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3.2. Estratégia de pesquisa

3.2.2 Considerações outras sobre a amostra selecionada

De acordo com as definições de Massukado-Nakatani (2009), a pesquisa se valerá de amostra não probabilística selecionada por intencionalidade ou julgamento e, quanto à temporalidade do fenômeno: editais divulgados ao longo do ano de 2016, tendo 16 de outubro como data-limite para coleta e cumprimento do cronograma de pesquisa.

Ressalte-se que foram efetivados enquadramentos e recortes amostrais de cunho temporal e qualitativo, de modo a envolver tanto a relevância social dos atores analisados quanto a atualidade da amostra, conforme descrito a seguir:

a) Visando conferir atualidade ao estudo, serão considerados apenas concursos públicos federais cujos editais tenham sido lançados no ano de 2016 (de 1º de janeiro a 16 de outubro, data de corte da coleta para cumprimento do cronograma de pesquisa);

b) Apenas concursos federais (respaldo qualitativo da amostra); c) Concursos de Instituições Federais de Ensino Superior;

d) Somente editais que contenham vagas para médico e/ou auxiliar em administração constituem objeto do estudo. A escolha dos referidos cargos busca permitir melhor gestão do cronograma da presente pesquisa e prioriza a disparidade de atribuições e de níveis de complexidade dos mesmos, ensejando e reforçando aspectos comparativos entre ambas as funções e ressaltando a relevância social que ambas possuem.

A definição da amostra está fundamentada em outros aspectos aqui considerados importantes e/ou estratégicos e que qualificam o grupo selecionado, conforme aponta-se a seguir.

A grande maioria das IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) é dotada (em tese) de um nível de autonomia que muitos órgãos e entidades do poder público não têm. As universidades “gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial” (Art. 207 da Constituição Federal de 1988) – entendimento também presente na LDB (Lei no 9.394 – de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).

Também os Institutos Federais são portadores de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar (Art. 1º, parágrafo único, da Lei no 11.892, que instituiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica em todo o país).

As IFES possuem expertise para executar avaliações e processos seletivos. Aliás, antes do surgimento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), várias universidades passaram décadas elaborando o seu próprio concurso vestibular, um dos tantos motivos da experiência acumulada em avaliar pessoas.

Muita delas atuam como bancas examinadoras ou são detentoras de suas próprias bancas, formalmente estabelecidas e com forte atuação. Há universidades que são associadas a bancas e, em muitos casos, atuam inclusive conduzindo concursos de órgãos externos, como tribunais, prefeituras, ministérios e outros. Exemplos de bancas examinadoras nascidas ou mantidas totalmente ou parcialmente por universidades públicas federais: Cespe-UnB- Cebraspe, Cesgranrio, Funrio, NCE/Ufrj, NC/Ufpr, Cefet Minas, Coseac/UFF, Ceps/Ufpa, Comperve/Ufrn e várias outras (PCI, 2016).

Fornecem também significativa parte dos membros de bancas examinadoras ou organizadoras do mercado privado (especialmente para elaboração e correção de questões de provas), sem falar em atividades de consultoria, projetos, convênios, parcerias e o universo de publicações de toda sorte em diversas áreas de conhecimento.

São instituições com significativa parte do corpo docente e técnico qualificado para elaboração e aplicação de provas de diversas naturezas (práticas, físicas, teóricas, simulações, discursivas, didáticas, objetivas, laboratoriais e outras). Atuam em segmento sensível às diversas competências necessárias às atribuições de vários cargos, já que são formadoras de profissionais em múltiplos campos de atuação mercadológica e acadêmica.

As IFES são formadoras e fornecedoras de mão de obra qualificada (inclusive em atividades de alta complexidade) para o mercado de trabalho em geral e concentram, por exemplo, ampla maioria da oferta de cursos de doutorado em todas as áreas de conhecimento no país.

Muitas delas possuem todos os níveis de escolaridade: do ensino fundamental, nas escolas de aplicação e colégios universitários das próprias IFES, ao pós-doutorado, passando por nível médio, médio técnico, graduação e pós-graduação lato e stricto sensu.

As universidades federais proporcionam amplitude do raio de atuação, especialmente no caso dos médicos (um dos cargos desta amostra), que podem participar de atividades acadêmicas e podem eventualmente vir a atuar em docência, para além das atividades inerentes ao cargo, o que difere muito da realidade e das possibilidades da grande maioria dos hospitais brasileiros, públicos ou privados.

As universidades e especialmente os institutos federais possuem capilaridade, com presença em todos os Estados da Federação, das capitais a dezenas de cidades de pequeno porte no interior, possibilitando uma análise ao mesmo tempo regional e nacional das práticas recorrentes de seleção em todo o território.

