respeito às áreas do emprego, formação, condições de vida/trabalho e relações empresariais. Estas directrizes, que têm como objectivo principal optimizar as contribuições positivas que estas organizações podem ter no desenvolvimento económico e social149, são oferecidas às empresas, governos e associações de trabalhadores. Não constituem qualquer valor vinculativo e servem como suporte para a implementação e melhoramento de políticas laborais inclusivas permitindo um ambiente de trabalho digno e inclusivo (People), crescimento económico (Profit) e um desenvolvimento sustentável (Planet).

O documento está dividido e focado em quatro áreas (de trabalho da própria organização). A primeira, sobre políticas de emprego, salienta a ideia de que, relativamente ao trabalho forçado, os Governos “should provide guidance and support to employers and enterprises to take effective measures to identify, prevent, mitigate and account”150. O segundo ponto, relativo à formação, vem incidir na necessidade de ser oferecida formação a todos os colaboradores relativamente às questões da sustentabilidade e, neste caso por serem empresas multinacionais, questões culturais. Mas também para dar a conhecer a política da empresa e, para os colaboradores estrangeiros, a legislação nacional vigente.151 O terceiro foco tem que ver com as condições de

148 Ver anexo I para consultar as Convenções e Recomendações específicas que influenciaram este

documento. São vários os temas abrangidos nestes documentos e de várias datas, datando o mais antigo, a título de exemplo, de 1930, sobre trabalho forçado. Organização Internacional do Trabalho, Tripartite Declaration of Principles concerning Multinational Enterprises and Social Policy, 2017. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_emp/---emp_ent/---

multi/documents/publication/wcms_094386.pdf

149 Kim KERCHER, “Corporate Social Responsibility: Impact of globalisation and international business”,

Corporate Governance eJournal, Bond University, 2007, p.9. Disponível em: https://epublications.bond.edu.au/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=cgej.

150 Organização Internacional do Trabalho, Tripartite Declaration … cit. Parágrafo 24.

151 Não obstante o documento parecer, à priori, direccionado apenas para empresas multinacionais, as

recomendações criadas por este documento são transversais à importância ou tamanho de qualquer organização, podendo ser incorporada ou ajustada a pequenas e médias empresas ou empresas que operem num só país, ou ainda servir de base para a redacção de códigos de conduta, como muitas vezes o foi. Esta ideia é também salvaguardada em alguns parágrafos do documento. A título de exemplo, parágrafo quatro

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trabalho. Por um lado, as empresas têm de garantir condições de trabalho dignas e salários justos. Do outro lado, os Governos devem garantir que, por exemplo, os edifícios cumpram os requisitos mínimos de segurança e assegurar que existem leis que garantem igualdade entre homens e mulheres. O quarto e último ponto foca-se nas relações industriais/trabalho e defende, acima de tudo, a liberdade sindical dos seus colaboradores e o direito de negociação e de se associarem aos sindicatos que melhor lhes convenha. Exorta ainda os governos dos locais onde as organizações estão sediadas a fomentarem e incentivarem a criação destes sindicatos ou associações. Às empresas e aos governos, é ainda incentivada a criação de mecanismos de queixa/reclamações e a criação de mecanismos de prevenção e conciliação de forma a prevenir conflitos laborais.

Ainda em 1998, a OIT emitiu a “Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre os Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho” que tinha como objectivo estimular os esforços desenvolvidos pelos seus Membros, com o objectivo de promover os princípios e Direitos Fundamentais consagrados. Esta declaração vem relembrar que, como membro da OIT, os Estados têm que ratificar as Convenções da mesma organização e cumprir os seus preceitos. Relembra também os princípios relativos aos Direitos Fundamentais que regem a OIT tais como: a liberdade sindical e o reconhecimento efectivo do direito de negociação colectiva; a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; a abolição efectiva do trabalho infantil; e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação.152