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3. A tentativa de incorporar os Direitos Humanos nas políticas empresariais

3.1 O problema da vinculação dos Direitos Humanos às empresas

3.2.2 A nível global

3.2.2.3. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

3.2.2.3.1 Directrizes da OCDE para as Empresas Multinacionais de 1976 (revistas em 2011)

Com o exemplo da primeira tentativa da ONU falhada, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) delineou um conjunto de normas que serviriam de guia para as organizações. Estes princípios de conduta empresarial responsável são de adesão voluntária para as empresas153, mas de promoção obrigatória

(4º) menciona que este documento serve como guia para “governments, employers’ and workers’ organizations of home and host countries and multinational enterprises” ou ainda no parágrafo cinco (5º) “They reflect good practice for all. Multinational and national enterprises”.

152 Organização Internacional do Trabalho, Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre

os Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho, 1998, parágrafo 2. Disponível em: https://www.ilo.org/public/english/standards/declaration/declaration_portuguese.pdf.

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para os Governos que fazem parte desta organização.154 Este documento é na verdade um anexo da Declaração da OCDE sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacionais mas, tendo em conta a conjuntura internacional vivida, urgiu a necessidade da sua criação de forma a “melhorar o clima do investimento estrangeiro e aumentar a contribuição (…) para o desenvolvimento sustentável”.155 Ao ser aprovado por 42 Estados, membros e não membros da OCDE, representava, na altura, a fonte de quase 90% do investimento directo estrangeiro do mundo.156

Pese embora estas iniciativas não possuírem carácter vinculativo, este documento é o que mais se aproxima deste domínio no sentido em que estas são promovidas “de forma multilateral no plano intergovernamental”157 pois reúne sociedade civil, empresas e Governos. Por parte destes últimos, há compromisso em as subscreverem158 estando previstos mecanismos de suporte para a promoção e aplicação destes princípios. Estes mecanismos de acompanhamento são denominados de National Contact Point (NCP)159

e seriam estabelecidos quando um Governo aderisse a estes princípios, como forma de os promover e de forma a assegurar que as empresas saberiam como adoptar estes princípios nas suas empresas160, garantindo que estão em harmonia com a legislação do Estado onde operam161 de forma a promover um contributo positivo das empresas para o progresso social (People), económico (Profit) e ambiental (Planet). Os NCP fornecem também uma plataforma de mediação e conciliação para questões que possam surgir.

Este documento também se encontra dividido em duas partes: a primeira, são recomendações para uma conduta empresarial responsável, e a segunda, debruça-se sobre procedimentos para a implementação dessas mesmas recomendações. A primeira parte está dividida em oito temas: meio ambiente e a necessidade de o proteger, bem como a saúde pública e segurança; o combate à corrupção, suborno e extorsão com vista à obtenção ou conservação de negócios; interesses do consumidor não esquecendo que hoje

154 Leando TRIPODI, “Directrizes da OCDE para as empresas multinacionais: Governança Corporativa,

Soft Law e Direitos Humano”, Anuário Brasileiro de Direito Internacional, vol. 9, Nº1, 2014, p.77.

155 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, OECD Guidelines For Multinationals

Enterprises, 2011, Prefácio, p.13, parágrafo 1. Disponível em: http://www.oecd.org/corporate/mne/48004323.pdf.

156 KERCHER, “Corporate Social Responsibility …” cit., p.9. 157 TRIPODI, “Directrizes da OCDE…” cit., p.76.

158 COMISSÃO EUROPEIA, Livro Verde – Promover… cit., p.6.

159 Sobre estes Pontos de Contacto Nacionais, OCDE, OECD Guidelines … cit., pp.67,68, 71-74 e 78-88. 160 KERCHER, “Corporate Social Responsibility …” cit., p.9; e TRIPODI, “Directrizes da OCDE…” cit.,

p.82.

161 RODRIGUES e DUARTE, Responsabilidade social… cit., p.80; Prefácio, OCDE, OECD Guidelines…

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os consumidores são mais bem educados no geral e, por isso, as empresas, devem reger- se por práticas correctas no exercício das suas actividades comerciais, publicitárias e de comercialização162 não pondo de parte aqueles consumidores com características particulares (idosos, capacidade física)163 e não esquecendo a constante mudança que vivemos. No subcapítulo IX, sobre ciência e tecnologia, refere a importância desta última para melhorar o desempenho das empresas. Sobre a concorrência, no capítulo X, sublinha a importância das leis e regulamentos da concorrência “to the efficient operation of both domestic and international markets”164 proibindo acordos anticompetitivos ou ainda o da sua posição dominante num mercado específico. Por último, o subcapítulo XI sobre tributação, fomenta o cumprimento das obrigações tributárias165 e a cooperação entre as empresas e as autoridades fiscais para uma aplicação eficaz das leis.

De forma propositada, os subcapítulos IV e V foram deixados para o final por terem mais relevância para o presente trabalho. Como já foi referido anteriormente, algumas destas directrizes, normas ou códigos de conduta, são um aglomerado de várias outras normas de Convenções, Tratados ou documentos. O subcapítulo V, sobre Emprego e Relações do Trabalho, é um exemplo disso pois vem repercutir, no seu primeiro parágrafo, direitos já contidos na Declaração da OIT de 1998 como o direito à negociação colectiva ou a liberdade de associação. São também fontes deste documento a Convenção nº138 e a Recomendação nº146 de 1973 sobre a idade mínima de admissão ao emprego, a Convenção nº105 de 1957 sobre a eliminação de todas as formas de trabalho forçado e ainda as Convenções e Recomendações sobre o direito à não discriminação e o princípio de igualdade de oportunidades. Na alínea e) do primeiro parágrafo é visível a expressão “ou outro status”166 sem estar explícito o objectivo desta expressão. Contudo, consideramo-la positiva no sentido em que inclui, e não deixa nenhuma pessoa com determinada característica de parte, uma vez que podem ser aqui incluídas características pessoais como a idade, mulheres grávidas, pessoas com deficiências ou ainda pessoas com orientações sexuais distintas da norma.

162 OCDE, OECD Guidelines… cit., p.51.

163 OCDE, OECD Guidelines… cit., p.54, parágrafo 92. 164 OCDE, OECD Guidelines… cit., p.57, parágrafo 95. 165 OCDE, OECD Guidelines… cit., p.61, parágrafo 102.

166 “Be guided throughout their operations by the principle of equality of opportunity and treatment in

employment and not discriminate against their workers with respect to employment or occupation on such grounds as race, colour, sex, religion, political opinion, national extraction or social origin, or other status” OCDE, OECD Guidelines… cit., p.35.

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O IV subcapítulo é exclusivamente dedicado aos Direitos Humanos. É bastante pertinente mencionar esta ideia pois no documento original eram apenas mencionados direitos laborais, deixando de parte áreas como a dos Direitos Humanos. Contudo, este documento é revisto em 1979, 1982, 1984, 1991, 2000 e 2011. A revisão de 2011 aborda a questão dos Direitos Humanos, citando e recomendando a adopção dos direitos expressos em documentos importantes como a DUDH e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais167. Menciona ainda a importância da adopção dos Princípios Orientadores da ONU e incentiva a adopção de normas complementares expressas em outros instrumentos ou documentos da mesma organização sobre, a título de exemplo, o direito dos povos indígenas, minorias étnicas, religiosas ou ainda sobre trabalhadores migrantes.168 Por fim, exorta ainda as organizações a avaliar “actual and potential human rights impacts, integrating and acting upon the findings, tracking responses as well as communicating how impacts are addressed”169 através da adopção de políticas de due diligence.170