Também há a condição menos disfuncional dos certames federais em comparação a boa parte dos processos seletivos estaduais e municipais, conforme apontado por Coelho (2015). Em diapasão semelhante, afirma Lustosa da Costa (2011):

Para os estados, apesar de alguns avanços em anos mais recentes, a política de ajuste fiscal paralisou, durante muito tempo, a realização de concursos públicos. O quadro do funcionalismo dos estados ficou congelado, proliferaram os terceirizados, os efetivos envelheceram e o recrutamento de funcionários passou a ser feito de diversas maneiras. Nos últimos oito anos, os governos estaduais voltaram a fazer concursos regularmente e começaram a promover a profissionalização, com carreiras organizadas para o fisco, para a gestão pública, o magistério etc. Nos municípios, contudo, a situação é bem mais grave. Durante muitos anos, passaram por esse mesmo processo de crise, sem recrutar ninguém por meio de concurso. Ainda hoje a situação é muito difícil. O número de cargos em comissão é bastante elevado e, salvo raras exceções, não há percentual mínimo para preenchimento por parte de servidores efetivos. (p. 111-112)

Importa dizer que parte significativa do cenário descrito supra adveio em conjunto, em decorrência ou a despeito do movimento da Nova Gestão Pública, o que aponta de uma forma ou de outra para contradições, disfunções e/ou certa margem de ineficiência da New Public

Management em terras brasileiras (a mesma que pretendia fazer da eficiência um bastião do

serviço público).

Ainda sobre eficiência, um dos grandes indicadores adotados têm sido os rankings e métricas afins. Independentemente dos questionamentos que ocorrem em torno de tais métricas, optou-se por citá-las como forma mais objetiva de análise e comparação entre as instituições da amostra, o que não esgota (pelo contrário) os debates sobre qualidade, produtivismo, eficiência, metodologia, desempenho e assemelhados – das instituições e dos próprios rankings.

Aqui, para efeito de ilustração, serão apresentados dados de quatro rankings: o primeiro é o IGC (Índice Geral de Cursos) do MEC, que avalia indicadores de qualidade de milhares de instituições de ensino superior do Brasil (faculdades, centros universitários e universidades). A nota varia de 1 a 5 e compõe um ranking do MEC (UOL, 2015). Na versão mais atual (publicada em 18 de dezembro de 2015), apenas 12 universidades (todas públicas) atingiram a nota máxima. Destas, 11 eram federais: UFRGS, Unila, UFMG, Unifesp, UFSC,

UFRJ, UFV, UFABC, UFLA, UnB e UFSCar. Das 11, apenas duas (Unila e UFABC) não constam da amostra desta pesquisa.

O segundo dado provém de outro estudo doméstico: o Ranking Universitário da Folha (RUF, 2016), divulgado pelo jornal Folha de São Paulo em 19 de setembro de 2016, e que mapeou 195 universidades brasileiras (públicas e privadas). As três federais (UFRJ, UFMG e UFRGS) melhor posicionadas (estão entre as cinco primeiras no RUF), estão na amostra, inclusive a primeira colocada nacional que, segundo o RUF, é a UFRJ.

O terceiro é o ranking internacional Times Higher Education (THE) Latin America de 2016 – um dos principais do mundo – que divulgou que o Brasil possui 23 das 50 melhores universidades da América Latina. Na THE, a USP (universidade pública estadual) é a líder do bloco latino-americano. Entre as 15 melhores na THE, estão algumas federais brasileiras: UFRJ (5º), UFMG (7º) e UFSC (12º) – todas presentes na amostra. Entre a 16ª e a 50ª posição na América Latina, há outras nove federais: UFV, UFABC, UFPE, UFLA, UFG, UFF, UFPR, UFRN e UFOP. Das nove, apenas duas (UFABC e UFRN) não figuram na amostra.

O quarto dado é o ranking global da THE 2016-2017 (World University Rankings), divulgado em 21 de setembro de 2016. Ele aponta as 980 melhores universidades do mundo, após analisar instituições de 79 países. A publicação original (em inglês) sintetiza: “This

year’s rankinkg, which includes institutions from 79 countries, represents an elite 5 per cent of the world’s higher education institutions” – ou seja, a THE afirma ter selecionado em 79

países as instituições que representam aqueles 5% que formam a elite do ensino superior mundial.

Na THE global figuram 27 universidades brasileiras (18 delas, federais) entre as 980 melhores do mundo. São divulgadas as posições específicas das 200 primeiras colocadas, de modo que as demais aparecem em blocos de 50 ou mais. Para a THE, a USP é a brasileira melhor colocada no mundo (entre 251ª a 300ª posição).

Entre 300 e 500 posições depois, aparecem as primeiras instituições federais brasileiras: UFABC, UFMG, UFPR, UFRJ, UFRGS, UFSC e Unifesp (601-800). As demais são: Ufba, UFC, UFG, Ufop, UFPE, UFRN, UFSM, UFSCar, Ufla, UFV e UFF (801-980). Das 18 federais brasileiras entre as 980 melhores universidades do mundo, apenas três (UFABC, UFRN e UFC) não constam da amostra deste estudo.

Ressalte-se que os rankings citados e suas eventuais vinculações aos resultados da pesquisa não serão objeto de análise. Eles constituem apenas um dado de referência quantitativa e qualitativa acerca das instituições estudadas.